A mudança de postura do presidente Jair Bolsonaro (PL) em relação ao Centrão, grupo de siglas do Congresso Nacional que reúne grande capital político ante ao Executivo, foi questionada por William Bonner, durante a sabatina do Jornal Nacional desta segunda-feira (22/8). O chefe do Executivo era um crítico ferrenho do grupo durante as eleições de 2018 e, agora, tem os parlamentares desses partidos como base de governo.
"Em 2018, o senhor se apresentava como candidato da antipolítica e contra o Centrão. Hoje, na verdade é que o Centrão é a base do seu governo. Na semana passada, quando o senhor estava saindo do Palácio da Alvorada, enfrentou um acidente com o youtuber que foi cobrar do senhor essa aliança do seu governo com o Centrão. Por que que eleitores como aquele, que se sentem traídos pelo senhor, acreditariam nas suas promessas de agora?", questionou Bonner.
Em resposta, Bolsonaro afirma que Bonner está o estimulando a ser "um ditador". "Está me estimulando a ser ditador, porque o Centrão são mais de 300 parlamentares. Se eu deixar eles de lado, eu vou governar com o quê? São 513 deputados, do lado de lá, os 200 que sobram, pessoal do PT, PCdoB, Rede, não dá para conversar. Até porque eles não teriam número suficiente para aprovar sequer um projeto de lei comum", declara o presidente.
O presidente disse, ainda, que por meio do Centrão, benefícios têm sido aprovados, como o Auxílio Brasil e a redução do ICMS. Bonner questionou, então, em qual fala o eleitor pode levar a sério: nas que ele falava, em 2018, que não era do Centrão, ou na de agora, em que Bolsonaro afirma que é do grupo.
"Em 2018, o senhor chegou a dizer com propriedade que governos anteriores fizeram alianças com centrão, e criticou que fez nomeações do centrão. E terminou com ‘por isso não integro com centão’. Mas há dias, o senhor falou com naturalidade, eu sempre fui do centrão. Em nome da clareza, no que o eleitor deve que acreditar? O senhor sempre foi do Centrão ou o, como em 2018, o senhor disse 'eu não sou do Centrão por esse motivo'?", questionou o jornalista.
Em resposta, Bolsonaro desconversa. "No meu tempo não era Centrão. Não existia Centrão. No meu tempo esses partidos que eu já integrei não eram tidos como Centrão", disse. Em seguida, deixa a pergunta de lado e passa a afirmar que o governo dele não tem corrupção e que isso se deve a indicação de ministros com "critérios técnicos".
Saiba Mais
Bolsonaro é o primeiro convidado da série de entrevistas promovida pelo telejornal com os presidenciáveis com melhor desempenho na pesquisa Datafolha de 28 de julho. A ordem das sabatinas, que duram 40 minutos, foi estabelecida por meio de sorteio.
Depois de Bolsonaro, Ciro Gomes (PDT) será entrevistado na terça-feira (23/8); Lula (PT) na quinta (25/8), e Simone Tebet (MDB) na sexta (26/8). André Janones (Avante) seria o quinto candidato a participar da série, mas retirou a candidatura para apoiar Lula no primeiro turno.
Em 2018, Bolsonaro bateu boca com Renata Vasconcellos e atacou a Globo
Ainda como deputado federal e candidato à Presidência da República, Jair Bolsonaro, então do PSL, também participou da série de sabatinas referente às eleições de 2018. Na ocasião, enquanto estava frente a frente com William Bonner e Renata Vasconcellos, aproveitou os 27 minutos de entrevista para reforçar o discurso falado aos apoiadores.
O então parlamentar provocou a jornalista Renata Vasconcellos ao ser questionado por ele sobre o que faria para reduzir a desigualdade salarial entre homens e mulheres no país. “Eu estou vendo aqui uma senhora e um senhor, eu não sei ao certo, mas com toda certeza há uma diferença salarial aqui, parece que é muito maior para ele do que para a senhora. São cargos semelhantes, semelhantes, são iguais...", afirmou Bolsonaro.
Renata cortou a fala de Bolsonaro e disse que o salário dela não dizia respeito a ninguém e que não aceitaria receber um salário menor. Ainda na linha de ataques, Bolsonaro atribuiu ao adversário Fernando Haddad (PT) a criação de um kit gay — que nunca existiu — e mostrou, na entrevista, um exemplar da suposta cartilha. Ele foi repreendido pelos jornalistas, que afirmaram ter regras e que nenhum candidato poderia mostrar qualquer tipo de documento.
A Globo também não foi poupada de críticas. Ao falar sobre a escolha de um militar como vice, Hamilton Mourão, ele disse que Roberto Marinho, fundador da emissora, defendeu a ditadura militar.