Dividido entre a candidatura da senadora Simone Tebet (MS) à Presidência e a ala que prega o apoio ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já no primeiro turno, o MDB caminha para aprovar a primeira opção na convenção nacional, dia 27. Ontem, os caciques da ala lulista se encontraram com o ex-presidente Michel Temer — uma das vozes mais influentes do MDB —, em São Paulo. A reunião ocorreu 24 horas depois de o grupo se reunir com o petista.
No encontro, o grupo pró-Lula pediu a Temer que intermedeie uma negociação com o presidente do MDB, deputado Baleia Rossi (SP), no sentido de adiar a convenção nacional para mais perto do fim do prazo dado pela Justiça Eleitoral para homologação das candidaturas — que termina em 5 de agosto. O grupo também quer que a convenção ocorra de forma presencial, e não virtual, como foi definido pela direção nacional da legenda.
"Disse a eles que iria conversar com o presidente Baleia Rossi e outros membros da Executiva e verificar essa possibilidade. E, especialmente, sugerir ao Baleia que faça uma reunião com o grupo do MDB, que conversem", disse Temer, ao fim da reunião.
Rossi, porém, foi rápido na resposta, e nem esperou o contato do ex-presidente. No Twitter, rechaçou a hipótese de adiar a convenção. "MDB, PSDB e Cidadania, que atendem pelo nome de centro democrático, decidiram que suas convenções para homologar Simone Tebet como candidata à Presidência da República do Brasil serão no dia 27 de julho. A data está mantida", postou.
Estiveram no escritório do ex-presidente, na Zona Sul de São Paulo, os senadores Eduardo Braga (AM) — líder do partido no Senado —, Renan Calheiros (AL), Rose de Freitas (MG) e Marcelo Castro (PI), além do líder na Câmara, deputado Isnaldo Bulhões (AL), e o ex-deputado Moreira Franco, para reforçar o apoio a Lula no primeiro turno. Depois de ouvir argumentos e sugestões, Temer reafirmou sua posição de apoio à terceira via em respeito à decisão do partido, apesar da disposição de estimular o diálogo interno.
"Sou emedebista, portanto voto na Simone Tebet", afirmou. Integram o MDB lulista caciques de 11 estados, principalmente do Nordeste. Ontem, em resposta ao encontro com Lula, Tebet publicou nas redes sociais uma nota assinada pela cúpula da legenda que ratifica sua candidatura. A nota apresenta uma lista de assinaturas de apoios em diretórios de 19 estados — nem todos por meio dos presidentes estaduais.
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Porta aberta
O que está em jogo, porém, segundo fontes da legenda ouvidos pelo Correio, é o caminho que o MDB seguirá após o primeiro turno da disputa presidencial, já que o grupo dissidente não tem muitas esperanças de abater a candidatura de Tebet na convenção nacional. "Vamos perder na convenção", admitiu o governador de Alagoas, Paulo Dantas.
O partido mantém o projeto da terceira via, mas deixa uma porta aberta para articular o apoio a Lula no segundo turno. "O melhor disso tudo é que ninguém está com Jair Bolsonaro", disse um desses interlocutores, indicando a rejeição majoritária do MDB à reeleição do presidente.
E Lula conta com isso para construir pontes que o ajudem na caminhada ao Palácio do Planalto. Já há, inclusive, um movimento dentro do MDB para pressionar a ala bolsonarista do Rio Grande do Sul — liderada pelo prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, e pelo ex-ministro Osmar Terra — a deixar a legenda.
"O MDB está lutando pela sua renovação como partido de centro, e Simone Tebet é o que de melhor se pode apresentar ao eleitor", disse um desses interlocutores. "Se Simone chegar a 6%, leva a eleição para o segundo turno. Aí, Lula terá que sentar-se à mesa com Baleia, com Simone, e não só com Renan e Eunício (de Oliveira, ex-senador)", analisou essa fonte.
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