Eleições 2022

Eleições 2022: candidatos apostam no TikTok para alcançar eleitores

Com vídeos rápidos e simples, a plataforma é uma das maiores no país. Especialista avalia os riscos de disseminação de informações falsas na rede social

A cada 100 brasileiros, 45 estão no TikTok, segundo levantamento da empresa Bytedance. Isso faz com o que o país seja o segundo no ranking dos que mais usam a rede social, ficando atrás somente da China. Uma outra pesquisa, desta vez da Comscore, aponta que dos 126,5 milhões de brasileiros com acesso à internet, 58% são usuários do aplicativo.

Por isso, não é de se estranhar que os principais candidatos às eleições de 2022 estejam na plataforma. Para se ter uma ideia, o ex-presidente Lula (PT), líder nas pesquisas de intenção de voto, tem mais de 150 mil seguidores no Tiktok e meio milhão de curtidas na rede.

O atual presidente e pré-candidato a reeleição, Jair Bolsonaro (PL) soma 1,8 milhão de seguidores e quase 20 milhões de curtidas nas publicações da plataforma. Em terceiro lugar nas pesquisas ao Planalto, Ciro Gomes (PDT) contabiliza 177 mil seguidores e mais de 1,3 milhão de curtidas no TikTok.


Na corrida ao governo de Minas, Romeu Zema (Novo) tem mais de 36 mil seguidores. Já Kalil (PSD) tem um perfil criado recentemente com 38 seguidores na rede social.


Outros nomes do cenário político também têm ganhado peso entre os usuários do TikTok. É o caso de Jair Renan Bolsonaro, o filho “04” do presidente, que, segundo um levantamento preliminar realizado por pesquisadores da UFMG, é o perfil mais influente da rede social no Brasil.

O que faz o TikTok ser tão popular?


O coordenador da pós-graduação em Comunicação Digital da PUC Minas, Caio Cesar Oliveira, explica que a rede social tem um esquema de identificação mais eficiente e mais rápido do que as outras plataformas. Em primeiro lugar, ele cita a possibilidade de consumir o conteúdo do TikTok mesmo sem criar uma conta.


Outro ponto são os algoritmos. “Eles estão prestando atenção em uma série de indicadores: o tempo que você fica com o videozinho,a quantidade de loops, o acelerômetro do seu celular, se ele se mexe ou não, a câmera ativa e ver se você está sorrindo ou não, um monte de coisa que pode estar acontecendo durante seu uso do TikTok que vai indicando se você curte determinado conteúdo ou não”, aponta. Segundo o professor, com esse funcionamento, a rede consegue descobrir, de uma maneira muito mais assertiva, que tipos de conteúdos as pessoas gostam, privilegiando a entrega desses vídeos.

Em terceiro lugar é a natureza do conteúdo produzido. De acordo com o especialista, ao contrário do que se vê no Instagram, não existe tanto cuidado estético nas produções do TikTok. “Vale parede sem reboco no fundo, cama com roupa suja em cima, cachorro latindo, cimento descascado e etc. E isso também encoraja as pessoas a produzirem muito conteúdo, é uma plataforma que tem uma adesão muito grande”, avalia.


Por fim, ele cita a entrega orgânica dos conteúdos para os usuários do TikTok, que é maior que em outras redes sociais, como Twitter, Facebook e Instagram. “Então, é uma plataforma que é muito agressiva nesse aspecto. Ela pega a pessoa e ele fica ali e se sente em casa rapidamente”, pontua.

TikTok e eleições


Este é o primeiro ano eleitoral em que o TikTok está em alta. Nas últimas eleições presidenciais, a grande rede social era o Whatsapp, que deve continuar no primeiro lugar também em 2022 devido às interações em grupo, segundo o professor Caio César. Bem como o Telegram.


Mas não dá para negar que o TikTok deve influenciar a corrida eleitoral. Para o especialista, a maior entrega de conteúdos para os usuários é um trunfo que personalidades políticas e candidatos devem usar e abusar na campanha deste ano. Além disso, as lives realizadas na rede são mais longas e permitem interação constante com a audiência.

Sem contar que os vídeos curtos são mais fáceis de compartilhar. “É um tipo de conteúdo, aquela história rapidinha dos vídeos com intervenção de texto, que acaba sendo um formato que é muito compartilhado. Então, tem um potencial de uso muito grande e isso, ao mesmo tempo que é bastante interessante, porque você vê vários fluxos de ideia, há também a preocupação com a disseminação de ações de desinformação”, pontua.


Na avaliação do professor, não apenas o TikTok, mas todas as redes sociais poderiam fazer um esforço maior para controlar a disseminação de conteúdo impróprio ou falso. “Quando o conteúdo é denunciado, o tempo que se tem até tomar uma atitude, até que chegue em um moderador para efetivamente validar aquele conteúdo ou tirá-lo do ar, esse intervalo já proporciona um grande estrago, ainda mais em uma plataforma que está sendo constantemente utilizada, como o TikTok”, aponta.


Na prática, isso significa que influenciadores e até candidatos podem se aproveitar dessa “falha” para espalhar desinformação. Além disso, a forma como os vídeos são consumidos dificultam o combate à disseminação de fake news. “O consumo de mídia no celular é uma coisa muito individual, você não tem muito o que acontecia no contexto da mídia de massa que era família assistindo o jornal e conversando”, compara.

