Belo Horizonte — Candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva fez, ontem, em Belo Horizonte, seu primeiro grande ato de campanha. Em palanque montado na Praça da Estação, no centro da capital, ele discursou por cerca de 20 minutos e usou o tempo para afagar Alexandre Kalil (PSD), postulante ao governo mineiro com o apoio petista.
Lula aproveitou para criticar o presidente Jair Bolsonaro (PL) e prometeu conduzir o Brasil ao que chamou de "nova independência". A declaração se relaciona, ainda que indiretamente, ao desejo do atual chefe do Executivo de arquitetar movimentos populares de rua no próximo 7 de Setembro.
Kalil, por sua vez, afirmou que os adversários de Lula têm "medo" da possível volta do petista ao governo federal e criticou o governador Romeu Zema (Novo), seu rival no pleito estadual.
O ex-presidente recorreu a Tiradentes, mártir da Inconfidência Mineira, que morreu enforcado, para defender a "nova independência". "Se em 1792 eles esquartejaram, cortaram a carne, salgaram e penduraram em um poste para que nunca mais lembrasse de independência, quero que os esquartejadores saibam: estamos de volta para fazer uma nova independência neste país. Uma independência que garanta a dignidade, o respeito e a harmonia do nosso povo", disse.
Milhares de pessoas se aglomeraram para assistir ao comício. Por diversos momentos, Lula se recusou a citar Bolsonaro nominalmente. "Não estamos fazendo uma campanha normal. Não é uma campanha comum, um partido contra o outro, uma ideia contra a outra. O que está em jogo, neste instante, é a democracia contra o fascismo; a democracia ou a barbárie", ressaltou. "É heresia falar o nome de Deus em vão, como vem falando esse cidadão de quem não quero falar o nome. Esse cidadão está mais para fariseu do que para cristão. Ele não respeita ninguém. Não respeita mulher, não respeita negro. Não respeitou sequer as 680 mil vítimas da pandemia."
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Conserto
Segundo o petista, será preciso "consertar" o Brasil. Ele afirmou que sua ideia central é permitir que os pobres "voltem a comer, trabalhar e andar de avião". "Queremos que nossos meninos trabalhem e estudem. Não queremos que a mulher continue a ser tratada como objeto de cama e mesa. Queremos que a mulher seja objeto da história e possa fazer o que quiser. E, para isso, ela tem de ganhar o mesmo salário de um homem que faça a mesma função", pregou.
O petista chamou o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff de "golpe" e lembrou o tempo em que esteve detido em Curitiba. "Até já esqueci das mentiras que contaram contra mim e dos 580 dias que me trancaram na Polícia Federal para não ser eleito presidente em 2018", recordou, embora tenha garantido não nutrir "ódio" ou "raiva". "Se eu estivesse com o coração amargo, não seria candidato", argumentou.
O presidenciável subiu ao palco pouco antes das 19h de ontem. Ao lado dele, além da esposa, Rosângela da Silva, a "Janja", e de Kalil, estiveram diversos aliados mineiros, como o senador Alexandre Silveira (PSD), postulante à reeleição, e André Quintão (PT), candidato a vice-governador.
Embora não tenha discursado, o deputado federal André Janones (Avante), que abriu mão de disputar o Planalto para engrossar a chapa petista, foi definido pelo presidenciável como "a mais nova aquisição" de sua campanha. O vice de Lula, Geraldo Alckmin (PSB), também marcou presença.
No seu discurso, Kalil chamou Lula de "maior líder social" do Brasil e disse que "eles", sem citar quem, têm medo da vitória do ex-presidente.
"Eu não vou me alongar, todo mundo veio aqui para ouvir o maior líder social deste país. Todo mundo veio aqui porque, quando a senzala lê, a casa grande treme", ressaltou. "Eles estão com medo, porque o presidente vai colocá-lo (o povo) de novo no poder. Nós vamos mandar de novo neste país, nós vamos voltar a tomar conta deste país."