A senadora Simone Tebet (MS) venceu com folga, na quarta-feira, as convenções dos partidos que dão sustentação à sua candidatura à Presidência da República — MDB, PSDB e Cidadania. Mas ainda não pode comemorar o sucesso da aliança. As próximas 48 horas serão decisivas para ela, que depende das negociações no Rio Grande do Sul para receber dos tucanos o nome do candidato a vice da chapa. O dia D para que os partidos se entendam é este domingo, quando MDB e PSDB gaúchos farão suas convenções estaduais.
O candidato tucano ao Palácio Piratini, o ex-governador Eduardo Leite, está com a vaga de vice reservada ao MDB, mas as duas legendas ainda não emitiram sinais de acordo. Na prática, sem a coligação no Rio Grande do Sul, a terceira via corre o risco de naufragar, mesmo que a cúpula do tucanato nacional mantenha a aliança com o MDB.
O preferido para compor a chapa de Tebet é o senador Tasso Jereissati (CE), que disse a correligionários que não está disposto a seguir na empreitada. Nomes alternativos, como o das senadoras Eliziane Gama (Cidadania-MA) e Mara Gabrilli (PSDB-SP), estão sendo testados, mas entusiasmam pouco. Sem Tasso, a ala ligada à cúpula do tucanato defende a indicação do ex-senador José Aníbal para dar peso à chapa.
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Dificuldades
Pré-candidato do MDB ao governo gaúcho, o deputado estadual Gabriel Souza protocolou seu nome para disputar a indicação na convenção do partido. O gesto, porém, não é visto como dissidência. Ele e o presidente da legenda, Baleia Rossi (SP), articularam nos bastidores a aprovação de uma moção "em favor da aliança entre o MDB e a federação PSDB-Cidadania no Rio Grande do Sul".
Em nota, a direção emedebista salienta que "a iniciativa visa ratificar" o acordo nacional formado pelos partidos no sentido de "alinhar uma chapa do centro democrático no estado e no Brasil". Dessa maneira, Souza passa a ter mais um argumento para abrir mão da candidatura e aceitar a vaga de vice na chapa de Eduardo Leite.
A última pesquisa de intenção de votos para o governo gaúcho, divulgada ontem, reforça a viabilidade eleitoral do ex-governador gaúcho e serve de estímulo para a adesão do MDB. Leite aparece à frente do candidato do PL, o ex-ministro do Trabalho e Previdência Onyx Lorenzoni, apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), apesar de estarem tecnicamente empatados — 29% contra 24%, com três pontos percentuais de margem de erro.
O apoio a Leite, articulado pelo coordenador da campanha de Tebet, Germano Rigotto, e pelo ex-senador José Fogaça, também foi defendido por 52 dos 60 prefeitos do MDB no Rio Grande do Sul.
Os principais entraves à aliança vêm do prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, que pretende se candidatar à reeleição com apoio de emedebistas históricos. Ele, inclusive, publicou uma carta aberta, na última terça-feira, na qual declara que "abrir mão da candidatura própria é renunciar à nossa história e comprometer o futuro do Rio Grande". A ala ligada ao bolsonarismo no estado, que tem o ex-ministro Osmar Terra como nome mais conhecido, tem pouca força dentro do MDB para mudar esse quadro.
A última pesquisa DataFolha, divulgada ontem, decepcionou os apoiadores de Tebet, que esperavam ver um avanço mais expressivo da senadora nas intenções de voto. Ela aparece com 2% da preferência do eleitorado, um aumento de apenas um ponto percentual em relação à pesquisa anterior, feita no fim de junho.
Tucanos lutam para manter controle de SP e RS
Com os cenários eleitorais se definindo regionalmente, o PSDB luta para manter o protagonismo em, pelo menos, dois estados: São Paulo e Rio Grande do Sul. O presidente da legenda, Bruno Araújo, trabalha intensamente para viabilizar, até amanhã, o acordo com o MDB para montagem do palanque gaúcho, em torno da candidatura do ex-governador Eduardo Leite.
Mas é em São Paulo que os tucanos vão para o tudo ou nada. A reeleição do governador Rodrigo Garcia é a prioridade número um do partido, em uma disputa que pode furar a polarização entre Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que apoiam candidaturas competitivas na corrida ao Palácio dos Bandeirantes.
Ainda pouco conhecido do eleitorado paulista, Garcia conta com a máquina do PSDB, que domina o estado há mais de duas décadas, e com o apoio formal de partidos fortes, como o MDB, que deve indicar o vice, além do União Brasil e do PP. O tucano conseguiu rachar o PL — que aposta na candidatura do ex-ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas — e o Republicanos, com dissidências que podem minar o candidato bolsonarista. A convenção do PSDB paulista é amanhã.
Os movimentos de Garcia avançam para o lado direito do espectro político, no sentido de consolidar o nome do governador como principal força para enfrentar o candidato da coligação de esquerda, Fernando Haddad (PT), cujo maior cabo eleitoral é Lula. O ex-ministro da Educação lidera as pesquisas de intenção de votos e não é visto como o maior alvo dos tucanos. A estratégia é tirar Tarcísio do segundo turno para amealhar os votos antipetistas em um embate com Haddad.
Para diminuir a rejeição, sobretudo no interior, o petista conta com a participação do candidato a vice-presidente na chapa de Lula, o ex-governador Geraldo Alckmin, e do candidato ao Senado, o também ex-governador Márcio França, ambos do PSB. Aposta na "moderação" dos dois para avançar sobre o eleitorado que não é de esquerda, mas não se anima com Tarcísio e Garcia. Segundo as últimas pesquisas, os dois estão empatados em segundo lugar, com metade das intenções de votos de Haddad.