O que podemos esperar na campanha?


Nas últimas semanas, dois casos emblemáticos de desinformação circularam no TikTok. Em primeiro lugar,a fake news da existência de Ratanabá. Além do vazamento do caso da atriz Klara Castanho, que teve a privacidade exposta nas redes. As duas situações levantaram debates sobre o funcionamento da plataforma e o comportamento do usuário que podem ser levados para a corrida eleitoral.


Para o professor Caio César, isso mostra a importância de três pontos: a regulação, os mecanismos de moderação e o senso crítico do usuário. “Tem um desafio que é o do letramento, de aprendermos a lidar com as informações, checar e quem produz deve tomar o cuidado de sempre mostrar as fontes, porque, quando isso começa a ser amplamente trabalhado, aqueles que não apresentam vão ser as fontes desconfiavéis de informação”, avalia. “E o desafio é enorme porque não dá tempo de fazer as outras duas coisas, que é a regulação e os mecanismos de moderação, porque a plataforma fica esperando para ver o que a norma vai indicar, ela tem os termos de uso nas normas internas, mas não vai querer policiar o conteúdo. Ela vai agir pelos mecanismos de denúncia, e as pessoas têm que aprender a denunciar o conteúdo falso e ofensivo”, justifica.

O especialista também explica que o momento é de ataque e defesa, em um momento em que a informação circula muito rapidamente. “Além de apresentar seus posicionamentos, você tem que refutar o que se fala sobre você, é um embate. Isso é ao mesmo tempo interessante e perigoso, porque essa apropriação das plataformas é o que o Bolsonaro faz nas lives dele, porque não tem ninguém para colocar o que ele fala em contexto, que é o papel da mídia”, conclui.

 

O que diz o TikTok?

Agência Brasil - Tik Tok
O Estado de Minas questionou o diretor de Políticas Públicas do TikTok no Brasil, Fernando Gallo, sobre o combate às fake news na plataforma. Ele explica que “todos os vídeos publicados em nossa plataforma precisam seguir as nossas Diretrizes de Comunidade e vídeos que ferem essas regras são excluídos quando identificados. Nossas Diretrizes valem para quaisquer temas, inclusive política. Temos um vasto trabalho para combater conteúdo com desinformação e que possam colocar em risco a integridade cívica em especial. Queremos garantir um ambiente de bem-estar e segurança no TikTok”.

Segundo o representante, as ações são semelhantes às tomadas em eleições em outros países. Ele ainda ressalta que há um acordo de colaboração com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Além do TikTok, o acordo conta com a participação de outras plataformas para combater a desinformação, “além de uma série de recursos que ajudam os usuários do TikTok a terem acesso a conteúdo educativo e confiável”, explica Gallo.

 

Como parte do trabalho em conjunto com o TSE, a rede criou uma página com informações sobre o processo eleitoral de 2022. Os vídeos identificados como relacionados ao tema, também recebem uma etiqueta, que direciona para a página. Além disso, o TikTok afirma trabalhar em parcerias com agências de checagem de fatos, que ajuda a confirmar a veracidade de conteúdos para que os funcionários possam atuar de forma adequada para evitar a disseminação de desinformação na plataforma.

 

Gallo explica, ainda, que todo o conteúdo no TikTok precisa seguir as Diretrizes de Comunidade, independentemente do tema abordado. “Existem alguns temas sensíveis que são mais fáceis de detectar por meio da tecnologia, mas outros temas, como as eleições, exigem uma análise do contexto. Esse tipo de conteúdo, portanto, passa por uma revisão humana - especialmente porque as categorias de desinformação e discurso de ódio dependem muito do contexto em que são comunicadas”, aponta .

“Para se ter uma ideia, de janeiro a março deste ano, tivemos uma taxa de 83,6% de remoção de vídeos na categoria de integridade e autenticidade, cobrindo a parte de desinformação. Aliás, 60,8% desses vídeos foram removidos antes de serem até mesmo visualizados”, acrescenta.

 

Como saber se uma informação é falsa?

Para finalizar, confira as dicas do professor Caio Cesar para saber se uma informação divulgada nas redes sociais é falsa ou não:

Use a perspectiva - Dê um passo para trás e analise. Não é que você vai questionar toda e qualquer informação, mas não tomar tudo como verdade imediatamente. Valorize as coisas que vem com crédito;

Compreenda que as plataformas sociais não são a antítese da mídia de massa - Quando chegar uma informação, veja se isso está na mídia de massa, veja se tem mais gente falando sobre, não adianta só olhar na lista de recomendados;

Pense muito antes de compartilhar um conteúdo - Leia, assista até o fim e compartilhe com contexto. Coloque o seu comentário, reflita e leia antes de publicar.

Pense em qual é a consequência de compartilhar uma informação - Isso é uma coisa que vai trazer algum benefício? Vai prejudicar alguém?

Produza conteúdo com créditos - Quando isso fica introjetado, as pessoas vão desvalorizar a desinformação e isso leva a discussão para outro nível, sobre a origem dos dados.

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