Para o PT, a conclusão da Polícia Civil do Paraná sobre o assassinato do guarda municipal Marcelo Arruda corrobora o pedido de federalização da investigação feito pelo partido à Procuradoria-Geral da República (PGR). O tesoureiro da legenda em Foz do Iguaçu foi morto a tiros pelo agente penitenciário Jorge Guaranho, apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL), mas o inquérito descartou crime político.
"Ficou evidente que a Polícia Civil do Paraná não quer reconhecer que foi cometido um crime de ódio com evidente motivação política, que tem de ser investigada na alçada da Justiça Federal, como requisitamos à PGR na última terça-feira", afirmou a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, em vídeo divulgado ontem.
O partido avalia apresentar uma nova manifestação à PGR, com um adendo ao protocolo já realizado na terça-feira que inclua os novos fatos. Gleisi Hoffman classificou como "açodada" e "contraditória" a conclusão do inquérito e disse que o desfecho é "mais um incentivo aos crimes de ódio e à violência política comandadas por (presidente Jair) Bolsonaro no Brasil". "É grande a nossa indignação", enfatizou. "As provas que a própria polícia recolheu mostram que o assassino foi até a festa de Marcelo de caso pensado, para agredir e ofender exclusivamente por motivação política. E, mesmo assim, a delegada do caso quer concluir que a motivação foi pessoal, exatamente a versão que Bolsonaro e seu vice, (Hamilton Mourão), querem impor contra a verdade dos fatos."
Sem citar o resultado do inquérito, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também se manifestou. "Marcelo Arruda era um trabalhador, pai, servidor público no Paraná. Planejou sua festa de aniversário em paz, com sua família. Marcelo é vítima de uma violência que foi contra a democracia", postou no Twitter o pré-candidato à Presidência da República.
O diretório petista do Paraná foi o primeiro a criticar o resultado do inquérito. Em nota, afirmou que o encerramento das investigações "é uma ofensa à família de Marcelo". "Entendemos que as conclusões que constam no inquérito apresentado pela Polícia Civil e Secretaria de Segurança Pública são prematuras e podem levar à interpretação de que o que teria ocorrido com Marcelo seria fruto de uma briga comum, sem motivações políticas", diz um trecho.
Ao Correio, o presidente do PT no Paraná, deputado estadual Arilson Chiorato, questionou a celeridade com que a apuração foi conduzida. "A investigação foi encerrada antes mesmo da missa de sétimo dia de Marcelo. Não estou questionando o trabalho da Polícia Civil, mas vários elementos não foram contemplados nas investigações, mesmo com pedido dos advogados, como os aparelhos eletrônicos, o celular do assassino, que pode ter ligado para alguém antes do crime", ressaltou.
No âmbito estadual, o partido se mobilizou pela criação de uma comissão parlamentar na Assembleia Legislativa para acompanhar as investigações a partir de segunda-feira. Além de Arilson Chiorato, vão compor o colegiado os deputados Tadeu Veneri (PT) e Delegado Jacovós (PL).
"Parece que eles quiseram mais tirar essa marca de crime político do caso do que investigar realmente a motivação", destacou Chiorato. "Ele (Guaranho) não conhecia as pessoas da festa, que outra motivação teria? Ele invade a festa com motivação política, mas na hora de puxar o gatilho não foi político?"
Saiba Mais
Bolsonaristas
Enquanto a oposição denuncia o incentivo de Bolsonaro à violência, a base governista tenta blindar o presidente. Após a divulgação do resultado do inquérito, aliados do chefe do Executivo foram às redes sociais criticar as alegações de motivação política no assassinato.
O deputado federal Pedro Lupion (PP-PR) afirmou que o inquérito "prova que quem tentou levar o presidente Jair Bolsonaro para o meio do caso agiu de má-fé". Já o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, criticou a cobertura da imprensa. "Agora não seria a hora de dezenas e dezenas de horas de esclarecimentos e pedidos de desculpa? Ou é isso ou a parcialidade vai ficar escancarada. Só que o povo não é bobo. E percebe. E, na hora certa, vai falar", enfatizou.
Filho do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) indagou: "Será que aqueles que correram para acusar um bolsonarista de ter assassinado um lulista por motivação política vão agora correr para se retratar?" (Com Agência Estado)