crime de ódio

Polícia investiga se homicídio do dirigente petista foi premeditado

Os investigadores apuram, ainda, se o autor teve acesso a um aplicativo do circuito interno de imagens clube antes de invadir o local

A Polícia Civil do Paraná investiga a hipótese de o homicídio do dirigente petista Marcelo Arruda, no último sábado, pelo guarda penitenciário Jorge Guaranho — apoiador do presidente Jair Bolsonaro (PL) — ter sido premeditado. Isso porque o assassino teria passado pelo local e visto a comemoração do aniversário da vítima, cujo tema era o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT, e voltado depois para uma possível intimidação.

Essa possibilidade entrou no radar dos investigadores porque, conforme depoimento prestado na última segunda-feira, a mulher de Guaranho admitiu que o marido, por ser sócio, fazia uma "ronda" no local onde a festa de Arruda era realizada — na Associação Recreativa Esportiva Segurança Física Itaipu (Aresf). Conforme ela relatou, essas "vistorias" eram realizadas frequentemente pelos integrantes da entidade.

Outro aspecto que chamou a atenção da polícia é que do lado de fora da Aresfi não se podia enxergar a parte interna do salão, onde era realizada a festa de Arruda — sem conta que, do lado de fora da associação, não havia qualquer menção ao tema do aniversário. Os investigadores apuram, ainda, se Guaranho teve acesso a um aplicativo do circuito interno de imagens clube antes de invadir o local.

Saiba Mais

Descolamento

Na tentativa de descolar a imagem de casos de incentivo à violência durante as eleições, o presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou, ontem, que o motivo da briga que terminou com o assassinato de Arruda "não se justifica". A polícia trabalha com a hipótese de o homicídio tenha sido praticado por ódio político.

"Resgatamos uma foto, de 2017, eu com o irmão deles (Marcelo Arruda) que morreu. Que, inclusive, ele pediu pra mim — eu não lembrava — que eu votasse algo com eles, e eu votei com eles. Votei a favor desse petista que faleceu lá", disse Bolsonaro, sem dar mais detalhes sobre a pauta que apoiou e era defendida por Arruda.

Bolsonaro também criticou a imprensa por dizer que em vez de ele fazer contato com a viúva do dirigente do PT, procurou os irmãos dele, que são seus apoiadores. "O que a imprensa fala? 'Não falou com a viúva'. Meu Deus do céu! O Otoni (de Paula, deputado/MDB-RJ) foi lá e conversou com dois irmãos. Se a viúva estivesse lá, conversava com ela também", assegurou.

Viúva critica contato com irmãos

Viúva do guarda municipal e tesoureiro do PT Marcelo Arruda, Pâmela Suellen Silva acusou o presidente Jair Bolsonaro (PL) de, ao ligar para os irmãos do petista morto, estar mais preocupado com a repercussão política do caso. Ela disse que não sabia da chamada de vídeo. “Achei aquilo um absurdo. Acredito que Bolsonaro está preocupado apenas com a repercussão política, pois, na ligação aos irmãos do Marcelo, disse que estão tentando colocar a culpa nele”, afirmou.

Escalado pelo Palácio do Planalto, o deputado Otoni de Paula (MDB-RJ) foi até Foz do Iguaçu, na última terça-feira, e intermediou uma chamada de vídeo entre Bolsonaro e José e Luiz Arruda, irmãos de Marcelo que são simpatizantes do presidente. A ponte entre eles foi feita pelo blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio — que já esteve preso por ameaçar a integridade física dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Apesar de arrolado no inquérito sobre as fake news que tramita na Corte, ele é candidato a deputado federal pelo Paraná.

Na ligação, Bolsonaro afirmou aos dois irmãos que a imprensa tenta culpá-lo pelo assassinato. Segundo Pâmela, José e Luiz não estavam na festa de Arruda.

“Não imaginei que Bolsonaro chegasse a ponto de deturpar a real história. Se não foi por motivos políticos, então por que esse rapaz (Jorge Guaranho, o assassino) foi até lá? A gente não conhecia ele, nem sabia quem era. Ele tirou a vida do meu marido pela aparência do Marcelo? Óbvio que foi por motivo político”, afirmou Pâmela.

Os advogados que representam a viúva divulgaram uma carta na qual afirmam que o assassinato de Arruda foi “crime de ódio em face de razões políticas”. “Além da vítima, o assassino colocou a vida de dezenas de pessoas em risco, o que indica que a atitude corajosa de Marcelo, ao repelir a injusta agressão, evitou que mais pessoas fossem mortas. Mais de 11 projéteis não deflagrados foram encontrados na pistola do assassino, o que demonstra o potencial ofensivo e letal do ataque”, salientaram os advogados Daniel Godoy Junior, Paulo Henrique Guerra Zuchoski e Ian Martin Vargas.