ELEIÇÕES 2022

Consulados reforçam segurança para evitar violência nas eleições

Tanto no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) quanto no Itamaraty, responsável por garantir que o pleito se realize mundo afora, há o temor de que polarização estimule atos de violência no exterior

Lisboa — A tensão política que atormenta o Brasil, a menos de dois meses de os eleitores depositarem os votos nas urnas, está se irradiando para o exterior, onde um número cada vez maior de brasileiros terá de cumprir o dever cívico em outubro próximo. Tanto no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) quanto no Itamaraty, responsável por garantir que o pleito se realize mundo afora, há o temor de que a enorme polarização que se vê no país acabe por estimular atos de violência nos pontos de maior concentração de votantes. O foco principal de preocupação é Portugal, que se tornou o maior colégio eleitoral fora do Brasil: 86.934 cidadãos estão registrados para votar em três localidades: Lisboa, Porto e Faro.

O nervosismo é tamanho que, há várias semanas, representantes dos três consulados do Brasil em Portugal têm se reunido sistematicamente com as chefias das polícias locais para garantir a segurança das urnas eletrônicas e dos votantes. De 2018 para cá, o total de eleitores brasileiros em Lisboa, Porto e Faro mais do que dobrou. Naquele ano, mesmo com um número menor de pessoas aptas a comparecerem aos postos de votação, houve conflitos entre grupos de diferentes posições políticas e ataques à imprensa. O clima pesou tanto que os responsáveis pelo consulado de Lisboa, à época, suspenderam uma entrevista que detalharia como o pleito transcorreu.

Por precaução, o consulado de Lisboa também contratou uma empresa de segurança privada para evitar danos às 57 urnas já separadas pelo TSE e aos eleitores. Cada urna tem capacidade para atender 800 votantes. "Estamos tomando todas as cautelas para que a eleição ocorra de forma absolutamente tranquila. A nossa meta é nos anteciparmos a qualquer problema. Não queremos ser surpreendidos, ter que esperar que ocorra algo fora do normal para agirmos", diz um integrante do consulado. Ele garante que a Polícia de Segurança de Portugal (PSP) informou que, até o momento, não foram identificados eventos anormais. "Temos um trabalho preventivo de investigação", complementa.

Para bancar o reforço da estrutura de votação e de segurança, o Consulado do Brasil em Lisboa pediu ao Itamaraty a ampliação do orçamento. Foram requisitados mais 4.800 euros (R$ 26,4 mil), mas, até agora, menos da metade foi liberado: 1.956 euros (R$ 10,8 mil). Esses recursos são apenas para os agentes privados, para resguardarem as urnas durante a noite anterior à votação e no dia do pleito. "Precisamos desse dinheiro, devido ao aumento substancial do número de eleitores. Em 2018, eram 21 mil em Lisboa, agora, são 45 mil", explica o mesmo representante do consulado.

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Garantia da ordem

Em Paris, onde 22.629 eleitores brasileiros estão aptos a votar para presidente da República, além da ajuda policial, será contratada segurança privada, afirma o cônsul-geral adjunto, Sérgio Pena. "Haverá agentes contratados pelo Consulado-Geral. Tanto o Ministério dos Negócios Estrangeiros quanto a polícia francesa estão informados sobre a realização das eleições e deverão disponibilizar efetivos para garantir que tudo transcorra em tranquilidade", ressalta.

Pena acrescenta que praticamente todo o efetivo do Consulado-Geral de Paris estará envolvido na organização das eleições. Também haverá participação significativa do pessoal da Embaixada brasileira na França, da Missão do Brasil junto à Unesco e da Delegação junto a organizações internacionais econômicas sediadas em Paris. "No total, aproximadamente 150 pessoas trabalharão nos dias das eleições, entre mesários, recepcionistas e pessoal de apoio", explica o diplomata.

Na França, haverá um único local de votação, em Paris. "Trata-se de local amplo, adequado para comportar as 57 seções eleitorais, situado em região central da capital, servida por transporte público, na Rue Catherine de La Rochefoucaulds, 11", detalha o cônsul-geral adjunto. Ele recomenda que os eleitores no exterior baixem o e-título no celular. "Essa ferramenta indica o número do título de eleitor, o local de votação e a seção eleitoral, o que agilizará o atendimento no dia da votação. Para aqueles que necessitem justificar sua ausência ao voto, isso também poderá ser feito pelo e-título", frisa.

Na Espanha, os eleitores brasileiros estarão divididos entre Madri e Barcelona. Cônsul-geral do Brasil na capital espanhola, a embaixadora Gisela Padovan afirma que, pelos registros mais recentes do TSE, há 19.866 votantes aptos a escolherem o próximo presidente do país — serão disponibilizadas 25 urnas eletrônicas — na sua área de atuação. Em Madri, haverá um único local de votação: a Casa do Brasil.

