Com um discurso antiassédio, a nova presidente da Caixa Econômica Federal, Daniella Marques, prometeu fazer uma gestão dedicada à proteção das 35 mil mulheres que trabalham no banco estatal. A economista assume o cargo após a renúncia de Pedro Guimarães — envolvido em denúncias de assédio sexual e moral.
A cerimônia oficial de posse, realizada na tarde de ontem, contou com a presença do presidente Jair Bolsonaro (PL), do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), do ministro da Economia, Paulo Guedes, da primeira-dama, Michelle Bolsonaro e de outras autoridades. A escolha do nome de Daniella Marques foi bem vista por aliados do governo federal para cessar a crise instalada com os relatos de funcionárias sobre o comportamento inadequado de Guimarães.
No evento, a presidente da Caixa destacou o compromisso de combater "qualquer tipo de assédio" como prioridade da nova gestão. "Acima de tudo, estou ciente de que, apesar do meu lugar de privilégio aqui, hoje existem inúmeras barreiras visíveis e invisíveis impostas a nós, mulheres", disse.
Ela citou números de casos envolvendo violência doméstica. "Uma em cada quatro mulheres ainda é vítima de violência, boa parte delas porque não tem condição de subsistência. Então, a gente vai ajudar a denunciar e a gente vai ajudar para que tenham liberdade financeira, que empreendam e sejam independentes", ressaltou.
Na coletiva para a imprensa, após a cerimônia, Marques reiterou o discurso de combate ao assédio. Disse que vai investir em um ambiente de trabalho seguro para as mulheres e informou que está criando mecanismos para evitar novos casos de abuso no ambiente de trabalho.
"O que tinha de ser feito ligado ao episódio, foi feito. Se aparecerem outros indícios, ou envolvimento de pessoas, serão conduzidos com a mesma postura. Daqui para a frente, a partir de amanhã, a gente está focado em criar tudo o que a gente precisa para ter um ambiente independente, rigoroso e seguro de apuração."
Daniella Marques assegurou que vai investir em canais diretos de aproximação com as funcionárias. "Estou abrindo o Canal de Diálogo Seguro Caixa. Vai ser um canal de diálogo aberto exclusivamente para mulheres, nos próximos trinta dias, diretamente comigo, onde todas as mulheres, todas as empregadas da Caixa — são 35 mil — serão acolhidas, ouvidas e protegidas", anunciou.
"Fora isso, no plano de ação que eu aprovei com o Conselho de Administração, na sexta-feira, um dos passos é a revisão de todas as políticas de integridade de prevenção ao assédio", disse ela. "Isso vai acontecer em paralelo às instâncias de apuração internas que a gente está apurando."
Obras suspeitas
Marques também prometeu investigar qualquer ilegalidade nas obras bancadas pela Caixa na mansão de Pedro Guimarães. Ela sustentou a versão da defesa do ex-presidente e do próprio banco de que as obras foram feitas por motivo de segurança. Segundo revelou o jornal Folha de S.Paulo, obras na mansão de Guimarães foram pagas pelo banco. A reforma teria sido executada em julho de 2020 por quatro funcionários de uma empresa contratada ao custo de, aproximadamente, R$ 50 mil.
"O que eu tenho conhecimento é que o ex-presidente sofria ameaças e, por isso, teve uma estrutura de segurança muito robusta ligada a ele, à gestão dele e à família dele. Tinha uma série de medidas que foram tomadas em relação à segurança", explicou.
No entanto, a economista disse que vai atuar para garantir a apuração completa dos fatos. "Não é do meu conhecimento que tenha havido nenhuma ilegalidade, mas, eventualmente, se tiver, obviamente não só eu como a equipe inteira da Caixa estamos comprometidos em apurar, fortalecer controles internos e, eventualmente, punir se for necessário."
O presidente Jair Bolsonaro (PL) ainda faz silêncio sobre os relatos de assédio envolvendo o ex-presidente da Caixa. Questionada sobre a postura, Daniella Marques declarou que o chefe do Executivo agiu dentro da normalidade e que não há intenção de "perseguir e nem proteger ninguém".
"O presidente Bolsonaro tomou as atitudes necessárias para proteger a imagem da Caixa, afastou os envolvidos. A gente tem que garantir um ambiente seguro para quem está depondo em testemunho, mas, a gente também tem que garantir independência nas apurações porque ninguém tem interesse em perseguir nem proteger ninguém", concluiu a executiva.