PT "joga verde" para Lira

Correio Braziliense
postado em 01/08/2022 00:01
 (crédito: Marina Ramos/Câmara dos Deputados)
(crédito: Marina Ramos/Câmara dos Deputados)

O ex-diretor do Banco Central José Júlio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetários do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre), não acredita que as eleições devam influenciar as decisões do BC ao longo deste semestre. "O compromisso do BC com o combate à inflação é legítimo e ele dá todos os sinais de que não há espaço para se curvar a pressões políticas. Além disso, agora, ele tem essa prerrogativa em lei, o que reforça a hipótese de que não haverá interferência", afirma.

Senna reconhece que será difícil para o BC interromper o atual ciclo de alta dos juros, com um cenário internacional incerto, a perspectiva de recessão global e o ambiente doméstico instável, que tem pressionado o câmbio.

E, diante da piora no quadro fiscal, com o governo adotando medidas expansionistas, o trabalho do BC está cada vez mais desafiador. "Vemos as decisões de política fiscal do Executivo na contramão do controle da inflação. A redução artificial do IPCA, neste ano, devido à diminuição temporária de tributos sobre combustíveis, visa plantar inflação mais alta no ano que vem. E o período de tempo com que o BC se preocupa é 2023 e 2024. Logo, tanto o ambiente externo quanto o doméstico não ajudam no trabalho do BC. E, por isso, temos dúvida se o Copom terá êxito em manter a inflação na meta", resume Senna.

Estrategista-chefe da Wealth High Governance (WHG), Tony Volpon considera que a boa reação do mercado em relação à nova alta dos juros dos Estados Unidos, na última quarta-feira, foi um alento para o BC brasileiro. "Mas, o que o mercado dá, o mercado tira. A questão fiscal segue indefinida e, de um lado, ninguém sabe muito bem o que o eventual novo governo fará com os gastos e, do lado da receita, ninguém sabe quanto dessa melhora recente vai durar", explica.

O ex-diretor do BC reconhece que, com a autoridade monetária independente, devido ao histórico das eleições anteriores, "a pausa eleitoral, do ponto de vista estritamente de política monetária, não é adequada".

"O BC não vai ter mais desculpa da falta de independência para interromper o ciclo de alta dos juros. Mas vemos que muitos bancos centrais, com tradição mais longa de independência, tipo Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), tendem a fazer isso também", destaca. Para Volpon, o que mais preocupa é a divergência das projeções do mercado com as do Banco Central. "O BC está mais otimista nas previsões e, assim, levanta a dúvida se esse otimismo não está influenciado por uma vontade de parar na próxima reunião do Copom", pontua.

O economista Luiz Gonzaga Belluzzo, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), também não acredita que o BC deverá interromper o ciclo de alta dos juros durante a campanha eleitoral. "O que está parecendo é que o ciclo de aperto monetário não deve parar e talvez tenhamos uma recessão em 2023, que já está contratada, porque o mundo está em desaceleração e o Brasil não será exceção", explica. (RH)

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