O presidente Jair Bolsonaro (PL) cancelou, nesta quarta-feira (3/8), dois encontros dos quais participaria na próxima semana em São Paulo, no dia 11: um jantar com empresários do Grupo Esfera e o debate promovido pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que ocorreria na mesma data. A informação foi confirmada ao Correio por membros da campanha do presidente.
Os encontros ocorreriam no dia em que será lançada a "Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em Defesa do Estado Democrático de Direito", da qual a Fiesp é uma das signatárias. O documento, que já foi ironizado pelo presidente, conta com mais de 700 mil assinaturas de diversos grupos da sociedade, entre juristas, empresários, banqueiros, artistas e civis.
Auxiliares de Bolsonaro avaliaram que seria melhor evitar possíveis constrangimentos caso o presidente fosse convidado na oportunidade a assinar a carta. A sabatina na Fiesp estava marcada para o dia 12 e já havia sido antecipada em um dia a pedido do próprio chefe do Executivo.
A carta não cita nomes, mas traz forte defesa à democracia e ao sistema eleitoral brasileiro. Bolsonaro tomou como um ataque para si próprio e, desde então, tem criticado os signatários.
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Culto evangélico e “cartinha”
Nesta quarta-feira, durante culto organizado pela Frente Parlamentar Evangélica no auditório da Câmara dos Deputados, Bolsonaro chamou o manifesto de “cartinha” e alegou que os apoiadores da carta não se posicionaram frente a ações que caracterizou como 'mais duras' durante a pandemia da covid-19, como o fechamento de comércios e igrejas, na tentativa de conter a alta dos casos.
“Vimos, durante a pandemia, as arbitrariedades cometidas por alguns chefes do Executivo pelo Brasil. Retiraram o direito de ir e vir, fecharam igrejas, prenderam mulheres, fizeram barbaridades”, criticou.
“Ninguém falou a palavra democracia. Tudo podia ser feito. Eu, respeitosamente, vocês sabem, fui contra tudo isso. Até quando certos direitos foram suprimidos por alguns prefeitos e governadores, direitos esses, que nem eu, caso tivesse apoio do Parlamento e aprovasse o decreto de Estado de sítio, teria esse poder. Vocês todos sentiram um pouco do que é ditadura e nenhum daqueles que assinam cartinhas por aí se manifestaram naquele momento”, acrescentou.
Ontem, Bolsonaro desqualificou iniciativas da sociedade civil, chamando os signatários da carta de “cara de pau” e “sem caráter”. Ele alegou que o manifesto é apoiado por banqueiros porque eles teriam perdido cerca de R$ 20 bilhões de receita por causa do Pix — sistema de pagamentos instantâneos. E chamou artistas de “desmamados” da Lei Rouanet. À noite, em entrevista ao SBT News, defendeu que a carta tem viés político.