A campanha para a eleição presidencial de 2022 começou oficialmente e segue em clima de grande polarização, com Jair Bolsonaro (PL) disputando a reeleição e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tentando retornar à Presidência da República para um terceiro mandato.
Mais distantes nas pesquisas de intenção de voto estão os candidatos que tentam emplacar como opção da terceira via: Ciro Gomes (PDT) e a senadora Simone Tebet (MDB).
Ainda estão registrados pela Justiça Eleitoral na disputa: Vera Lúcia (PSTU), Felipe d'Avila (Novo), Sofia Manzano (PCB), Roberto Jefferson (PTB), Leonardo Péricles (Unidade Popular), Eymael (DC) e Soraya Thronicke (União Brasil).
Pablo Marçal também está registrado, mas seu partido, o PROS aprovou a retirada de sua candidatura. Marçal diz que pretende recorrer da decisão na Justiça.
Entre os nomes que se retiraram da corrida presidencial estão:
- O deputado federal André Janones, que abriu mão da candidatura pelo Avante para apoiar Lula
- O ex-juiz Sergio Moro, que é candidato ao Senado pelo União Brasil no Paraná
- O ex-governador de SP João Doria, que anunciou sua saída da política institucional
- O deputado federal Luciano Bivar e presidente nacional do União Brasil, partido que terá a senadora Soraya Thronicke na disputa
- Cabo Daciolo, que é candidato ao Senado pelo PDT no Rio de Janeiro
A BBC News Brasil lista aqui os 12 nomes que estão na disputa pela Presidência.
Saiba Mais
Jair Bolsonaro (PL)
O presidente Jair Bolsonaro vai disputar a reeleição pelo Partido Liberal (PL), legenda de Valdemar Costa Neto, um dos condenados no escândalo do Mensalão. Atualmente ele tenta alavancar seus números nas pesquisas eleitorais.
Na pesquisa Ipec divulgada no dia de 15 de agosto, encomendada pela TV Globo, Bolsonaro ficou com 32% das intenções de voto.
No começo do ano, Bolsonaro enfrentava efeitos de uma avaliação negativa sobre sua condução do governo como a reação do governo à pandemia do coronavírus, os escândalos envolvendo seus filhos, especialmente em relação às chamadas "rachadinhas" e acusações relacionadas à compra de vacinas contra a covid-19.
Seu governo também foi atingido por suspeitas de irregularidades praticadas no Ministério da Educação. As suspeitas são de que pastores evangélicos estariam cobrando propina de prefeitos em troca da liberação de verbas do Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação (FNDE). O governo alega que determinou que o caso fosse investigado, mas o caso já levou à queda do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, que chegou a ser preso.
A crise econômica, com alta contínua da inflação, e o aumento da pobreza também podem significar desafios para a reeleição de Bolsonaro.
Por outro lado, o aumento do valor do Auxílio Brasil (antigo Bolsa Família) para R$ 600 pode ajudar a recuperar parte dos votos. Bolsonaro deu novo nome ao programa, em uma tentativa de imprimir marca própria na assistência social. O presidente também conta com uma base de eleitores fiéis dispostos a ir às ruas para defender suas posições, como ocorreu nos protestos de 7 de setembro do ano passado.
Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
O ex-presidente Lula aparece em primeiro lugar nas pesquisas de intenção de voto para presidente da República, com 44% das intenções de voto na pesquisa Ipec encomendada pela TV Globo - e 52% dos votos válidos.
Sua candidatura pelo PT à Presidência, que pareceu distante há alguns anos, ganhou força e se materializou desde que Lula teve sua condenação por corrupção anulada pelo Supremo Tribunal Federal (STF),
A pesquisa Ipec indica uma vantagem de 12 pontos de Lula sobre Bolsonaro, que é o segundo colocado.
Além disso, a rejeição do ex-presidente é menor do que a de Bolsonaro: 33% x 46%.
Uma das estratégias do PT para diminuir a resistência a Lula foi a indicação do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSB) como vice da chapa.
O principal obstáculo do ex-presidente é o antipetismo, que ainda deve ter peso na próxima disputa presidencial, com eleitores buscando alternativas em uma terceira via ou recorrendo a Bolsonaro para evitar uma vitória de Lula.
Ciro Gomes (PDT)
O PDT lançou a candidatura de Ciro Gomes no dia 21 de janeiro, em ato na sede do partido em Brasília. Será a quarta vez que Ciro Gomes concorre ao cargo. Em 2018, ficou em terceiro lugar no primeiro turno, com 12,5% dos votos.
Ele também concorreu à Presidência em 2002 e 1998. Candidato associado à esquerda ou centro-esquerda, Ciro Gomes tenta novamente despontar como alternativa a Lula e Bolsonaro.
Na pesquisa Ipec de 15 de agosto, Ciro marcou 6% nas intenções de voto. A mesma pesquisa indicou que 64% de seus eleitores admitem que podem mudar o voto.
