Convocação contra 'surdos de capa preta'

Na convenção nacional do PL que o oficializou como candidato à reeleição, Bolsonaro volta a atacar ministros do Supremo Tribunal Federal e chama apoiadores para "irem às ruas pela última vez" no 7 de Setembro

O presidente Jair Bolsonaro (PL) voltou a atacar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e convocou apoiadores para protestar no 7 de Setembro contra os "surdos de capa preta". A ofensiva ocorreu durante a convenção do PL, ontem, no Rio de Janeiro, que oficializou a candidatura do chefe do Executivo à reeleição.

"Nós somos a maioria, somos do bem e temos disposição para lutar por liberdade e pátria. Convoco vocês agora para que todo mundo vá às ruas no 7 de Setembro pela última vez. Vamos às ruas pela última vez. Esses poucos surdos de capa preta têm de entender o que é a voz do povo e entender que quem faz as leis são o Executivo e Legislativo", discursou, no Ginásio do Maracanãzinho. "Todos têm de jogar dentro das quatro linhas da Constituição, interessa para todos nós. Não queremos o Brasil dominado por outra potência e temos outras poucas potências de olho no Brasil. O que queremos: paz, tranquilidade, respeito à Constituição."

Bolsonaro enfatizou que ele e todos os demais militares juraram "dar a vida pela pátria". "Esse é o nosso exército, Braga Netto, o povo. Um exército que não admite corrupção, não admite fraude, quer respeito e vai ter. É um exército com 210 milhões de pessoas. Não ousem tocar na liberdade do meu povo", bradou, se dirigindo ao general Braga Netto, anunciado como vice na chapa para as eleições de outubro.

O chefe do Executivo também criticou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva — líder nas pesquisas de intenção de voto — e lideranças esquerdistas da América Latina. "Todos os dias, quando me levanto, tenho uma rotina: dobro os joelhos, rezo o Pai nosso e peço a Deus que esse povo brasileiro nunca experimente as dores do comunismo", enfatizou.

No discurso, Bolsonaro também destacou feitos do governo e elogiou ex-ministros que serão candidatos em outubro, como Tarcísio Freitas, Rogério Marinho e Tereza Cristina. "Estou mostrando o que fizemos e o que pretendemos continuar fazendo. Isso não é virtude, mas obrigação. Quando se fala em corrupção, vocês sabem quem estava na frente do governo. Descasos e roubalheira, obras não concluídas", disse.

O aliado que mais ganhou elogios, porém, foi o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Como disse o presidente, "graças a ele" foram aprovados projetos do interesse do governo, como o que fixou teto de 17% para o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), incidente nos combustíveis, e a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que turbinou benefícios sociais, como o reajuste do Auxílio Brasil, de R$ 400 para R$ 600.

"Este governo, no ano passado, dentro da responsabilidade fiscal, extinguiu o Bolsa Família, que pagava, em média, R$ 190. Tinha gente, tinha mulheres ganhando R$ 80. Passaram a ganhar, no mínimo, R$ 400. E, agora, com o apoio do nosso Parlamento, deputados e senadores, passamos o valor para R$ 600. E conversei essa semana com o Paulo Guedes (ministro da Economia): esse valor será mantido no ano que vem", prometeu. "Arthur Lira é dono da pauta da Câmara, e nada é votado sem decisão dele. Botou para votar a PEC com freio na sanha de impostos no Brasil. Tenham certeza: teremos deflação no corrente mês."

Mulheres

O discurso de Bolsonaro estava marcado para as 11h22 (em referência ao número do partido, 22), mas, nesse horário, o pastor e deputado federal Marco Feliciano (PL-SP) fazia uma oração. O chefe do Executivo iniciou sua fala às 11h30 e passou o microfone, um minuto depois, para a primeira-dama Michelle, após citar a passagem bíblica sobre "mulher virtuosa".

Durante o discurso que durou 13 minutos, Michelle acenou ao público feminino, no qual o marido sofre forte rejeição. "Falam que ele não gosta de mulheres e ele foi o presidente da história que mais sancionou lei para a proteção das mulheres. Foram 70 leis de proteção. Falam que ele não gosta de mulheres, mas ele sancionou a lei que dá a mães de filhos com microcefalia o direito ao BPC (Benefício de Prestação Continuada). Quando ele leva água para o Nordeste, está cuidando da mãe, da dona de casa. A mãe que leva o balde, a bacia na cabeça para fazer alimento e dar banho nos filhos", sustentou a primeira-dama.

Michelle fez diversas referências a passagens bíblicas e lembrou da facada sofrida por Bolsonaro na campanha de 2018. Disse que o marido é um "escolhido por Deus". "Foi a preço de sangue estarmos aqui. Deus ama esta nação, ela é abençoada, ela é próspera e rica. Ela só foi mal administrada", disse. "Ele é um escolhido de Deus. Esse homem tem um coração puro e limpo. A reeleição não é por um projeto de poder, como muitos pensam. Não é por status, porque é muito difícil estar desse lado. A reeleição é por um propósito de libertação e cura para o Brasil."

Jovens

Além do público feminino, Bolsonaro sofre forte rejeição entre jovens. Na convenção, ele usou declarações de Lula sobre a regulação dos meios de comunicação para tentar demover o eleitorado de 16 a 24 anos de votar no petista.

"O jovem de esquerda, como quase todos, tem um telefone celular. Temos de dizer para o jovem de esquerda que seu candidato prega controle social da mídia, diz que quer regulamentar as mídias. Temos de dizer a esse jovem que, em países como Coreia do Norte e Cuba, a internet só é acessada para você ver conteúdos do governo. Não tem liberdade. Você quer perder liberdade nas redes sociais?", questionou.