As mulheres são a maioria do eleitorado. Das 156.454.011 pessoas aptas a votar no país, 82.373.164 são do gênero feminino, 53%, e 74.044.065 são homens, representando 47%. Elas são a alta parcela ainda nos maiores colégios eleitorais do país, como São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). No Distrito Federal, 54% do eleitorado é feminino. Com foco nesses públicos, os principais pré-candidatos à Presidência da República têm corrido na tentativa de atrair eleitoras.
Há cerca de um mês, o presidente Jair Bolsonaro (PL) intensificou destaques a esse público em seus discursos e tem tentado se descolar de rótulos de machista e misógino. Ele já contou ter ouvido de sua equipe que o que o afasta das mulheres "é andar de moto e falar em armas". Desde então, vem pregando que as mesmas são proteção da família. "Tem mulher que não gosta de arma, mas quer que o marido, namorado ou pai tenha."
Com alto grau de rejeição entre as mulheres, o presidente tem recorrido à primeira-dama, Michelle Bolsonaro, para humanizar a sua figura, visando melhorar a imagem junto às eleitoras e, em especial, às evangélicas. Em convenção no Rio de Janeiro, Michelle direcionou o discurso a elas, afirmando que Bolsonaro é o presidente que mais sancionou leis direcionadas ao gênero feminino. "Foram 70 leis de proteção para as mulheres." Bolsonaro também vem acenando às chefes de família mais necessitadas com o aumento do Auxílio Brasil para R$ 600 e do Auxílio-Gás. O QG bolsonarista acredita que a situação para o presidente deve melhorar a partir de setembro, após ao menos dois pagamentos anteriores ao pleito.
Aliados de Bolsonaro comemoram nuances apontadas pelo último Datafolha, que mostra o crescimento das intenções de voto no presidente entre o eleitorado feminino, que subiu seis pontos percentuais em relação ao último levantamento. Porém, Lula se mantém à frente, com 46%s das intenções de voto, ante 27% de Bolsonaro neste recorte. Especialistas apontam que o que deve alavancar a popularidade no meio é a melhora no cenário econômico, traduzido em poder de compra e melhoria de vida.
No entanto, a pesquisa da Quaest Consultoria contratada pela Genial Investimentos, divulgada no dia 3, aponta que a gestão de Bolsonaro ainda é mais rejeitada pelas mulheres do que pelos homens: 48% do eleitorado feminino avalia negativamente o governo, ante 49% da pesquisa anterior.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder nas pesquisas eleitorais, também conta com a socióloga Rosângela Silva, Janja, sua esposa, como figura frequente nas reuniões de coordenação de campanha. O petista aposta em relembrar uma gestão "que governou para as mulheres" e reforça que a promoção da igualdade foi prioridade em todas as áreas de atuação. Em discursos, destaca entre os feitos antigos a criação da Secretaria de Políticas para Mulheres, do Bolsa Família e do Minha Casa, Minha Vida e da instituição da Lei Maria da Penha, no combate à violência. Em outra frente, ataca Bolsonaro ao dizer que desde 2019, o país sofreu um movimento de desmonte das políticas para a população feminina. Lula também tem defendido maior representatividade das mulheres no Congresso. E destaca que, com incentivo às armas, Bolsonaro coloca a vida das mulheres em risco, uma vez que a maioria dos registros de armas se encontra nas mãos de homens.
Tentando romper a polarização, o pré-candidato Ciro Gomes (PDT) tem por estratégia colocar mulheres ocupando posições-chave na campanha e defende a participação feminina no poder. Ele também acenou ao eleitorado feminino em sua convenção no dia 20. Ao lado da mulher, Giselle Bezerra, disse que elas "vão salvar" o país. O pedetista tenta conquistar o voto feminino que rejeita Bolsonaro e, em um contrabalanço, escolheu para o posto de vice a vice-prefeita de Salvador (BA), Ana Paula Matos, também pedetista. O candidato destacou que o partido optou por "uma mulher negra, de origem humilde, que fez da sua luta contra todos os estigmas e discriminações um ato de vitórias sucessivas".
O principal nome que representa a ala feminina na corrida às eleições presidenciais é Simone Tebet (MDB), primeira mulher a presidir a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, posto que exerceu até o fim de 2020. No ano seguinte, liderou a primeira bancada feminina da história e tornou-se presidente da Comissão Mista de Combate à Violência contra a Mulher e tem destacado afinidades, por enfrentar as mesmas dificuldades e problemas desse universo, e se coloca ainda como uma terceira via entre os extremos políticos. Após as denúncias de assédio sexual e moral, que culminaram no pedido de demissão do presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, sob gestão Bolsonaro, a senadora apresentou, no começo de julho, o projeto que cria a Ouvidoria da Mulher nas empresas públicas e sociedades de economia mista.
Além de Tebet, as eleições de 2022 contam com mais três mulheres como candidatas ao Planalto, com Soraya Thronicke (União Brasil-MS), se juntando a Sofia Manzano (PCB) e Vera Lúcia (PSTU).