sociedade

Indigenista interpela Xavier

Em evento sobre povos originários, Ricardo Rao acusa presidente da Funai de conivência com a violência contra comunidades nativas

O indigenista Ricardo Rao — que se asilou na Itália depois de ser exonerado da Fundação Nacional do Índio (Funai) por suposta perseguição e cerceamento ao trabalho que realizava no Maranhão —, interrompeu, ontem, uma reunião da Assembleia Geral do Fundo para o Desenvolvimento dos Povos Indígenas da América Latina e do Caribe (Filac), em Madri, para acusar o presidente da Funai, Marcelo Xavier, de ser conivente com a violência contra os povos originários e de dar proteção à exploração ilegal dos recursos florestais. O vídeo em que ele interpela o dirigente da autarquia correu as redes sociais, e foi publicado pelo próprio Rao.

"Este homem não pertence (a isto) aqui, não é digno de estar entre os senhores. O Itamaraty é uma vergonha. O Itamaraty está sendo babá de miliciano. Marcelo Xavier é um miliciano. É responsável pela morte de Bruno Pereira e (Dom) Phillips. Miliciano. Vai embora. Vai para fora", reagiu o indigenista, interrompendo o evento e apontando o dedo para o presidente da Funai.

Xavier apenas se retirou do auditório e não rebateu as acusações. Ao Correio, Rao explicou que depois de ter interpelado o dirigente da autarquia, foi levado pela Guarda Municipal para interrogatório, do qual participaram representantes do Ministério das Relações Exteriores da Espanha.

"Foi um interrogatório duro, mas civilizado. Em algum momento, perguntei se estava sendo preso. Hoje estou me sentindo melhor por ter dito algumas verdades a esse assassino", reforçou Rao.

Além dos ataques, o indigenista disparou acusações contra Xavier, por suposta omissão na morte do ex-colega de Funai, Bruno Pereira, e do jornalista inglês Dom Phillips. "Ele tem ligações com grupos que exploram povos indígenas em vários locais, inclusive no Amazonas", afirmou.

Ação judicial

Já a Funai informou, por meio de nota, que acionou a Polícia Federal da Espanha contra Rao. A fundação também informou que o indigenista será acionado juridicamente por suposto crime contra a honra, com pedido de indenização por danos morais.

A Funai também informou que foram tomadas providências junto à Polícia Judiciária da Espanha, mas não explicou detalhes sobre o que foi solicitado às autoridades daquele país.

"É importante ressaltar que, por motivos de segurança, o presidente da Funai optou por sair voluntariamente do local do evento, dada a atitude hostil e agressiva do manifestante. Inclusive, os lamentáveis ataques serão objeto de ação judicial por crime contra a honra e ação de indenização por danos morais", destacou a fundação.

A Funai confirmou que Rao foi servidor da autarquia até 2020, tendo sido exonerado por supostamente não ter cumprido as condições de estágio probatório. O indigenista disse que não se intimidará com a reação da fundação.

"Um funcionário com 10 anos de casa pode comprovar que passou em estágio probatório. E posso reverter essa decisão assim que eu precisar, por meios judiciais", ressaltou.