O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que, caso seja reeleito, manterá o Auxílio Brasil de R$ 600 em 2023, bancado pela venda de estatais, mas não mencionou quais seriam. A declaração ocorreu em coletiva, após a participação dele na sabatina organizada pelo Instituto União Nacional de Entidades do Comércio e Serviços (Unecs) com candidatos ao Planalto.
"A LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) é algo fixo? Não dá para mudar? Nós temos programa de, ao vender estatais, complementar isso aí. Vai conseguir vender. Vai ter R$ 600 no ano que vem", assegurou, ao ser questionado sobre o fato de a medida não estar prevista na LDO.
Durante a sabatina, Bolsonaro recuou da afirmação de que não tem fome no Brasil. Ele disse, no entanto, que o número de famintos é superfaturado. "Fala-se em fome no Brasil. Tem fome? Tem fome, mas não na proporção que dizem aí: 33 milhões. Parece o Lula falando, né: '25 milhões de crianças abandonadas no Brasil'", frisou, imitando o petista.
Ele citou uma pesquisa controversa apresentada pelo presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o economista Erik Alencar de Figueiredo, que sustenta que a fome não aumentou no atual governo. "Os dados do Ipea mostram que o Brasil tem reduzido o número de famílias que vivem na linha da miséria, enquanto isso, no mundo, tem aumentado."
O estudo contrasta com o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, elaborado pela Rede Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional) e executado pelo Instituto Vox Populi. O levantamento mostrou que 33 milhões de pessoas passam fome no Brasil atualmente, mais do que há 30 anos, em um retrocesso das políticas de proteção social. Além disso, conforme o levantamento, 125 milhões de pessoas não fazem as três refeições diárias.
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Imóveis
Bolsonaro também comentou a reportagem do Uol, veiculada ontem, segundo a qual, quase metade do patrimônio em imóveis do presidente e de familiares dele foi adquirida nas últimas três décadas com pagamento em espécie. Conforme o portal, desde os anos 1990 até os dias atuais, o chefe do Executivo, irmãos e filhos negociaram 107 imóveis, dos quais pelo menos 51 foram comprados total ou parcialmente com uso de dinheiro vivo. As compras foram registradas nos cartórios com o modo de pagamento "em moeda corrente nacional", expressão padronizada para repasses em espécie, totalizando R$ 13,5 milhões.
"Fiquei sabendo que um órgão de imprensa está fazendo levantamento de meus imóveis desde 1990, juntamente com a minha família. Inclusive, eu não converso com essa pessoa que fez essa matéria, mas um conversou. A minha mãe, que faleceu, está no processo: dona Olinda, com 94 anos de idade", afirmou. "Qual é o problema de comprar com dinheiro vivo os imóveis?"
O chefe do Executivo também rebateu relatório da Polícia Federal que aponta a interferência da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) numa investigação contra Jair Renan, um dos filhos dele. Integrante do órgão, flagrado em uma operação, disse ter sido instruído a levantar informações a respeito de um caso envolvendo Renan, sob apuração da PF. A informação foi dada pelo jornal O Globo. O objetivo da intervenção seria "prevenir riscos à imagem" de Bolsonaro.
A operação da Abin teria ocorrido quatro dias após o filho de Bolsonaro e seu personal trainer, Allan Lucena, se tornarem alvos de uma investigação policial, em 16 de março do ano passado.
"Investigue. Não compare meus filhos com os do Lula. Vocês passaram anos sem falar do filho do Lula. Qualquer filho tem de ser investigado. Agora, parem de massacrar", criticou Bolsonaro. "Não tenho influência sobre a Abin, ela faz seu trabalho", emendou.