Eleição e segurança

Por que o presidente Jair Bolsonaro (PL) convidou embaixadores para ouvirem, na residência presidencial, um relato sobre questões domésticas da política brasileira? Porque — muitos embaixadores me dizem — a desinformação sobre o Brasil é muito grande e fica melhor, sem intermediários, ouvir da fonte primária.

As narrativas, com a repetição e sem contestação, viram verdade. A maioria das notícias de depois do encontro confirmaram isso. Estavam lá mais de 100 embaixadores. Um deles me diz que sentiu falta de alguns asiáticos, que talvez não tenham entendido o convite. "Foi um encontro inusitado, de falar sobre política interna em platéia  internacional. Mas, afinal, quem começou a internacionalizar o doméstico foi o próprio TSE", observou.

Depois que terminaram os 50 minutos de exposição de Bolsonaro, o presidente conversou amistosamente com os embaixadores. Poucos saíram logo após cumprimentá-lo. Alguns saíram 20 minutos depois, outros ficaram uma hora na conversa com o chefe de Estado.

Nos relatórios para suas chancelarias, os embaixadores certamente relataram a conversa final e informal, e resumiram a argumentação do presidente sobre a segurança das eleições. Eles querem saber, agora, quais serão as conclusões do inquérito da Polícia Federal (PF) sobre a invasão dos computadores do TSE.

O Brasil é importante para 150 países que recebem nosso principal produto: o combustível para o corpo humano. Para os vizinhos, o Brasil é a potência sul-americana e o resultado da eleição — na prática entre dois candidatos — vai definir os próximos anos. Vão contar que o presidente reafirmou que quer eleição limpa e transparente, para que não haja contestação; que os militares foram convidados para a Comissão de Transparência do TSE, mas suas sugestões de segurança, a fim de evitar outro hacker, não foram aceitas. "Ainda há tempo de adotar o que os militares da área cibernética sugeriram", disse o presidente.

Os presidentes do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), convidados, justificaram que não poderiam ir por razões de isenção. Imagino que os ministros do STF que emitem opiniões no exterior consideram que a isenção do magistrado só vale dentro das fronteiras do Brasil.

Fachin reafirmou, no mesmo dia, que o sistema é seguro, transparente e auditável. Mas não seria mais pacificador adotar o comprovante do voto digital acoplado a uma impressora? Por mais de uma vez, foi lei aprovada no Congresso e foi usado em 2002, em Sergipe e no Distrito Federal. O Supremo derrubou. Dilma vetou, derrubaram o veto.

E, recentemente, Barroso foi ao Congresso ajudar a derrubar de novo o projeto. Por quê? Não seria mais fácil ter o comprovante? Todos ficariam satisfeitos e confiantes. E por que não aceitar sugestões para mais segurança? Seria dividir com os militares da defesa cibernética a responsabilidade pela segurança da apuração.

O eleitor, certamente, quer que o voto dado seja realmente computado para seu escolhido. E a transparência precisa dar-lhe certeza disso. Afinal, eleição não é do TSE. É do povo, de onde emana todo poder.

E a eleição é para decidir em mãos de quem ficará o poder político no Brasil. Imagino que os embaixadores observaram nos seus relatórios que o presidente, ao final, repetiu que eleição é questão de segurança nacional.