A ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal (STF), encaminhou à Procuradoria-Geral da República (PGR) um pedido do deputado Reginaldo Lopes (PT-MG) para que o presidente Jair Bolsonaro (PL) seja incluído na investigação sobre o escândalo de corrupção do Ministério da Educação (MEC). O parlamentar argumentou ser preciso apurar se houve interferência do chefe do Executivo no sentido de tentar proteger Milton Ribeiro.
Em uma gravação autorizada pela Justiça, o ex-ministro da Educação disse que foi informado por Bolsonaro sobre a busca e apreensão da Polícia Federal (PF). Cabe à PGR analisar se há indícios para abrir uma investigação contra o presidente. Na última sexta-feira, o Ministério Público Federal (MPF) divulgou uma manifestação apontando que Bolsonaro agiu em favor de Ribeiro e solicitou que o STF analise a ação.
O advogado Frederick Wassef, que representa Bolsonaro, alegou que o presidente não se intrometeu no trabalho da PF e criticou o vazamento dos autos do processo. "Houve a prática de graves crimes por funcionários, autoridades públicas aqui de Brasília, que, criminosamente, estão vazando a conta-gotas o referido material", disse.
Depois de ter sido preso pela PF, Ribeiro foi solto por decisão do desembargador Ney Bello, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) — assim como foi revogada a prisão preventiva dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, acusados de serem os operadores de corrupção mediante liberação de verbas para prefeituras dentro do MEC.
Defesa
A defesa do ex-ministro, por sua vez, sustenta que nem ele "nem ninguém tinha e ou tem poder para favorecer pessoas, cidades ou estados" dentro do MEC. A alegação se choca com a Operação Acesso Fácil, que indica que Ribeiro favoreceu a atuação de Gilmar e Arilton.
Os advogados Daniel Bialski e Bruno Garcia Borragine reiteram a alegação de que, assim que tomou conhecimento das denúncias, Ribeiro levou o caso à Controladoria-Geral da União (CGU). O ex-ministro tinha dado essa versão, chegando a indicar que se afastou dos pastores.
Mas o relatório da CGU que faz parte do inquérito mostra outra conduta de Ribeiro. Diz que a transação de um carro entre as famílias dele e de Arilton, em fevereiro deste ano, contraria o álibi do ex-ministro. "Em desfavor da argumentação do sr. Milton Ribeiro (que tentou demonstrar que adotou postura de distanciamento do pastor) pesa também o fato de ter realizado a venda de um automóvel ao sr. Arilton após as denúncias", afirmou a CGU.
A defesa do ex-ministro diz que o documento da Controladoria indica "apenas o depósito de valor que se refere à venda do veículo". Os advogados dizem que vão juntar aos autos da investigação documentos que evidenciam a "lisura" da venda do veículo. (LP com Agência Estado)