Em discurso na 74ª reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), na Universidade de Brasília (UnB), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disparou críticas ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e acusou de corrupto o governo do chefe do Executivo.
"Ultrapassando as piores previsões, o atual governo colocou o Brasil numa máquina do tempo rumo ao passado. Fome, desemprego, destruição dos direitos trabalhistas, inflação, corrupção e ameaças à democracia são as marcas deste desgoverno, que nega a ciência em todos os seus atos", frisou. "Vejam que eu disse corrupção. Vira e mexe, o presidente diz que não tem corrupção no governo dele. Me parece que ele não sabe a família que tem, me parece que ele se esqueceu do (Fabrício) Queiroz, da quadrilha das vacinas."
Lula também atacou o orçamento secreto, comparando-o ao mensalão, ocorrido em seu governo, no qual parlamentares de vários partidos receberam dinheiro de empresas para votar a favor de pautas do Executivo. O PT foi uma das legendas mais atingidas no escândalo, que levou à prisão do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, do ex-tesoureiro da sigla Delúbio Soares e do ex-deputado e atual presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto. "Fizeram um tremendo carnaval com o mensalão e, hoje, estão aprovando o orçamento secreto, que é a maior excrescência política orçamentária do país", ressaltou. "O presidente não tem poder sobre o orçamento, é a Câmara dos Deputados que dirige o orçamento."
O presidenciável reprovou a falta de transparência do governo e as sucessivas declarações de sigilo, de até 100 anos, que Bolsonaro impõe sobre informações potencialmente prejudiciais a ele. "Diferentemente do nosso governo, que tinha o Portal da Transparência e a Lei de Acesso à Informação (LAI). Qualquer pessoa poderia saber sobre a qualidade do papel higiênico no Palácio do Planalto", frisou.
O teto de gastos, adotado no governo Michel Temer, que limita o aumento das despesas à inflação do ano anterior, foi alvo do petista. "Infelizmente, o golpe contra a democracia, em 2016, deu início ao desmonte das instituições públicas. O chamado teto de gastos, que tira dos pobres para dar aos ricos, aprofundou a agenda neoliberal na direção do Estado mínimo", destacou.
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Ciência
À plateia formada por estudantes, pesquisadores e professores, Lula condenou o que chamou de "apagão científico" na gestão Bolsonaro. Ele declarou que educação, ciência e a tecnologia sempre foram prioridade nos seus governos. Listou projetos implementados no período, entre os quais, o Conselho de Ciência e Tecnologia (CCT), que discutia as medidas de fomento para o setor, e o Plano de Ação (PAC) da Ciência, que realizou investimentos na ordem de R$ 41 bilhões entre 2007 e 2010.
Lula ainda citou que o investimento na área saltou de 0,88% do Produto Interno Bruno (PIB) em 2000 para 1,24% em 2013, já no governo de Dilma Rousseff. "A ciência e a tecnologia foram alçadas à condição de eixo central do nosso governo. Educação, ciência e tecnologia não são gastos aos cofres públicos, são investimentos para a soberania deste país", enfatizou.
CNT
Horas depois, Lula e seu candidato a vice, o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB), participaram de evento na Confederação Nacional dos Transportes (CNT). No discurso, o petista comentou sobre a atual situação do país. "Tenho a compreensão de que o Brasil retrocedeu", afirmou.
Lula também disse que o Brasil deveria "tirar proveito da chamada crise internacional", se colocando "como solução para quem está em crise". "A China está em crise com os EUA? Vamos nos colocar à disposição da China para enfrentar os EUA. Os EUA estão em crise com a China? Vamos nos colocar à disposição dos EUA para enfrentar a China. O Brasil tem de tirar proveito do seu potencial."
O evento reuniu empresários do setor e políticos de diversos partidos para falar sobre transporte, infraestrutura e investimento. Lula recebeu as sugestões do sistema CNT para fomentar a geração de emprego na área.
O presidente da entidade, Vander Costa, afirmou que o maior desafio de toda a cadeia produtiva é a falta de investimento. "O Brasil precisa investir em gasodutos. Estamos dispostos a pagar os pedágios, mas colher frutos", completou.
Bruno Batista, diretor-executivo da CNT, lembrou que o capital para os transportes tem diminuído paliativamente desde 2012. Segundo ele, "à medida que investimentos caem, a infraestrutura nacional também cai".