Lisboa, Portugal — Ex-ministra do Meio Ambiente e referência sobre preservação ambiental para o mundo, Marina Silva alertou para os riscos à democracia brasileira ante "a mentalidade golpista e autoritária do presidente Jair Bolsonaro". Em seminário sobre o futuro das relações entre Brasil e Portugal, a ex-senadora disse que o chefe do Executivo tenta desacreditar as urnas eletrônicas "como estratégia para não reconhecer os resultados das eleições" deste ano. Pela mais recente pesquisa de intenções de votos realizada pelo Datafolha, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva venceria no primeiro turno.
Segundo Marina, é fundamental o compromisso assumido pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), de transformar a Casa em um centro de resistência a movimentos golpistas. Mas, para ela, o combate a ações que pregam a ruptura institucional "tem de ser de toda a sociedade, do Congresso Nacional, do Poder Judiciário, dos formadores de opinião, porque o que está em jogo é a democracia". "Bolsonaro flerta o tempo todo com a possibilidade de permanecer no poder por meios que não são legítimos em relação ao que prescreve a nossa Constituição", enfatizou.
Projetos nefastos
Para a ex-ministra, além de cumprir seu papel constitucional em relação às eleições, o Senado deve impedir quaisquer aventuras que possam prejudicar o meio ambiente. Ela ressaltou, no evento promovido pela Fundação Calouste Gulbenkian, que a Casa comandada por Pacheco precisa evitar o andamento de "projetos nefastos que vieram da Câmara dos Deputados, onde o Centrão está fazendo uma política de terra arrasada sobre a legislação ambiental brasileira".
"Estão, no Senado, projeto que libera a mineração em terra indígena; proposta que amplia o uso de agrotóxicos na agriculta, inclusive com produtos que são proibidos na Europa e nos Estados Unidos; e projeto que flexibiliza o licenciamento ambiental, que é fundamental para a preservação das florestas e do meio ambiente", disse Marina.
Na avaliação dela, antes de colocar tais propostas em votação, é preciso realizar um amplo debate envolvendo a sociedade civil, a comunidade científica, os movimentos sociais e os ambientalistas. Também é necessário que as discussões ocorram depois de empossados o próximo presidente da República e o novo Congresso.
Bruno e Dom
Marina afirmou que o Brasil deve fazer uma investigação profunda sobre os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips na Amazônia. Para ela, há uma organização criminosa por trás das mortes, e os mandantes devem ser expostos, investigados e punidos. "Esperamos que sejam feitas ações rigorosas e sejam punidos os assassinos que os patrocinam", frisou.
A Polícia Federal já prendeu três homens que confessaram ter participado dos assassinatos: Amarildo dos Santos, o Pelado, Oseney da Costa e Jeferson da Silva Lima. Outros cinco suspeitos estão sendo investigados. Segundo a ex-ministra, nada pode escapar do radar das autoridades, para evitar que a impunidade prevaleça. Ela ressaltou estar preocupada com o açodamento por parte de "alguns segmentos da PF" em querer concluir o caso alegando "que não havia nada além do que os criminosos disseram".
"Sabemos que a realidade dos fatos está indicando que, se há oito pessoas envolvidas em assassinatos bárbaros e cruéis, é porque tem algo que está dando suporte aos criminosos", destacou. "Sabemos que aqueles que são operadores do crime têm muita dificuldade em falar, porque entendem que suas vidas também estão em jogo caso entreguem os mandantes", emendou.
Nesse contexto, acrescentou a ex-senadora, "um processo que vai à Justiça para ser analisado precisa de investigações rigorosas, de um tempo para isso". "Nada pode ser concluído em uma semana. Essa é uma atitude que o Brasil não pode, de forma alguma, aceitar, porque parece uma tentativa de evitar que os verdadeiros culpados e mandantes sejam expostos, investigados e punidos."