ELEIÇÕES 2022

Michelle e Janja: esposas de candidatos ampliam papel na campanha eleitoral

Especialistas destacam que a participação das esposas não é apenas figurativa e que as mulheres tem representatividade na corrida ao Planalto

Tainá Andrade
postado em 21/08/2022 06:00 / atualizado em 21/08/2022 07:03
 (crédito: Ricardo Stuckert e Ed Alves/CB/DA Press)
(crédito: Ricardo Stuckert e Ed Alves/CB/DA Press)

Um elemento em comum, neste ano, nas campanhas dos candidatos ao Palácio do Planalto tem movimentado a disputa além dos próprios personagens: as primeiras-damas. Michelle Bolsonaro inaugurou uma nova função ao cargo de esposa de um presidente. Lugar de destaque na tentativa de reeleição de Jair Bolsonaro (PL), ela tem mostrado que uma primeira-dama pode participar da articulação política, principalmente na busca por conquistar parcelas do eleitorado.

A responsabilidade de Michelle na campanha é diminuir a dificuldade de seu marido em se aproximar do eleitorado feminino — que representa 53% do total, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ao fazer isso, acaba levando os adversários a se movimentarem na mesma direção.

Tanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quanto Ciro Gomes (PDT) têm feito uso das figuras femininas que estão ao seu lado, Janja e Giselle Bezerra, respectivamente, em suas estratégias. A assessoria de Ciro informa que Gisele participa desde setembro do ano passado, e foi "a primeira a entrar em campanha".

A pesquisa Genial/Quaest, divulgada na última sexta-feira, analisou de forma inédita a influência das esposas dos dois candidatos da polarização — Bolsonaro e Lula — e constatou que 57% da população conhece a atual primeira-dama. Nesse grupo, 60% fazem uma imagem positiva dela. Segundo a pesquisa, ela é mais conhecida do que a esposa de Lula, Janja, e tem menos rejeição.

A diferença entre as duas ocorre na análise dos grupos religiosos. "Michelle parece mesmo ser um ótimo cabo eleitoral de Bolsonaro entre os evangélicos, tem 80% de imagem positiva nesse público, no qual Janja não faz tanto sucesso assim. Entre os católicos, a história é diferente. Janja tem 57% de imagem positiva e apenas 19% de rejeição nesse grupo, enquanto Michelle agrada 44% e desagrada 31%", detalhou Felipe Nunes, cientista político e diretor da pesquisa.

A analista política da Prospectiva Consultoria, Aline Contar, destaca que a participação das esposas não é apenas figurativa. "Esse perfil de primeiro-damismo tem sido mais trabalhado principalmente pelo cunho religioso que tem se desenhado no debate atual. Os dois candidatos têm tentado conquistar votos desse público. O papel e a discussão sociológica das mulheres na política também é um dos fatores para esse advento do primeiro-damismo", explicou. Contar destaca, porém, que Janja já era militante, mas Michelle foi puxada para o papel.

Apesar da popularidade nos diferentes eleitorados, a pesquisa mostra que as primeiras-damas não revertem votos como esperado. Uma alta porcentagem, 77% dos eleitores, dizem que a Michelle não influencia a decisão do voto e 81% alegam que Janja não muda a sua opinião.

"Elas têm imagens positivas e negativas em diferentes grupos, mas não importam muito na hora do voto. Acho que o protagonismo seria maior se elas fossem as candidatas, não quando são 'usadas' como ferramenta para tentar conectar os seus maridos com o eleitorado", esclarece Nunes.

Na visão do analista político André César, da Hold Assessoria Legislativa, Michelle Bolsonaro tem limitações e não parece ser capaz de angariar uma parcela maior do voto feminino. "A mulher padrão olha para ela e não se vê representada. A partir da religião, já se tem um corte, depois há uma série de restrições das mulheres ao Bolsonaro que acabam desaguando nela", diz o analista.

Por outro lado, Janja tem uma formação intelectual e cultural mais forte, mas é menos conhecida. "Ela tem que construir, subir escadas. Talvez seja um ativo importante para ela, porque pode trabalhar de maneira mais discreta nesse dia a dia da disputa", observa André César.

O crescente papel das primeiras-damas é um sinal do aumento da participação feminina na política, mesmo que em um ritmo muito lento. Para Carolina Venuto, presidente da Associação Brasileira de Relações Institucionais e Governamentais (Abrig), "ter mulher em um palanque, um espaço que é genuinamente masculino, é sempre positivo. Toda mensagem colabora para uma mudança social, e a gente, que estuda movimento feminino, sabe que tem mulher que quando não vê, não consegue ser".

(Com Mariana Albuquerque*)

 


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