A seu favor, ele conta com experiência política, em uma eleição que não dará o mesmo peso a outsiders, ou figuras antipolíticas, como a de 2018. Ciro foi prefeito de Fortaleza, deputado estadual, deputado federal, governador do Ceará e ministro dos governos de Itamar Franco e Lula.
Para fazer frente à candidatura de Lula, Ciro tem adotado uma estratégia de ataque, criticando fortemente o ex-presidente. Ciro chegou a acusar Lula de conspirar para o impeachment de Dilma e, quando a petista saiu em defesa do padrinho político, Ciro reagiu dizendo que a ex-presidente foi uma das pessoas "mais inapetentes, incompetentes e presunçosas" a presidir o Brasil.
Se por um lado essa estratégia visa firmar Ciro Gomes como alternativa a Lula, por outro, pode eventualmente afastar eleitores que nutrem alguma simpatia pelo PT ou que defendem uma ampla aliança contra Bolsonaro.
Simone Tebet (MDB)
A candidatura de Simone Tebet foi lançada em dezembro de 2021 pela direção nacional do MDB e oficializada em julho deste ano.
Ela foi a primeira mulher a disputar o comando do Senado, em 2021. Também foi a primeira mulher a comandar a disputada Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a primeira vice-governadora de Mato Grosso do Sul e primeira prefeita de Três Lagoas (MS).
A possibilidade de candidatura à Presidência surgiu do destaque que Tebet teve na CPI da Covid no Senado. Embora não fosse integrante fixa da comissão, ela participou dos principais depoimentos com uma postura contundente e crítica à gestão de Bolsonaro na pandemia.
O principal obstáculo que a senadora enfrenta é se tornar nacionalmente conhecida. Na última pesquisa Ipec, Tebet atingiu apenas 2% das intenções de voto.
Vera Lúcia (PSTU)
O Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) lançou a candidatura de Vera Lúcia em 19 de março e a oficializou em julho. Esta será a segunda vez que ela disputa a Presidência pela sigla. A primeira foi em 2018, quando obteve 55,7 mil votos, o equivalente a 0,05% dos votos válidos.
O PSTU foi fundado no início dos anos 1990 a partir de dissidências de outros partidos como o PT, partido ao qual Vera Lúcia chegou a ser filiada até 1992. O partido se autodefine como "socialista e revolucionário".
Antes de ingressar na política, Vera Lúcia foi faxineira e costureira em Sergipe, Estado onde iniciou sua militância. Ela participou da fundação do sindicato dos profissionais de costura da indústria calçadista do Estado.
Durante os governos petistas, o PSTU se colocou como oposição, fazendo críticas tanto às gestões de Lula quanto de Dilma.
Na última pesquisa Ipec, Vera Lúcia obteve 1% das intenções de voto.
Sofia Manzano (PCB)
Em fevereiro, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) lançou a candidatura da professora universitária Sofia Manzano, que foi oficializada em julho. Ela tem 50 anos de idade e começou sua militância política aos 18, em 1989.
Manzano é economista formada pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), mestre em Desenvolvimento Econômico pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e doutora em História pela Universidade de São Paulo (USP).
Desde 2013, ela vive em Vitória da Conquista, onde dá aulas na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). O foco das suas pesquisas são as relações de trabalho e a desigualdade social.
Em entrevista concedida em abril para o site Brasil de Fato RS, Manzano defendeu propostas como intensificar pesquisas universitárias para o setor agrícola para que elas tenham como foco a agricultura familiar e as pequenas propriedades e não o chamado agronegócio. Ela também fez uma defesa do comunismo.
Luiz Felipe D'Ávila (Novo)
O cientista político Luiz Felipe D'Ávila foi anunciado em novembro e oficializado em julho como candidato do Partido Novo à Presidência da República.
Em 2018, a legenda surpreendeu em desempenho quando seu então candidato à presidente, João Amoêdo, terminou o primeiro turno em quinto lugar, com 2,5% dos votos, à frente de candidatos como Henrique Meirelles (então MDB, hoje no União Brasil) e Marina Silva (Rede).
Amoêdo, que chegou a anunciar voto em Bolsonaro no segundo turno, passou a defender o impeachment do presidente durante a pandemia. Ele chegou a ser lançado novamente como pré-candidato pelo Novo no início do ano, mas sua candidatura sofreu oposição de parcela dos integrantes do partido, sobretudo entre os que apoiam Bolsonaro.
O partido, então, decidiu lançar D'Ávila. Ex-PSDB, coordenou o programa de governo do candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin, em 2018, mas depois deixou o partido. Ele é crítico de Bolsonaro e Lula e diz que os dois formaram governos "populistas de direita e esquerda".
Ao ser lançado pré-candidato pelo Novo, defendeu privatizações e outras reformas para reduzir o papel do Estado na economia.
"O populismo apenas perpetua a miséria, a pobreza, a corrupção e o mau funcionamento das instituições democráticas", disse.
Ele não pontuou na última pesquisa Ipec, de 15 de agosto.
