Nas eleições deste ano, quatro mulheres concorrem à Presidência da República, o número cresceu em relação à 2018, em que apenas duas foram candidatas. Em entrevista ao Correio, a advogada Gabriela Rollemberg destacou a importância do protagonismo feminino na política. A especialista em direito eleitoral citou alguns avanços importantes, como a aprovação da lei de violência política de gênero, o projeto da dignidade menstrual e aprimoramentos na Lei Maria da Penha. "A bancada feminina vem atuando de forma suprapartidária", pontua.
Gabriela lembrou da atuação das mulheres na CPI da Pandemia, em abril de 2021, no Senado. "A CPI começou completamente masculina: 11 titulares e 7 suplentes, todos homens brancos. A partir disso, a gente teve a bancada feminina lutando para ter voz, ainda que não tivesse voto, dentro daquele espaço. E elas protagonizaram a CPI na investigação dos fatos", afirmou a especialista, em entrevista conduzida pela jornalista Talita de Souza.
Das candidaturas registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), 33% são de mulheres. A lei de cotas, primeira ação afirmativa para candidaturas femininas, é de 1995. Gabriela observa que os avanços para a garantia da presença de mulheres na política caminha a passos lentos. "Tivemos a primeira cota definida de percentual mínimo de candidaturas femininas que não era obrigatória. Mais de uma década depois, o percentual passou a ser obrigatório. Mas ainda não havia uma obrigatoriedade da destinação de recursos para as mulheres", ressaltou.
A advogada destacou, ainda, o aumento na representação política feminina em 2018, após uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF) determinar a destinação de recursos para as mulheres. Atualmente, o percentual mínimo para as candidaturas femininas é de 30%. "Os partidos trabalham com esse mínimo sendo teto. A gente não vê, infelizmente, os partidos preocupados em eleger mulheres", alertou Gabriela.
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Mulheres negras e trans
Gabriela Rollemberg criticou a ausência de políticas públicas que amparem as minorias sociais. "Colocar comida na mesa ou ser candidata?", questionou a advogada, acerca da situação de vulnerabilidade que as mulheres negras e trans enfrentam. A especialista citou também o formato de candidaturas coletivas como ferramenta utilizada pelas minorias para conquistar o espaço político.
"A gente tem que ampliar essa representatividade e a base da sociedade, que é a mulher negra, precisa estar representada. Mas como faremos para ela chegar lá, se não está tendo nem o básico?", salientou. Além disso, a especialista orienta que é necessário observar como os partidos têm se posicionado sobre o tema.
Questionada sobre a necessidade de mulheres votarem nelas mesmo, Gabriela diz que a presença feminina nos espaços de poder é fundamental. "Prefiro ter mulheres conservadoras na política do que homens conservadores", afirmou. No entanto, ela frisou que nenhum retrocesso deve ser tolerado. "Mulheres que defendam outras mulheres, que defenda os direitos das mulheres, para que não haja retrocesso. A gente tem uma série de direitos fundamentais que garantem o mínimo de dignidade da pessoa humana".
"Quero você eleita"
Em 2020, Gabriela Rollemberg criou o laboratório de inovação Quero você eleita, com o objetivo de potencializar candidaturas e mandatos femininos. "As mulheres inovam na política, elas resgatam o pertencimento, que é construir com a população, por meio da escuta ativa. Precisamos de uma revolução de afeto", defende. Na sexta-feira (12/8), o laboratório promoverá um encontro entre candidatas e profissionais, com rodas de conversa, palestras e meditação. Mais informações sobre o evento estão disponíveis nas redes do "Quero você eleita'.