Belo Horizonte — O candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, se prepara para rodar o Brasil em busca dos votos que precisa para voltar ao Palácio do Planalto após mais de uma década. Ontem, em entrevista por escrito ao Estado de Minas, dos Diários Associados, o líder petista disse querer estabelecer pontes de diálogo com diversos setores da sociedade brasileira, como os sindicatos e o empresariado. Ele não poupou críticas ao presidente Jair Bolsonaro (PL) — que será seu adversário nas urnas —, a quem acusou de “fazer palhaçada” nas redes sociais em vez de governar. “Diferente do Bolsonaro, eu vou trabalhar. Desde o primeiro dia, porque não preciso de tempo para aprender a ser presidente — e essa é a principal diferença do Lula de agora para o Lula de 2003. Estou mais experiente, sei o que é governar — e como governar”, afirmou.
Hoje, Lula faz, na Praça da Estação, seu primeiro grande ato político desde o início da campanha eleitoral. Ele vai dividir o palanque com Alexandre Kalil (PSD), candidato ao governo mineiro com o apoio do PT. Também estará no comício o senador pessedista Alexandre Silveira, postulante à reeleição com o endosso da federação à esquerda liderada pelos petistas. “Kalil e Silveira são os meus candidatos aqui em Minas, porque são pessoas com capacidade de diálogo e disposição para o trabalho, que é o que a gente precisa para superar as tragédias criadas por este desgoverno”, disse.
Lula reforça desejo de aliados e pensa em retornar a Minas Gerais antes do primeiro turno, agendado para 2 de outubro. Segundo ele, o estado “tem a diversidade e a complexidade do país”. O ex-presidente prometeu manter os pagamentos mensais de R$ 600 aos cidadãos em situação de vulnerabilidade, mas enfatizou que Bolsonaro “passa por cima das regras” e usa o Auxílio Brasil com fins eleitorais. “Não sei se (esta) é a eleição mais difícil, mas acho a mais importante, porque Bolsonaro não respeita a democracia e tem um projeto de destruição do Brasil”, destacou.
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O ato em Belo Horizonte será a primeira atividade oficial de sua campanha. Por que resolveu iniciá-la por Minas Gerais? Acredita que a eleição presidencial, novamente, poderá ser decidida no estado? Vai visitar outras regiões mineiras até outubro?
Minas é um estado fundamental no Brasil. Segunda maior população, segunda maior economia, com uma diversidade enorme em cada uma das suas regiões. Já estive no Triângulo, em Uberlândia, e na Zona da Mata, em Juiz de Fora, este ano e quero estar em outras regiões, sim, no Norte de Minas, no Vale do Aço. Minas tem a diversidade e a complexidade do país. O país é grande. Este ano, a campanha é muito curta, e esta é uma eleição para selar o compromisso dos brasileiros com a democracia, com a paz, com a inclusão social, com nossa soberania e independência.
Quais as afinidades que o senhor descobriu nos encontros que teve até agora com Alexandre Kalil? Muitas pesquisas mostram que o ex-prefeito de BH ainda é desconhecido por parte expressiva dos eleitores do interior do estado. O que fará para tornar Kalil mais conhecido? E o candidato de sua coligação ao Senado, Alexandre Silveira, como impulsionar a candidatura dele?
Kalil é um cara muito sincero, muito digno, corajoso e que fez um excelente trabalho como prefeito de Belo Horizonte. É um cara com muita disposição de botar a mão na massa, de fazer acontecer. Ele e o Alexandre Silveira são os meus candidatos aqui em Minas, porque são pessoas com capacidade de diálogo e disposição para o trabalho, que é o que a gente precisa para superar as tragédias criadas por este desgoverno.
A campanha do presidente Bolsonaro trabalha com um aumento da popularidade dele entre as classes mais desfavorecidas após o anúncio do Auxílio Brasil e o início dos pagamentos do benefício. O senhor vai manter o auxílio por quatro anos? Onde vai buscar orçamento para isso? E o que tem a dizer aos que estão recebendo ajuda financeira?
Claro que vamos manter o auxílio. E vamos fazer mais para gerar emprego, melhorar a educação pública, valorizar o salário mínimo, cuidar de tudo que cuidamos para o povo viver melhor como vivia no meu governo. Vamos fazer isso com a responsabilidade que tive quando fui governo, com a urgência de cuidar de quem está em situação difícil agora, de resolver quem está passando fome. Já o Bolsonaro, depois de três anos e meio sem fazer nada, decidiu tentar enganar o povo às vésperas da eleição. O que tenho a dizer para quem está recebendo auxílio financeiro é para pegar o dinheiro, porque precisam disso, e votar para tirar esse incompetente da Presidência.
