A senadora e pré-candidata à Presidência, Simone Tebet (MDB), afirmou, que, caso fosse eleita para chefiar o Executivo a partir de 2022, faria um "revogaço" para derrubar os decretos feitos pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) que facilitaram a posse e o porte de armas nos últimos três anos de governo dele. A declaração foi feita no programa Roda Viva, da TV Cultura, na noite desta segunda-feira (8/8).
Questionada pela bancada do programa sobre o posicionamento dela em relação à política de armas no país, Simone foi enfática. "Revogaço por decreto. Simples assim. Foi a bancada feminina, eu estava como líder, que inclusive impediu o avanço de outros decretos do presidente em relação à questão de armas", disse.
Para Tebet, os esforços do presidente para apoiar o armamento do país são uma forma de distrair o Poder Legislativo sobre questões que importam, além de mostrar que não tem "um projeto de Brasil". "Não podemos esquecer que essa pauta não é uma pauta que interessa ao Brasil. O Brasil não quer isso. O Brasil tá passando fome, o Brasil precisa de emprego", afirma.
"Essa é a pauta de um governo que não tem um projeto de Brasil. Então ele cria crises artificiais, ele provoca para agradar nichos, e a partir daí nós ficarmos, ao invés de falarmos do Brasil real e apresentar soluções e cobrar soluções do presidente, ficar debatendo questões tão delicadas quanto essa", acrescentou.
A senadora também afirmou que foram as facilitações promovidas pelo presidente — e os "discursos de ódio" dele — que fomentaram a possibilidade de tragédias recentes, como o assassinato de Marcelo Arruda e do campeão de jiu-jitsu Leandro Lo, baleado na cabeça por um policial durante um show de pagode no domingo (7/8).
"Não vamos esquecer que são essas armas, estimuladas pelo discurso de ódio do presidente, que levaram a aquele episódio lamentável de Foz do Iguaçu e que hoje, agora, há dois dias, tirou a vida de um profissional que brilhava e nos dava orgulho no esporte brasileiro”, disse. “O presidente estimula pelo mau exemplo, pelas falas infelizes”, pontuou.
Tebet contou que teve uma vivência próxima com o problema de armas no país quando foi vice-governadora do estado em que nasceu, o Mato Grosso do Sul. “Eu venho de um estado de fronteira, fui vice-governadora e atuei com o secretário de Segurança Pública e eu sei que a maior parte das armas e o tráfico de drogas entrava pelo meu estado”, compartilhou.
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“E chegam aqui e hoje são entregues através infelizmente dos CACs, que tem muita gente boa e eu sou a favor deles, mas que se inscrevem, que se passam por colecionadores, atiradores, esportistas, para conseguir uma arma e depois entrar no mercado negro e ir para o crime organizado”, diz.
Tebet é a primeira entrevistada de uma série de entrevistas promovida pelo programa Roda Viva, da TV Cultura, com os quatro pré-candidatos com maior intenção de votos registrados pela pesquisa Datafolha de 28 de julho.
Revogação não inclui porte de armas em zonas rurais, afirma Tebet
Apesar da posição firme contra o armamento, Tebet afirma que é a favor da posse e do porte de armas em zonas rurais. Ela diz que os homens "da fazenda" já utilizam armas no campo e que a posse pode auxiliar mães que fiquem sozinhas com filhos a se "protegerem" em alguma situação de perigo.
"A mulher com o filho fica dentro de casa, à distância de uma delegacia, e se acontece alguma coisa e ela tá sozinha, ela tem que se proteger. Então nós avançamos dentro desse limite de que dentro do espaço da propriedade poderia haver a possibilidade da posse de arma na sede. O revogaço não incluiria nesse item”, aponta.
“Não contaria com meu voto”, diz senadora sobre legalização do aborto
Questionada sobre não promover a discussão sobre um aprimoramento e ampliação das definições legais sobre a lei de aborto, Simone diz que não pautou o assunto por entender que precisa "obedecer a vontade da maioria" da população.
"Eu sou a favor do que está no Código Penal. Eu sou contra o aborto, salvo nos casos permitidos por lei. Segundo porque eu vou ao encontro do que pensa a maioria da população brasileira, inclusive das mulheres. Nós estamos diante de um país conservador. Eu sou uma parlamentar que tem que obviamente obedecer a vontade da maioria. Entendo que o Brasil não está maduro para discutir essa questão", pontuou.
Para ela, há outras questões urgentes ligadas ao assunto que precisam ser discutidas. "Temos em torno de 50 mil de crianças que nascem no Brasil sem a paternidade responsável, o pai não entra na certidão de nascimento. São questões como essa que temos que discutir", pontuou.
Simone ainda afirmou que o assunto não seria trazido por ela, mas que se viesse a ser votado em Plenário, não teria o voto dela. “Não é por crença religiosa, é por convicção e por respeito à vontade da maioria. A gente olha isso todas as vezes, todos os anos, e não sou eu que vou trazer essa pauta”, pontuou.
“Eu digo que essa pauta tem que ser discutida no Congresso Nacional se assim alguém o quiser. É lá o foro competente, com audiência pública e a própria sociedade. Mas não contará com o meu voto, eu senadora até 31 de dezembro, se ela vier a ser discutida”, acrescentou.