O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) iniciou, nesta semana, a convocação dos mais de 2 milhões de eleitores que vão atuar como mesários nos dois turnos do pleito, em 2 e 30 de outubro, respectivamente. Entre os convocados, a sensação é de medo por causa da polarização política no país.
A publicitária Natália Ribeiro, 35 anos, trabalhou como mesária em eleições anteriores e, neste ano, ainda não sabe se vai ajudar a Justiça Eleitoral. Ela acredita que os voluntários podem correr riscos diante dos ânimos acirrados pelo debate político. "Estamos vivendo um momento inseguro. Até mesmo um mesário, que está ali voluntariamente, pode sofrer violência", disse ela.
O corretor de imóveis Mateus Junior, 39, que já trabalhou como mesário em eleições anteriores, aponta que o discurso de ódio está mais presente agora. "As pessoas estão muito intolerantes em tudo, não só na questão política. Vemos casos de violência diariamente, e na política não é diferente. Nas redes sociais, por exemplo, algumas pessoas são ameaçadas, perseguidas, agredidas. Tudo isso só por terem posicionamentos diferentes", lamentou.
Uma pesquisa divulgada pelo Instituto Ideia, em maio, revelou que 30% dos eleitores convocados para trabalhar como mesários têm medo de sofrer algum tipo de violência no dia do pleito. Dos consultados, 70% acham que o TSE deveria adotar medidas de segurança adicionais este ano, como reforço no policiamento e convocação de mais fiscais.
Dos entrevistados que trabalharam em eleições passadas, 22% disseram ter tido algum tipo de problema: 34% relataram confrontações verbais (xingamentos e acusações); 32%, hostilidade; 22%, ameaças; 21%, exposição de dados pessoais; e 19%, ataques físicos.
Dos que se preocupam com a violência deste ano, 58% temem ameaças; 55%, agressões físicas; 52%, confrontações verbais; 47%, hostilidade; e 36%, ataques com armas. Foram ouvidos 651 mesários entre abril e maio de 2022.
Segundo o TSE, em 2018, 2,1 milhões de eleitores trabalharam como mesários. Neste ano, o prazo para nomeação dos eleitores que vão trabalhar nas eleições termina em 3 de agosto. Devem ser convocados, preferencialmente, quem tem nível de escolaridade superior, professores e servidores da Justiça. Todo eleitor com mais de 18 anos de idade em situação regular perante a Justiça Eleitoral pode exercer a função de mesário. O serviço não é remunerado, mas quem participar recebe auxílio-alimentação de até R$ 45 em cada turno e tem direito a dois dias de folga no trabalho para cada dia de eleição.