Terminadas as duas horas e meia de confronto entre os seis candidatos, as mulheres foram as estrelas do primeiro debate dos presidenciáveis, em especial Simone Tebet (MDB), que partiu para cima de Jair Bolsonaro (PL) — a quem planeja substituir num possível segundo turno contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que também não foi poupado pela emedebista. A senadora Soraya Thronicke (União Brasil) também não ficou para trás em matéria de respostas duras ao petista e ao presidente que busca a reeleição. O desempenho delas, aliás, foi registrado por pesquisa do Datafolha realizada com um grupo de eleitores indecisos — que deu a Simone o título de melhor performance e a Bolsonaro, a pior.
As críticas ao presidente e a Lula permearam todo o debate no estúdio da Band. Logo no primeiro bloco, a emedebista não deixou escapar sequer uma oportunidade de virar a artilharia contra Bolsonaro. Ao responder à primeira pergunta, sobre o que fazer para reduzir a tensão entre os Poderes, foi direta: "Precisamos trocar o presidente da República. Sem paz, não vamos unir o Brasil". Ainda neste bloco, quando indagada por Soraya sobre saúde, Simone respondeu que Bolsonaro "virou as costas para o povo brasileiro". "Não o vi pegar a moto dele e ir a um hospital abraçar a mãe que perdeu o filho", alfinetou.
O que tirou Bolsonaro do sério — e custou-lhe o bom desempenho — não foram seus adversários, mas uma pergunta da jornalista Vera Magalhães, da TV Cultura, que quis saber sobre a queda na cobertura vacinal. Em vez de comentar a resposta de Ciro Gomes (PDT), o presidente atacou-a.
"Não podia esperar outra coisa de você. Acho que você dorme pensando em mim. Você tem alguma paixão por mim. Você não pode tomar partido em um debate como esse, fazer acusações mentirosas a meu respeito. Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro. Mas tudo bem. Não pedi tua opinião", devolveu.
O ataque à jornalista provocou uma união das candidatas, que se desdobraram em menções de solidariedade. Foi um ponto explorado por Soraya. "Quando homens são tchutchuca com outros homens, mas vêm para cima da gente sendo tigrões, eu fico extremamente incomodada. Aí eu fico brava, sim. Digo mais para você: no meu estado, tem mulher que vira onça, e sou uma delas. Não aceito esse tipo de comportamento e de xingamento e, acima de tudo, disseminar ódio entre os brasileiros e nos dividir", reagiu.
Bolsonaro também foi grosseiro com Simone. Ao comentar uma pergunta da candidata, reagiu irritado: "Chega de vitimismo, somos todos iguais. Sancionei mais de 60 leis em defesa das mulheres. E tenho certeza: uma grande parte das mulheres do Brasil me ama. Quando defendo a arma, no campo, em especial, é para dar chance para a mulher se defender", afirmou.
Economia
Lula também não teve refresco — das mulheres e dos homens. E, a contar pelo clima ao final do debate, o sonho de vitória no primeiro turno ficou mais distante. Logo no começo do debate, Bolsonaro abriu a rodada de perguntas questionando o petista sobre corrupção na Petrobras e afirmou que o recurso desviado da estatal representava 60 vezes a transposição do rio São Francisco.
O petista devolveu que se tratavam de "inverdades e números mentirosos" e desfiou um rosário de leis para dizer que seu governo foi quem mais aprimorou o combate à corrupção. Bolsonaro, na réplica, provocou citando o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci que, como delator da Operação Lava-Jato, disse ter levado dinheiro par Lula: "O seu governo foi o mais corrupto da história do Brasil", acusou o presidente.
Quem mais irritou Lula, porém, foi Ciro. Ao responder sobre uma pergunta sobre a união das esquerdas, feita pela jornalista Patrícia Campos Mello, mencionou que Lula estava coligado com Geddel Vieira Lima — o homem dos R$ 51 milhões em dinheiro vivo em caixas num apartamento em Salvador — e com Renan Calheiros (MDB-AL). Sem esconder a irritação, Lula disse que esperava que Ciro não fosse para Paris no segundo turno, como fez em 2018.
Além da corrupção — tema que permitiu a Bolsonaro chamar Lula de "ex-presidiário" —, a economia também permeou o confronto. Um dos momentos tensos nessa questão veio quando Soraya se referiu aos economistas ligados ao petista como "mofados". Ela, aliás, foi a única a apresentar uma proposta econômica mais detalhada, ao sugerir o imposto único e isenção de Imposto de Renda para professor e para quem recebe até cinco salários mínimos.
Corrupção e sigilo
Corrupção, miséria e pandemia foram temas importantes no no primeiro debate entre os presidenciáveis. Em vários momentos, esses assuntos foram marcados pela polarização entre os candidatos Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Um dos momentos tensos ocorreu quando o petista perguntou à senadora Simone Tebet (MDB), integrante da CPI da Covid, se houve corrupção no enfrentamento à pandemia e negligência por parte do governo Bolsonaro. Na resposta, a candidata disse que o presidente da República “negou vacina, atrasou 45 dias, muitas pessoas poderiam estar entre nós e não estão por culpa da insensibilidade de um governo que não coloca vacina no braço do povo brasileiro”.
E arrematou: “Eu confirmo que houve corrupção. Houve tentativa de comprar vacinas superfaturadas”, afirmou a candidata sobre o caso Covaxim — vacina indiana não aprovada pela Agência Naiconal de Vigilância Sanitária (Anvisa) e cuja compra geraria um rombo de R$ 1,6 bilhão ao Ministério da Saúde.
Minutos após o ataque de Lula, Bolsonaro deu o troco. Nas considerções finais, chamou o rival de “ex-presidiário” em duas ocasiões. E disse que o país não merecia a volta do petista ao Palácio do Planalto.
Em reação, Lula pediu direito de resposta, no qual foi atendido. “Estou aqui candidato para ganhar as eleições e, em um decreto só, vou apagar todos seus sigilos porque quero descobrir o que você tanto (esconde)...”, disse o petista.
Segundo a Lei de Acesso a Informação, o sigilo pode ser imposto quando a divulgação dos dados viola a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem de uma pessoa.
Bolsonaro acumula seis pedidos de sigilo de 100 anos, prazo máximo estabelecido na lei. Entre eles encontra-se o seu cartão de vacina, os dados dos crachás de acesso dos seus filhos Carlos e Eduardo nas reuniões entre o presidente e pastores envolvidos em um suposto esquema de corrupção no Ministério da Educação.
Em outros momentos do debate, Bolsonaro também mencionou o tema de corrupção. Em crítica implícita a Lula, disse que pretende manter o Auxílio Brasil em R$ 600 no próximo ano respeitando as regras fiscais. Essa mesma disciplina, segundo o presidente, foi aplicada na redução do preço dos combustíveis. E concluiu: “Como eu consegui recursos? Não roubando”.
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