A candidata à Presidência pelo MDB, senadora Simone Tebet, viveu, ontem, um dia diferente em sua campanha eleitoral. De coadjuvante da polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual, Jair Bolsonaro (PL), a parlamentar foi alçada à posição de destaque, efeito da participação dela no primeiro debate entre os candidatos à corrida sucessória, domingo, na Band.
Tietada nas ruas de São Paulo, Tebet tirou fotos e ouviu elogios dos eleitores. Ela voltou a rechaçar os ataques que sofreu do presidente Jair Bolsonaro (PL) no domingo e disse que conseguiu passar a mensagem que queria para o eleitorado. "É a sensação do dever cumprido. O debate serve para tirar as máscaras. Você não tem marqueteiro, você não tem alguém por trás. Ali, o que foi apresentado é aquilo que nós somos", disse, em visita um centro para crianças e adolescentes da União Brasileiro-Israelita do Bem Estar Social (Unibes)
O enfrentamento a Bolsonaro foi retomado pela candidata, após reações favoráveis à posição que adotou de questionar a postura do presidente em relação às mulheres. "Não tenho medo de cara feia, não tenho medo de fake news, não tenho medo de ameaça. Quanto mais me ameaçarem, quanto mais nos agredirem, quanto mais humilharem as mulheres brasileiras, maior é nossa responsabilidade, minha e da Mara (Gabrilli, candidata a vice) de enfrentar esses desafios", declarou Tebet.
Nas redes, o saldo também foi positivo para a candidata. Ela foi quem mais ganhou seguidores: 60,6 mil, segundo a plataforma de monitoramento CrowdTangle.
Ainda nas redes, uma pesquisa da Quaest revelou que Ciro Gomes (PDT) e Tebet foram os destaques do debate, com 51% e 41% de menções positivas, respectivamente.
A presidenciável Soraya Thronicke (União Brasil) também surfou a onda do debate, em que ela protagonizou um dos melhores embates com Bolsonaro. Em suas redes sociais, a senadora voltou a rebater a opinião do chefe do Executivo de que a eleição está polarizada e que não há margem para outras candidaturas. "Presidente, existem outros candidatos, incluindo mulheres. Respeite. O mundo não gira em torno do senhor e do que o alimenta: o PT. Gostando ou não, vai ter que me engolir, e as outras candidatas também", escreveu.
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Arena masculina
Para a cientista política Andresa Porto, diretora da Pulso Público, as duas senadoras "inovaram" e se destacaram em uma arena predominantemente masculina, em que a expectativa girava em torno do desempenho dos dois candidatos que polarizam a disputa. "Elas tornaram o debate mais rico e mais profundo, mostraram que estavam muito bem preparadas, o que é uma característica das mulheres quando enfrentam ambientes masculinos, em que homens dificilmente são cobrados sobre suas habilidades", avaliou a pesquisadora.
Para exemplificar, ela cita uma passagem do debate em que Bolsonaro escolhe Ciro Gomes (PDT) para discutir o papel das mulheres na sociedade. "É curioso ver que as duas (candidatas) foram pouco provocadas, mas elas aproveitaram bem a dinâmica do debate, um espaço masculinizado, em que as mulheres têm dificuldade de se posicionar. Foi uma participação histórica: duas mulheres entre os seis candidatos mais bem colocados nas pesquisas", acrescentou Porto.
Para a professora de ciência política da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Luciana Santana, a discussão sobre igualdade de direitos entre homens e mulheres ganhou destaque inédito no debate político por causa das duas presidenciáveis. "O tema de gênero predominou no debate tanto pelos posicionamentos da Soraya e da Simone quanto das próprias entrevistadoras que provocaram esse tema. A Simone foi a que melhor conseguiu responder, além de levar para sua responsabilidade um governo que teria as mulheres como prioridade", avaliou.
As duas cientistas políticas compartilham a opinião de que o debate não deve alterar de forma significativa o quadro das pesquisas de intenção de voto, mas ajuda a dar centralidade a questões que não costumam entrar na pauta de candidatos homens e que podem influenciar, principalmente, as eleitoras indecisas na hora de votar. "Elas foram habilidosas, tiraram os homens de sua zona de conforto. Simone é quem tem mais condições de provocar mudanças na polarização, mesmo que de forma sutil", concluiu Andresa Porto.
Não houve nenhuma combinação entre Tebet e Thronicke para agir em "dobradinha" no debate, mas uma complementou a outra. Ambas abordaram questões caras às mulheres, como a violência de gênero e aproveitaram bem as escorregadas dos adversários quando esses tiveram a oportunidade de falar sobre o tema.
Thronicke conseguiu sair do quase anonimato ao antagonizar com Bolsonaro de forma dura, quando criticou o ataque machista do presidente à jornalista Vera Magalhães. O chefe do Executivo disse que Vera fazia acusações mentirosas contra ele e que ela é uma vergonha para o jornalismo.
A presidenciável do União Brasil saiu em defesa de Vera, atacando o presidente, em um dos momentos mais comentados nas redes sociais por causa da menção a "tchutchuca" e a "tigrão" e, ainda, devido à referência a uma das personagens centrais da novela Pantanal. "Quando homens são tchutchuca com outros homens, mas vêm para cima da gente sendo tigrão, eu fico extremamente incomodada. Aí, eu fico brava, sim, e digo mais para você (dirigindo-se a Bolsonaro): lá no meu estado, tem mulher que vira onça, e eu sou uma delas. Eu não aceito esse tipo de comportamento e de xingamento e, acima de tudo, disseminar ódio entre os brasileiros e nos dividir", rebateu.
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