Em relação à segurança do pleito, a cônsul-geral destaca que já pediu, oficialmente, apoio à Comunidade de Madri. "O reforço policial será o mesmo brindado a todos os consulados/embaixadas que aqui realizam eleições", afirma. "Minha expectativa é de que o pleito se realize como sempre, sem problemas. Entre presidentes de mesa, mesários e pessoal de apoio logístico, contaremos com 130 voluntários", ressalta.

Reprodução/GoogleStreetView - Local de votação em Paris: agentes serão contratados pelo Itamaraty para garantir a segurança

Mobilização total

O Consulado-Geral do Brasil em Barcelona informa que mais de 10 mil eleitores estão inscritos na sua jurisdição para votar neste ano — mais que o dobro do observado em 2018. Todas as seções de votação estarão em um mesmo local, na Fira de Barcelona. O órgão afirma que a polícia local será informada sobre o pleito e disponibilizará efetivos conforme os protocolos de segurança. Além disso, o consulado contará com o apoio da empresa de segurança que já presta serviços de rotina nas instalações do posto.

"Para conduzir a jornada eleitoral, estamos planejando contar com 62 pessoas: 14 servidores do quadro do Ministério das Relações Exteriores (lotados no consulado-geral), 16 contratados locais do consulado-geral, além de 32 membros da comunidade que atuarão como mesários", assinala o consulado, que reforça estar trabalhando na organização das eleições desde o ano passado, tanto no que diz respeito ao cadastramento de eleitores quanto na organização da logística para os dias de votação.

Assim como na Espanha, a Itália também terá duas regiões de votação: Roma e Milão. Na capital italiana, especificamente, estão cadastrados 12.983 eleitores aptos a votar. O conselheiro e cônsul-geral adjunto, Paulo Borda Silos, diz que, em Roma, haverá um único local de votação, no prédio que abriga o Consulado-Geral e a Embaixada do Brasil, no centro da cidade. A proteção das urnas e dos votantes ficará sob a responsabilidade da polícia local. "Não será solicitado reforço extraordinário", garante o diplomata.

"No Consulado-Geral em Roma, todos os seus funcionários (diplomatas, oficiais de chancelaria, assistentes de chancelaria, auxiliares locais e segurança), totalizando 26, serão convocados para prestar apoio durante o primeiro e, eventualmente, o segundo turno das eleições", esclarece Silos. "Serão instaladas 17 urnas (abrigando 58 seções eleitorais) munidas por 68 mesários", emenda.

No Reino Unido, estão inscritos para votar 34.498 eleitores, 33% a mais do que o verificado em 2018 (25.938). De acordo com o Consulado-Geral do Brasil em Londres, haverá apenas um local de votação, o West London College, na capital da Inglaterra. A segurança será feita pela polícia local e todos os funcionários do consulado vão trabalhar no dia da votação.

Medo de golpe

Como no Brasil, boa parte dos eleitores têm sido bombardeada por fake news, criando uma situação fictícia da realidade do país. Não à toa, a polarização é visível e as discussões, frequentes em mesas de bar e mesmo em festas em família. Em Portugal, há núcleos estabelecidos dos dois principais candidatos à Presidência da República, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, que aparece na dianteira das pesquisas de intenção de votos, e o presidente Jair Bolsonaro, do PL, que tenta a reeleição.

Se prevalecer o que se viu há quatro anos, quando o número de eleitores era bem menor, a tendência é de vitória de Bolsonaro. Especialistas afirmam, porém, que a imagem do presidente piorou muito desde que ele tomou posse. A forma como ele lidou com a pandemia sempre é citada como muito ruim. Também há críticas pesadas em relação à política ambiental do governo. Na imprensa portuguesa, Bolsonaro já foi chamado de cafajeste.

Entre os diplomatas que trabalham na organização do pleito, a ordem é não se posicionar politicamente. Tudo está sendo tratado de forma muito técnica. Mas é visível o incômodo de vários representantes de consulados e embaixadas com os ataques frequentes que o presidente brasileiro vem fazendo à segurança das urnas eletrônicas. Vários deles foram chamados por representações de governos locais para responderem a questionamentos sobre a possibilidade de um golpe no Brasil com a ajuda de militares. A resposta é sempre taxativa: não, pois as instituições brasileiras são fortes e estão funcionando. 

FRASE

Haverá agentes contratados pelo Consulado-Geral. Tanto o Ministério dos Negócios Estrangeiros quanto a polícia francesa estão informados sobre a realização das eleições e deverão disponibilizar efetivos para garantir que tudo transcorra em tranquilidade”

Sérgio Pena, cônsul-geral adjunto em Paris

 

NÚMEROS

86.934
Quantidade de eleitores aptos a votar em três localidades em Portugal: Lisboa, Porto e Faro


22.629
Total de eleitores brasileiros existentes em Paris


34.498
Quantidade de eleitores inscritos no Reino Unido, 33% a mais do que o verificado em 2018