Em clima de campanha eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro (PL) contou que os impostos federais sobre os combustíveis continuarão zerados em 2023. Em encontro com prefeitos realizado na noite desta quarta-feira (17/8), em Brasília, o chefe do Executivo ainda acrescentou que está negociando com a equipe econômica para incluir o querosene de aviação na lista de isenção.
Tossindo muito e com voz rouca, Bolsonaro contou aos prefeitos da base aliada e que participaram de evento organizado pelo PL que a decisão foi tomada com a equipe da junta orçamentária, integrada pelo Ministério da Economia e pela Casa Civil, que está concluindo o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA), que precisa ser entregue pelo Executivo ao Congresso no fim deste mês.
“Garantimos para o ano que vem continuar com zero imposto federal na gasolina, no álcool, no diesel e no gás de cozinha. E pedi para ver se dá para zerar o querosene de aviação”, afirmou. Segundo ele, a medida seria importante para estimular o turismo interno uma vez que está difícil viajar para a Europa, em função da guerra na Ucrânia e dos incêndios.
O presidente reforçou a promessa de que pretende manter o Auxílio Brasil, programa que substituiu o Bolsa Família, em R$ 600 no ano que vem e tornar esse novo valor "definitivo", para isso, está negociando com o Congresso. "Tenho certeza que o Parlamento, mais uma vez, vai se fazer presente, com responsabilidade", afirmou.
Apesar de anunciar medidas populistas em plena campanha eleitoral, Bolsonaro reconheceu que, sem responsabilidade fiscal, a desconfiança aumenta, o dólar sobe e os preços também. "Ninguém quer inflação. Não queremos isso dessa forma. Estamos trabalhando, pensando no Mais Brasil, menos Brasília", afirmou, citando o lema da campanha de 2018, mas sem dizer como conseguirá recursos para pagar as promessas jogadas para a plateia de apoiadores.
Ironia à França
Bolsonaro até ironizou o fato de "o que restou" das florestas da Europa estarem “pegando fogo há 40 dias”. "Queria ver se fossem as florestas daqui queimando o que a França iria dizer", disse. “Hoje em dia, fazer turismo na Europa fica difícil. Lamentamos o incêndio lá associado às ondas de calor, que passa pela França, Espanha e Portugal”, acrescentou.
O presidente ainda afirmou que os países europeus estão com um problema sério do fantasma do desabastecimento. “E agora eles querem acelerar conosco o acordo com o Mercosul.O mundo sabe que, sem o Brasil eles passam fome”, afirmou.
Nesse sentido, o presidente buscou justificar a sua ida à Rússia às vésperas da invação da Ucrânia, a fim de, segundo ele, garantir o fornecimento de fertilizantes. Contudo, ele reconheceu a necessidade de busca de alternativas para garantir a autossuficiência nessa área. “E temos isso fora das reservas indígenas”, garantiu.
Durante o discurso, olhando constantemente para um papel dobrado, o presidente fez um balanço positivo do governo e da gestão durante a pandemia em 2020, com a criação de programas como de socorro financeiro como auxílio emergencial, Benefício Emergencial de Preservação do Emprego e da Renda (BEm) e o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe).
Ato falho
O presidente voltou a defender a questão das liberdades individuais e dos médicos poderem receitar o medicamento que quiserem, mas evitou citar a cloroquina, medicamento que foi reafirmado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como ineficaz no combate à covid-19. Ao falar sobre o assunto cometeu um ato falho ao tentar lamentar sobre as mais de 700 mil mortes pela pandemia.
"Muitas vidas (sic) seriam evitadas. Eu lamento uma pressão enorme em cima dos médicos sobre a sua liberdade para clinicar", disse.
Em relação às vacinas contra a covid-19, afirmou que o governo federal já comprou mais de 500 milhões de doses -- depois de ignorar ofertas de fabricantes no início da pandemia -- e ainda lamentou o fato de não ter a opção querer ou não comprar a vacina contra a varíola do macaco.
"Estou aguardando ver qual a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), mas eu tenho certeza que dessa vez essa responsabilidade seja devolvida ao presidente da República”, disse ele, após criticar o fato de um "partido de esquerda" ter entrado com uma ação no Supremo para obrigar o governo federal a comprar vacinas contra a varíola do macado.