Como avalia as críticas feitas na última sexta-feira pelo seu novo aliado, o deputado André Janones, à comunicação e à linguagem utilizada pela esquerda no país? Concorda com a avaliação dele de que é preciso falar de forma mais direta com o povo brasileiro? Qual será a participação de Janones em sua comunicação?
O Janones é uma jovem liderança que conhece a realidade do povo brasileiro e que aprendeu a falar com o povo pela internet justamente por essa grande qualidade dele. Acho que tem dado contribuições importantes, entusiasmadas, assim como todos os outros partidos e lideranças que estão conosco nesse movimento, como o (Geraldo) Alckmin, o Kalil e tanta gente que está se unindo a nós para devolver ao Brasil a normalidade e o direito de uma vida digna aos brasileiros, com comida no prato e trabalho decente.
Bolsonaro disse, em recente tuíte, que o PT defende “aborto, drogas, ideologia de gênero, desencarceramento, controle da mídia/internet, ladrões de celular, financiamento de ditaduras e diálogos cabulosos”. O seu partido, ou o senhor, pessoalmente, defende algum dos itens citados pelo presidente?
Eu não defendo nada disso, e o povo que viveu o meu governo sabe disso. O Bolsonaro fala essas mentiras para tentar distrair, até vocês do Estado de Minas, do que interessa de verdade. Ele trabalha direito? Ele trabalha? Porque ele não governa, faz palhaçada nas redes sociais, anda de moto, de jet-ski, conta mentira no cercadinho. Quando o país precisou de alguém sério na pandemia, ele foi para a tevê contar mentira e fazer piada sobre “gripezinha”, “histórico de atleta”. Demorou para comprar vacina e ainda recusou oferta para pagar mais barato. As estimativas são de que 400 mil pessoas morreram na pandemia por causa da incompetência dele.
É a primeira vez, desde a democratização, que um ex-presidente da República enfrenta nas urnas um presidente no exercício do mandato. Esta é a eleição mais difícil que o senhor vai disputar?
É a eleição em que eu estou vendo o sujeito que ocupa a cadeira usar, descaradamente, a máquina do governo, passar por cima das regras, jogando as contas e os problemas para o orçamento do ano que vem para tentar gerar uma ilusão na eleição. Mas o povo não está caindo nessa dele. Não sei se é a eleição mais difícil, mas acho a mais importante, porque o Bolsonaro não respeita a democracia e tem um projeto de destruição do Brasil.
Considera que houve corrupção no governo federal durante o seu mandato? Como vai, pessoalmente, se empenhar no combate à corrupção em um eventual terceiro mandato?
O que houve no meu governo foi investigação e transparência, não é como hoje, que o presidente vai decretando sigilo de 100 anos para tudo. No meu mandato, tivemos disposição, nunca vista antes, de dar ao país as ferramentas necessárias para investigar e expor os casos de corrupção. Você sabia que no meu governo, pela atuação da Controladoria-Geral da União, que nós criamos, afastamos 5.390 funcionários por irregularidades? A Polícia Federal recebeu investimentos e tinha autonomia. Criamos regras de transparência, a Lei de Acesso à Informação, porque nada que é público deve ser segredo — o que é o exato oposto do que Bolsonaro diz e faz. Então, o meu compromisso primeiro é acabar com sigilos. Depois, voltar a fortalecer as instituições que acompanham as contas públicas e investigam o que está errado.
O que vai fazer de diferente do que fez nos seus mandatos anteriores? E o que fará que o presidente Bolsonaro não conseguiu fazer nos últimos quatro anos?
Diferente do Bolsonaro, eu vou trabalhar. Desde o primeiro dia, porque eu não preciso de tempo para aprender a ser presidente — e essa é a principal diferença do Lula de agora para o Lula de 2003. Estou mais experiente, sei o que é governar e como governar. Então, vou trabalhar desde o primeiro minuto para cuidar do povo brasileiro, conversando com os governadores, com os prefeitos, com as universidades, com os sindicatos, os empresários. E, trabalhando junto com a sociedade, ouvindo todos, aí vai ser possível devolver a cada homem e a cada mulher as três refeições que o Bolsonaro tirou da mesa dos brasileiros. Devolver os empregos que ele e o (Paulo) Guedes fizeram desaparecer. Devolver aos nossos jovens a possibilidade de acabarem seus estudos e entrarem numa universidade, para serem o que quiserem ser. E devolver o Brasil ao posto de país respeitado internacionalmente, atraindo investimentos produtivos, que atua pela paz, pela solidariedade, que protege seu meio ambiente. Um Brasil que volte a nos dar orgulho.
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