Com as alianças formalizadas em São Paulo, a disputa no principal colégio eleitoral do país ganhou contornos mais delineados em relação à polarização nacional, com abertura para uma terceira via competitiva. De um lado, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro da Infraestrutura, candidato do presidente Jair Bolsonaro (PL), arrematou para o seu lado a força do cacique do PSD, Gilberto Kassab, nome conhecido dos paulistas.
Na ponta oposta, com a saída de Márcio França (PSB) da disputa pelo governo estadual, o palanque da esquerda se consolida em torno de um único nome — Fernando Haddad (PT) —, que terá ao seu lado, além do ex-presidente e líder nas pesquisas Lula, outra autoridade da política paulista, o ex-governador Geraldo Alckmin, do PSB.
As apostas do grupo bolsonarista são de que a rejeição histórica do PT no interior paulista abra vantagem para o nome de Tarcísio, que ainda é desconhecido do eleitorado médio. Além disso, há a associação com o próprio Jair Bolsonaro, que gera um efeito ainda não devidamente mensurado pelas pesquisas de intenção de votos.
Cezinha de Madureira (PSD-SP), que articulou o apoio de Kassab ao ex-ministro, diz que a aliança com Tarcísio foi uma decisão estratégica em que o próprio Kassab considerou positiva diante dos dados avaliados internamente. "Viu a pesquisa, os números fizeram com que ele fechasse essa aliança. Essa aproximação traz uma robustez para o processo eleitoral do Tarcísio porque, onde o Kassab está, o eleitorado sabe que há uma credibilidade", explicou. O parlamentar estima que, no primeiro turno, o ex-ministro teria de 30 a 35% dos votos, mas, com as alianças, poderá chegar perto de 40%.
A coligação entre Republicanos e PSD em solo paulista foi uma resposta ao convite feito pelo PT a Kassab, de integrar a chapa de Haddad como suplente do candidato ao Senado (inicialmente, Márcio França). Para articuladores da campanha pessedista, os petistas não respeitaram a estatura política de Kassab. O presidente do PSD pleiteava a vaga de vice na disputa paulista, que foi preenchida pelo correligionário Felício Ramuth, fechando a chapa com Tarcísio.
Haddad, que lidera com alguma folga as pesquisas de intenção de votos, recebe hoje o apoio oficial de França em evento marcado para Diadema, na Grande São Paulo. Ontem, o pessebista divulgou vídeo em suas redes sociais confirmando sua saída da corrida pelo Palácio dos Bandeirantes, para disputar o Senado pela coligação de esquerda, decisão que já era dada como certa no mundo político. "Há tempos eu prometi. Foi muito difícil, mas eu me comprometi: quem estivesse na frente nas pesquisas poderia ser o candidato do nosso campo político", explicou França. "Fernando (Haddad), vai você. Nós vamos juntos."
A saída de Márcio França reforça a campanha de Haddad e resolve um dos vários conflitos entre PT e PSB pelos palanques estaduais. O gesto de França terá, inclusive, repercussões. Segundo interlocutores do PT, a desistência do senador Fabiano Contarato (PT-ES) de concorrer ao governo do Espírito Santo abrirá espaço para o apoio petista à reeleição do governador capixaba, Renato Casagrande (PSB). Nesta semana, houve uma reunião com os dois postulantes para tentar chegar a um acordo, ainda sem definição.
Tucano fortalecido
O acordo do PSDB com o União Brasil para a disputa ao governo do estado também será oficializado, hoje, em evento no Transamérica Expo Center, na capital paulista. O encontro já ocorre em clima de convenção partidária antecipada e terá a filiação de novos membros. O governador Rodrigo Garcia, que tenta permanecer no cargo por mais quatro anos, será apresentado oficialmente como pré-candidato tucano e declarará apoio a Luciano Bivar, presidente nacional do União Brasil, ao Planalto, ignorando o acordo nacional da terceira via com o MDB, que lançou a pré-candidatura da senadora Simone Tebet (MS).
Segundo fontes ligadas ao PSDB, Bivar "foi com tudo" para cima dos tucanos em São Paulo. Dono da maior fatia do Fundo Eleitoral e do maior tempo de televisão e rádio (veja quadro) na propaganda obrigatória, o União exige, agora, a vaga de vice — e o PSDB tende a acatar. Além de Milton Leite, o partido de Bivar tem ainda, no portfólio de candidaturas, o ex-ministro da Economia Henrique Meirelles, o ex-secretário da Receita Federal Marcos Cintra, e o presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), o médico Claudio Lottenberg.
Outra exigência do União é que Rodrigo Garcia abra espaço em seu palanque para Bivar. Quem perde é a senadora Simone Tebet, que acreditava ter um palanque forte no maior colégio eleitoral do país. Agora, terá que dividi-lo com Luciano Bivar. O governador paulista já declarou publicamente que apoiará os dois candidatos da terceira via à Presidência. Já o PSDB ganha a máquina política do União, ultrapassando os dois principais adversários em tempo televisão e rádio.
No embate em São Paulo, os tucanos estão confiantes de que podem derrotar Tarcísio, já que Haddad não é considerado o alvo principal, no momento, já que a avaliação interna é que quem chegar ao segundo turno contra o petista vencerá as eleições. O crescimento recente de Garcia nas pesquisas, após a saída de Márcio França do páreo, não foi vista com surpresa.
Enquanto Tarcísio tem a militância bolsonarista para o apoiar, o PSDB conta com 27 anos de hegemonia do estado e com praticamente todas as prefeituras paulistas. O partido avalia que era questão de tempo até que o atual governador despontasse, já que o PSDB não tem a mesma agilidade da militância bolsonarista.