ELEIÇÕES 2022

PT abandona Freixo na disputa pelo governo do Rio e abre crise com o PSB

Diretório insiste na candidatura de André Ceciliano ao Senado e não aceita que Alessandro Molon dispute a vaga. Gesto do PT-RJ, que precisa ser avaliado pela cúpula nacional do partido, foi duramente criticado

O diretório do PT no Rio de Janeiro retirou o apoio ao deputado federal Marcelo Freixo ao Palácio Guanabara e aprofundou a crise com o PSB no estado, cujos reflexos deverão ser sentidos na aliança nacional, em torno da candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência. O rompimento é porque o PT-RJ insiste na candidatura ao Senado do deputado estadual André Ceciliano, enquanto os socialistas não abrem mão de que o deputado federal Alessandro Molon dispute a vaga e componha a chapa majoritária.

O rompimento, porém, ainda precisa passar pelo crivo do diretório nacional do PT, mas a fratura se aprofundou. O partido acusa Molon e o PSB de quebrarem um acordo firmado, no final do ano passado, que previa que os petistas fariam o candidato ao Senado em troca de não lançarem um nome ao governo fluminense.

Molon, porém, nega o acerto e defende que sua candidatura é a única capaz de rivalizar com a do senador bolsonarista Romário (PL-RJ). "Nossa pré-candidatura já tem o apoio de quatro partidos: PSB, PSol, Rede e Cidadania. E aparece em primeiro lugar na última pesquisa para o Senado. Reafirmo: não fiz e não participei de qualquer acordo para ceder ao PT a vaga ao Senado", assegurou.

Ele acrescentou que os petistas estão defendendo interesses menores, quando todos deveriam estar mais preocupados em enfraquecer o bolsonarismo e seus representantes. "Não podemos repetir os erros do passado", exortou Molon.

O presidente do diretório fluminense do PT, João Maurício de Freitas, defendeu a posição do partido. Além de classificar como "egoísta, divisionista e isolada" a posição de Molon, acusou-o de ser o responsável por romper a maior aliança da esquerda no estado nos últimos 30 anos

"Fomos um dos primeiros partidos a declarar apoio a Marcelo Freixo, e construímos com muito empenho e dedicação sua pré-candidatura", observou.

A deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) também defendeu a decisão do diretório. Em áudio enviado a correligionários, criticou Molon e afirmou que "não falta palanque para Lula" no Rio.

Ceciliano, o candidato que o PT quer para o Senado, é presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) e muito próximo do governador Cláudio Castro (PL). Por conta disso, apoiadores de ambos estavam até pregando o voto "bolsolula" — o atual ocupante do Palácio Guanabara é apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) e o pré-candidato a Senado, pelo ex-presidente.

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Reflexos

O rompimento do PT com a campanha de Freixo pode ter reflexos negativos no partido nos cenários estadual e nacional. Segundo levantamento Genial/Quaest, de 14 de julho, o candidato do PSB e Castro estão tecnicamente empatados, com 22% e 24% das intenções de voto, respectivamente. Para piorar, a crise acontece no berço político de Bolsonaro (PL) e seus filhos.

A decisão do PT fluminense foi criticada por aliados e membros do próprio partido. "Entendemos a legitimidade da estratégia do PT de ter candidatura própria ao Senado no Rio de Janeiro. Mas exigir a retirada do candidato que, em sucessivas pesquisas, é o mais bem posicionado para derrotar o candidato do bolsonarismo, escapa à lógica. Não há hipótese de apoiarmos Ceciliano", disse a deputada federal Talíria Petrone (PSol-RJ).

O ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, também se disse preocupado com a situação e reiterou apoio a Freixo. "Vejo com preocupação, porque temos grande condição de vencer as eleições no Rio. Temos um candidato que, se não é o líder, está próximo do líder. Uma figura louvável.

O PT-RJ também foi severamente criticado nas redes sociais. Uma delas veio da cantora Anitta, ao pedir que Molon "lance logo" a candidatura e declarar voto a ele — tal como fizera com Lula. Outro que se manifestou contra o PT fluminense foi o youtuber Felipe Neto: disse que a decisão foi "uma politicagem mesquinha, pequena e vergonhosa".