Intolerância política

Choque entre candidatos no Rio

Simpatizantes de Marcelo Freixo (PSB) e apoiadores do deputado estadual bolsonarista Rodrigo Amorim (PTB) se acusam de hostilidade mútua após grupos se encontrarem na Tijuca. Militantes da esquerda afirmam que direitistas estariam armados

Mais um caso de intolerância política foi registrado ontem, no Rio de Janeiro (RJ), uma semana depois de um militante de direita assassinar o guarda municipal e tesoureiro do Partido dos Trabalhadores (PT) Marcelo Aloizio de Arruda, em Foz do Iguaçu (PR). Por volta das 10h, o deputado federal Marcelo Freixo (PSB) e simpatizantes encontraram o grupo do deputado estadual Rodrigo Amorim (PTB), na Praça Saens Peña, no bairro da Tijuca. O incidente provocou momentos de tensão. Ambos os lados afirmam que marcaram atos públicos rotineiros no local e registraram boletins de ocorrência. 

Freixo é candidato ao governo do Rio na coligação com PT, PSB, PV, PCdoB, Rede e Cidadania. Com o tradicional aparato de esquerda, os militantes realizavam uma manifestação em apoio ao candidato do PSol com camisetas e bandeiras vermelhas, quando se depararam com Amorim e simpatizantes, à altura da Rua General Roca. 

Vídeos divulgados nas redes sociais mostram os dois grupos fazendo provocações, mas ambos negam agressões físicas. Os simpatizantes de Freixo — candidato da chapa de Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin, no Rio — afirmam que sofreram intimidações, inclusive, por parte de bolsonaristas armados que acompanhavam Amorim. 

Freixo gravou um vídeo para denunciar a agressão, e sua assessoria de imprensa confirmou que outros pré-candidatos registraram boletim de ocorrência. "Visitávamos uma tradicional feira da Tijuca quando fomos surpreendidos por um deputado ligado ao governador Cláudio Castro (PL) e ao presidente Jair Bolsonaro que estava acompanhando de dez marginais armados, os quais foram para cima das pessoas, crianças e idosos, dizendo que ali não era lugar para que a gente ficasse. Não é disso que o Rio precisa, o Rio precisa de diálogo. A política não pode oferecer violência."

Crime contra a honra

Amorim, por sua vez, sustenta que mora próximo à Praça Saens Peña e que, por essa razão, passava com apoiadores pela feira. Por meio da assessoria de imprensa, o parlamentar informou que fez registro na Polícia Civil de crime contra a honra praticado por Marcelo Freixo. Ele disse que caminhava em direção ao evento do PTB, em São Cristóvão, quando uma equipe de Freixo começou a ofender sua família e a de Bolsonaro. O parlamentar informou que também registrou denúncia no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra Freixo, sob a alegação de que ele fazia campanha antecipada para o cargo de governador. Amorim negou ter existido troca de agressões físicas e desmentiu que assessores estivessem portando armas no local. 

"Estava a 300 metros da minha casa, em paz, com amigos, indo para um evento do PTB em São Cristóvão, quando começo a ouvir ofensas contra a minha família e pessoas fazendo ameaças. Imagino que eles vão divulgar tudo ao contrário, nos xingando do que eles são. Freixo estava com seguranças armados, e seguranças que não são cedidos formalmente. Mas vamos em frente. Não posso ouvir ofensas ao presidente, que tem meu apoio e do meu partido, e ficar calado", declarou o deputado estadual.

Por meio de nota à imprensa, o Diretório Estadual do PT defendeu que houve "empurrões, quebra de bandeiras e ameaças" contra o grupo de esquerda. 

Em 2018, durante a campanha, Amorim protagonizou um gesto polêmico, ao ser fotografado quebrando uma placa com o nome de Marielle Franco, vereadora pelo PSol assassinada em março daquele ano. O crime não foi elucidado. Na foto em questão, ele está ao lado de Daniel Silveira, deputado federal anistiado por Bolsonaro. No fim da tarde de ontem, Amorim publicou imagem junto a Silveira, no encontro do PTB, com a frase: "O terror da turma do mimimi esquerdista!".  

Assassinato

O incidente de ontem entre bolsonaristas e militantes de esquerda é mais um episódio do crescente registro de conflitos entre os grupos. Na noite do último dia 9, Marcelo Arruda — dirigente petista em Foz do Iguaçu — foi baleado  pelo policial penal federal Jorge Garanho, apoiador de Bolsonaro. Arruda comemorava o aniversário com uma festa temática sobre o PT e morreu nove horas depois. 

Um ato pela paz foi convocado, hoje, para ocorrer em Foz do Iguaçu em memória do guarda municipal, com vigilância do 14º Batalhão de Polícia Militar e da Guarda Municipal. A Polícia Civil do Paraná anunciou, na sexta-feira, que descartou motivação política no assassinato. A família de Arruda contesta a conclusão.

Twitter/Reprodução - Rodrigo Amorim é flagrado discutindo com militantes do PSB
Twitter/Reprodução - Freixo divulgou vídeo sobre incidente: "marginais armados"