Bolsonaro relembra a facada

Em meio à discussão sobre violência política, o presidente Jair Bolsonaro (PL) desembarcou em Juiz de Fora (MG) pela primeira vez depois da facada que levou na cidade na campanha eleitoral de 2018. Durante discurso em evento evangélico, o chefe do Executivo relembrou o caso, destacando os primeiros socorros, a transferência para São Paulo e a série de cirurgias.

Segundo Bolsonaro, médicos avaliaram que, a cada 100 pessoas vitimadas por uma facada como a desferida contra ele, apenas uma tem chance de sobrevivência. "Alguns acham que é sorte. Eu acho que é outra coisa: é a mão de Deus", afirmou, destacando que não morreu porque tinha de "cumprir uma missão".

No discurso, Bolsonaro também voltou a colocar em dúvida a lisura das eleições de 2018, sustentando que ganhou no primeiro turno. De novo, porém, não apresentou provas.

Fachin

Bolsonaro repetiu ataques ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Edson Fachin. "Quem foi que tirou o Lula da cadeia? Foi o ministro Fachin. E onde está o ministro Fachin? Conduzindo o processo eleitoral. Suspeição, ou não é? Qualquer aluno do primeiro semestre de direito diz que é suspeição", alegou. Na verdade, Fachin anulou as condenações do petista na Lava-Jato. O ex-presidente foi solto por outro motivo: o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) derrubou a possibilidade de prisão após condenação em segunda instância.

O chefe do Executivo também disparou críticas a Lula, líder das pesquisas de intenção de voto para a Presidência. "Escolhas erradas levam a políticas erradas. Querem botar um navalha para dirigir essa Ferrari chamada Brasil? Vai capotar."

O presidente pediu aos eleitores que votem com a razão e não com o coração ou por raiva. "Nós somos escravos das nossas escolhas. E temos escolhas pela frente. É um casamento, é a decisão de ter filhos, de comprar um imóvel, de votar. 'Vota com o coração, com raivinha, com o fígado'. Ah! Tem de ser com a razão. Vote em quem bem entender, mas tem que ser com a razão", frisou. "Alguns querem botar para dirigir a nação uma pessoa comprovadamente corrupta, e parece que fica coçando a mão. Tem gente que acha que vai dar certo. Não tem como dar certo."

A exemplo de outras ocasiões, Bolsonaro desabafou com o público evangélico afirmando não ter uma vida perfeita e que o cargo de presidente o faz viver como um "presidiário em prisão domiciliar sem tornozeleira eletrônica".

Após o encontro com religiosos, o chefe do Executivo seguiu para a Santa Casa de Misericórdia da cidade. Foi no local que ele recebeu os primeiros socorros após a facada. O presidente se disse grato à equipe médica e se emocionou lembrando que, no dia do atentado, rezou para se recuperar e não deixar órfã a filha, Laura.

Bolsonaro também falou de Adélio Bispo, autor do ataque. O agressor foi diagnosticado com transtorno delirante permanente e segue preso. A Polícia Federal concluiu que ele agiu sozinho. "Alguns perguntam: 'Quem foi que tentou te matar?' Temos o assassino, tem três advogados com condições, não são advogados pobres. Um chegou de avião no dia seguinte. Temos pessoas que tentaram entrar na Câmara usando o nome do Adélio, entre tantas e tantas coisas (...), mas a gente sabe que as coisas são complicadas no Brasil."

Horas antes, Bolsonaro participou de uma motociata. No ato, uma simpatizante de Lula o chamou de corrupto e foi retirada do local por seguranças.