Convidado do Podcast do Correio, o ministro aposentado Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), afirmou que tem total confiança no processo eleitoral brasileiro. Aos jornalistas Denise Rothenburg e Carlos Alexandre de Souza (foto), o magistrado comentou sobre o cenário político polarizado do país e ainda contou um pouco da rotina que leva após deixar a cadeira que ocupava na mais alta Corte do país.
As urnas eletrônicas são alvo de críticas constantes do presidente Jair Bolsonaro (PL), que alega, inclusive, que houve fraude em eleições passadas. Marco Aurélio Mello, que comandou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por três ocasiões, destacou que tem confiança na segurança tecnológica das máquinas. "Confio totalmente. Eu não fui o idealizador da urna eletrônica, vou dar o crédito para quem merece, o ministro Carlos Velloso, meu antecessor. Mas, eu presidi, em 1996, as primeiras eleições informatizadas quando era uma incógnita o resultado do sistema. E, de 1996 para cá, nós não tivemos uma impugnação minimamente séria acolhível", ressaltou.
Mello ainda citou uma certa incoerência no discurso do chefe do Executivo — que foi eleito justamente por meio das urnas que tanto critica. "O que eu posso afiançar, porque eu estive no Tribunal Superior Eleitoral quatro vezes, três como presidente, é que o sistema é seguríssimo e nós não podemos desacreditá-lo. Eu penso que, de certa forma, é um ato falho do presidente tentar desmerecer o sistema da urna. Qual foi o sistema mediante o qual ele logrou a eleição? Urna eletrônica", pontuou.
O ministro destacou o clima polarizado no país em relação à política. "Está (polarizado) porque cada qual tem o seu estilo. O estilo do atual presidente é esse. Parece que ele busca crises. Mas ele foi eleito com cerca de 45 milhões de votos e é o presidente de todos nós. Precisamos observar as regras do jogo", destacou.
Sobre sua preferência nas eleições de outubro, Marco Aurélio Mello disse que quer evitar a polarização, mas, em um eventual segundo turno entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ficaria com a reeleição do atual chefe do Executivo. "Eu penso que o ex-presidente foi presidente durante oito anos. Ele deu as cartas durante seis anos com a ex-presidente Dilma e já prestou relevantes serviços ao país. Eu votaria no Bolsonaro, mas vamos aguardar para ver se é isso mesmo que teremos. Agora, no primeiro turno, votarei em quem estiver no terceiro lugar", garantiu.
Arrependimento
Marco Aurélio Mello se aposentou em julho do ano passado, após 31 anos de trabalho como ministro do STF. Longe da toga, o magistrado relatou que, agora, se dedica à família, mas segue trabalhando. "Eu me considerei melhor juiz nos últimos anos de magicatura do que eu fui antes. Porque o aperfeiçoamento é infindável. Em relação, principalmente, às Cortes Superiores e ao Supremo, eu sou favorável à vitaliciedade, mas a vitaliciedade no Brasil é mitigada", disse.
"A toga não faz falta. Eu estava muito pronto para sair em 2016, aos 70 anos, mas veio a PEC da Bengala. Um dia, indagado por um jornalista se, com a PEC, eu continuaria, respondi: desde que eu não precise de uma bengala [risos]."
Perguntando sobre o manifesto pela democracia, o ministro revelou que se arrependeu de ter assinado a carta da USP. "Eu li o texto e achei muito razoável porque apenas ressalta, em si, a democracia, e também a valia do sistema eletrônico de votação", respondeu.
"A partir do momento que deram à carta uma conotação política, inclusive com a subscrição de candidatos, até de presidenciáveis, eu me arrependi de ter assinado essa carta. Pensei que fosse algo elaborado apenas para a apresentação de pessoas da área do direito", explicou Mello.
A íntegra da entrevista com o ministro aposentado está disponível nas redes sociais do Correio.