O Ministério Público do Trabalho (MPT) fez uma inspeção na sede da Caixa Econômica Federal, ontem, em Brasília, para apurar as denúncias de assédio moral e sexual contra o ex-presidente da instituição Pedro Guimarães. A inspeção não foi notificada com antecedência à direção da estatal. O MPT pretende examinar os locais onde, segundo denúncias, ocorriam os casos de assédio.
O procurador do MPT Paulo Neto foi recebido pelo diretor jurídico do banco. "O objetivo da inspeção foi verificar o espaço físico onde esses supostos assédios estão ocorrendo. Foi construído um quadro fático e, durante o depoimento das testemunhas, é importante que a gente tenha essa ideia de como é o espaço físico aí dentro, quais setores se relacionam, onde funciona a Presidência e a Vice-Presidência", explicou o procurador.
De acordo com Neto, as investigações estão na fase da coleta de provas. "Hoje temos o relato que a imprensa conseguiu colher e a apuração do assédio sexual no Ministério Público Federal. O MPT vai focar no assédio moral, sem embargo da apreciação do assédio sexual, porque os assédios sexual e moral andam em conjunto."
Os funcionários também serão chamados para prestar depoimento. O MPT deu 10 dias para que a Caixa e Pedro Guimarães se manifestem sobre as denúncias apresentadas.
O Tribunal de Contas da União (TCU) também abriu apuração sobre as denúncias de assédio sexual e moral contra o ex-presidente Pedro Guimarães. A Corte de Contas informou que, "quando praticado no âmbito da administração pública, o assédio gera a percepção na sociedade de que as instituições estatais não se pautam em valores morais nem são conduzidas segundo elevados padrões de conduta".
A apuração do TCU será investigar se Pedro Guimarães, no exercício da presidência da Caixa, cometeu assédio sexual e moral contra empregadas e empregados, que caracterizaria "prática criminosa", com "flagrante violação ao princípio administrativo da moralidade".
Próximos passos
A especialista em direito trabalhista Fernanda Rocha explicou que o próximo passo, após a inspeção dos locais de trabalho pelo MPT, será garantir um ambiente seguro para os colaboradores, instruindo-os acerca das boas práticas de relacionamento no desempenho das atividades. "É de extrema importância que as empresas estabeleçam regras de conduta que garantam um meio ambiente de trabalho hígido e livre de atitudes assediosas e/ou discriminatórias" e que "garantam canais de comunicação imparciais para que as denúncias de assédio sejam dirigidas aos departamentos competentes."
Em entrevistas para emissoras de TV, ontem, a nova presidente da Caixa, Daniella Marques, informou que demitiu , ontem, sete funcionários vinculados à Presidência da estatal, e quais funcionários ainda serão afastados. Ela assegurou que as denúncias de assédio sexual e moral serão apuradas com rigor. "Asseguro que tudo será feito com independência, rigor e seriedade, e, se realmente for comprovado, todas as punições cabíveis serão feitas", disse.
"Querida"
Manuella Guimarães, esposa do ex-presidente da Caixa Econômica Pedro Guimarães, publicou em uma rede social foto ao lado do marido, em que ambos estão vestidos com as cores da bandeira brasileira. "Sabíamos que na luta pelo Brasil haveria deslealdade, inveja, sordidez e falsidade. Sabíamos que seriam acompanhados de ataques deliberados e impiedosos com objetivo único de destruir nossa família", postou ela, em defesa do marido.
"Para muitos, minha guerra por um Brasil melhor começou em 2019 com o Pedro presidente da Caixa Econômica Federal. Entretanto, começou em 2014 com o meu pai, Léo Pinheiro. Lutamos armados com a VERDADE e somos protegidos pela FÉ. Assim, diante de tantas mensagens de apoio, força e orações, não poderia deixar de dividir um pouco da minha vida com vocês. Bem-vindos", publicou. Manuella é filha de um dos delatores da Lava Jato, o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro.
Após compartilhar a foto, a esposa de Guimarães repostou a mensagem acrescentando várias hashtags de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL), acrescentando que as denúncias fazem parte de uma guerra política.
Na postagem, Pedro Guimarães publicou o comentário "Te amo" e copiou o texto da esposa em seu próprio perfil. A primeira dama do país, Michelle Bolsonaro, comentou a publicação de Manuella com a palavra "Querida".
Pedro Guimarães pediu demissão da presidência do banco na quarta-feira da semana passada, após denúncias de assédio sexual por funcionárias da instituição. Depois que os casos vieram à tona, pelo menos mais 10 denúncias de assédio envolvendo dirigentes da Caixa foram feitas. Os casos estão sendo investigados pelo Ministério Público Federal (MPF).