O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT ao Planalto, admitiu a existência de corrupção na Petrobras quando esteve no governo, mas procurou demonstrar que as irregularidades só vieram à tona porque a gestão dele criou mecanismos de investigação de irregularidades. O petista também deu várias alfinetadas no presidente Jair Bolsonaro (PL), classificado por ele como "bobo da corte", por não ter mais o controle do Orçamento da União.
O primeiro tema abordado na entrevista ao Jornal Nacional foi o que mais preocupava a campanha de Lula: corrupção. O apresentador William Bonner destacou que o ex-presidente "não deve nada à Justiça", pois o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou os processos contra ele na Lava-Jato, mas ressaltou que "houve corrupção na Petrobras". Perguntou, então, o que o candidato fará para convencer os eleitores de que os escândalos não ocorrerão novamente, caso ele seja eleito.
"Foi no meu governo que a gente criou o Portal da Transparência, que a gente colocou a Controladoria-Geral da União (CGU) como ministro para fiscalizar, que a gente criou a Lei de Acesso à Informação, que a gente criou a Lei Anticorrupção, a lei contra o crime organizado, a lei contra a lavagem de dinheiro", elencou o presidenciável, justificando que, por haver mais mecanismos de apuração, os escândalos foram evidenciados.
O candidato aproveitou para criticar a Operação Lava-Jato — capitaneada pelo então juiz, Sergio Moro — pela qual foi preso, acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. "A Lava-Jato enveredou por um caminho político delicado, ultrapassou o limite da investigação e entrou no limite da política. E o objetivo era tentar condenar o Lula", frisou.
Bonner insistiu no questionamento sobre o petrolão, e o candidato admitiu que ocorreram desvios de recursos da estatal. "Você não pode dizer que não houve corrupção se as pessoas confessaram", admitiu.
Lula, porém, reprovou a forma como o Ministério Público Federal (MPF) lidou com os casos. "O que é mais grave é que as pessoas confessaram e, por isso, ficaram ricas. Ou seja, foi uma espécie de delação premiada: você não só ganhava liberdade por falar o que queria o Ministério Público como também ficava com parte do que você roubou. O roubo foi oficializado pelo Ministério Público, o que acho uma insanidade e uma aberração do país", enfatizou.
O presidenciável criticou novamente Bolsonaro ao comparar os governos dele. "Eu poderia fazer um decreto de 100 anos de sigilo, sabe o que tá na moda agora? Decreto para (Eduardo) Pazuello, meus filhos, decreto para os meus assessores, ou poderia não investigar. E nada vai ser apurado e não vai ter corrupção. A corrupção só aparece se você governa de forma republicana e permite a investigação, independentemente de quem seja", ressaltou.
O ex-presidente acusou Bolsonaro de interferir nos órgãos de controle para barrar investigações contra ele, filhos e aliados. "Eu poderia ter escolhido um procurador engavetador. Sabe aquele amigo que você escolhe, que nenhum processo vai para a frente? Eu poderia ter feito isso, não fiz. Eu escolhi da lista tríplice", afirmou, numa menção ao procurador-geral da República, Augusto Aras, considerado um aliado do governo Bolsonaro. "Eu poderia ter impedido que a Polícia Federal tivesse um delegado, que eu pudesse controlá-lo. Não fiz", acrescentou, em referência às sucessivas trocas no comando da corporação, feitas pelo atual chefe do Executivo.
Ao ser questionado sobre o que faria para evitar o uso de "uma moeda de troca", como o orçamento secreto, Lula afirmou que o esquema de negociação de emendas parlamentares para conseguir apoio é "uma usurpação do poder".
"Bolsonaro não cuida nem do Orçamento. Quem cuida é o Arthur Lira (presidente da Câmara). Tem que acabar com essa história de semipresidencialismo, semiparlamentarismo. Bolsonaro parece um bobo da corte. Vamos, sim, conversar com os parlamentares, mas não com essa relação."
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Dilma
Perguntado sobre as políticas econômicas do governo Dilma Rousseff, Lula admitiu que sua sucessora cometeu falhas. "Acho que a Dilma cometeu equívoco na gasolina, ela sabe que eu penso isso. Acho que cometeram equívoco na hora que fizeram R$ 540 bilhões de desoneração e isenção fiscal de 2011 a 2040, e acho que, quando ela tentou mudar, tinha uma dupla dinâmica contra ela: o Eduardo (Cunha) na Câmara e o Aécio (Neves) no Senado, que trabalharam o tempo inteiro para que ela não pudesse fazer nenhuma mudança", argumentou.
Ao defender seu projeto econômico, o ex-presidente ressaltou que o brasileiro precisa ter seu poder de compra reparado. "O povo tem que voltar a comer um churrasquinho, a comer uma picanha e tomar uma cervejinha", disse.
Lula afirmou que sua obsessão é voltar a governar o país. "Porque eu acho que é possível recuperar este país, a economia voltar a crescer, a gerar emprego. Vou voltar para provar que é possível fazer mais."