Leonardo Péricles (Unidade Popular)
Leonardo Péricles é técnico em eletrônica e presidente nacional do Unidade Popular pelo Socialismo (UP), partido de esquerda fundado em 2019. Ele mora em uma ocupação em Belo Horizonte, e sua candidatura foi anunciada em novembro de 2021 e oficializada em julho de 2022.
O pré-candidato defende pautas como a realização de uma nova Assembleia Constituinte e um plebiscito para consultar a população sobre refinanciamento da dívida pública do país e a reforma urbana por meio da destinação de imóveis ociosos para moradia popular.
Assim como Vera Lúcia, Leonardo também enfrenta uma alta taxa de desconhecimento por parte do eleitorado. Segundo pesquisa Datafolha de julho, somente 9% dos eleitores entrevistados afirmaram conhecer o pré-candidato, que não pontuou nas pesquisas de intenção de voto do Ipec de 15 de agosto.
Soraya Thronicke (União Brasil)
A senadora por Mato Grosso do Sul Soraya Thornicke será a candidata do União Brasil após a desistência do presidente da sigla, Luciano Bivar, que resolveu disputar a reeleição como deputado federal por Pernambuco.
A empresária tem 49 anos e nasceu em Dourados (MS). Foi eleita em 2018 pelo PSL, partido que elegeu Bolsonaro e se tornou o União Brasil. Foi vice-líder do governo no Congresso e é coordenadora política da Frente Parlamentar da Agropecuária no Senado.
Tem como propostas a criação de um imposto único, o fim do foro privilegiado para todas as autoridades e a fundação de uma corte anticorrupção formada por 30 juízes e 11 desembargadores.
Ela não pontuou na pesquisa Ipec de 15 de agosto.
Pablo Marçal (PROS)
Em maio, o Partido Republicano da Ordem Social (PROS) anunciou que estava lançando sua primeira candidatura para Presidência do Brasil: a do empresário e coach Pablo Marçal, que se define em seu site como "cristão, filantropo, empreendedor imobiliário e digital, mentor, estrategista de negócios e especialista em branding".
Seu nome a presidente está registrado na Justiça Eleitoral para a disputa presidencial, mas o PROS formalizou em convenção em 15 de agosto a retirada do sua candidatura e apoio a Lula. Marçal disse que a decisão foi um "golpe" e que vai recorrer na Justiça.
Marçal se coloca como distante da divisão entre esquerda e direita e exalta sua presença nas redes sociais.
Mas seu nome apareceu no noticiário no início de janeiro não por suas pretensões políticas e sim por ter liderado uma expedição ao Pico dos Marins, no Estado de São Paulo, que acabou exigindo resgate pelo Corpo de Bombeiros.
Na última pesquisa Ipec, de 15 de agosto, Marçal não pontuou.
José Maria Eymael (Democracia Cristã)
O fundador e atual presidente do Democracia Cristã José Maria Eymael já disputou a Presidência outras cinco vezes no passado. Foi deputado federal constituinte em 1988 (seu nome na urna será "Constituinte Eymael") e ficou conhecido pelo jingle "Ey, Ey, Eymael, um democrata cristão", lançado em 1985, quando se candidatou a prefeito de São Paulo pela primeira vez.
No discurso em que formalizou sua participação na corrida de 2022, o empresário e advogado, com especialização em direito tributário, disse ser a favor de "valores da família" e que defende a adoção de programas de emprego e moradia para o país.
"Nossos valores são os valores da família, as necessidades da família. E na campanha para a Presidência da República vamos defender alguns princípios. Um deles é o emprego. E, para ter emprego, precisamos ter desenvolvimento no país", declarou.
Eymael, de 82 anos, concorreu à Presidência nas eleições de 1998, 2006, 2010, 2014 e 2018. Nunca foi para o segundo turno e, nas últimas eleições, recebeu 41,7 mil votos (0,04%). Ele não pontou na última pesquisa de intenção de votos do Ipec.
Roberto Jefferson (PTB)
O ex-deputado federal Roberto Jefferson registrou sua candidatura presidencial no Tribunal Superior Eleitoral pelo PTB, mas ainda há dúvidas, com base na lei da Ficha Limpa, se Jefferson poderá participar da disputa por causa de uma condenação no processo do mensalão do PT.
Ele atualmente se encontra em prisão domiciliar - por isso, não pode participar do lançamento de sua candidatura na convenção nacional de seu partido.
Jefferson foi detido em 2021 após uma ordem do ministro do STF Alexandre de Moraes no âmbito do inquérito sobre organizações que municiam atos antidemocráticos.
O processo cita falas do ex-deputado sobre "concentrar as pressões populares contra o Senado e, se preciso, invadir o Senado e colocar para fora a CPI a pescoção" e que o Brasil necessita "fazer uma limpeza, começando pelo Supremo, ninho de bruxas e urubus".
Jefferson é aliado de Bolsonaro e disse em vídeo gravado no lançamento de sua candidatura que o presidente "defende os mesmos valores e bandeiras do nosso PTB".
Seu nome não foi incluído na pesquisa Ipec de 15 de agosto porque não havia informações suficientes sobre sua entrada na disputa.