O ex-governador do Ceará e pré-candidato ao Planalto Ciro Gomes (PDT) afirmou nesta sexta-feira (24/6) que a notícia-crime apresentada pelas Forças Armadas e pelo Ministério da Defesa após fala sobre a Amazônia é uma "ação política", e sugeriu que ela obedece "ordens de seu comandante supremo", o presidente Jair Bolsonaro (PL).
"Fui surpreendido por uma nota agressiva e intempestiva do comando das Forças Armadas, que, além de descontextualizar o que afirmei em entrevista à CBN, ameaça-me com notícia crime, equivocadamente baseada nos artigos 286 do Código Penal e 219 do Código Penal Militar", disse o presidenciável em nota divulgada nas suas redes sociais.
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"A nota, que mais uma vez explicita o grau de politização do atual comando das Forças Armadas, tenta distorcer a crítica que fiz ao notório descontrole que impera, em áreas da Amazônia, onde uma 'holding do crime' age impunemente", complementou Ciro.
O Ministério da Defesa e as Forças Armadas apresentaram notícia-crime contra o ex-governador na noite de ontem (23/6), pedindo apuração sobre falas de Ciro em relação ao assassinato do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira, na região amazônica. O presidenciável afirmou, em entrevista à rádio CBN na terça-feira (21/6), que o narcotráfico na região é "claramente protegido pelas autoridades brasileiras", inclusiva das Forças Armadas.
A nota divulgada ontem diz que as falas de Ciro foram "irresponsáveis". "Não é admissível, em um estado democrático, que sejam feitas acusações infundadas de crime, sem a necessária identificação da autoria por parte do acusador e sem a devida apresentação de provas, ainda mais quando dirigidas a Instituições perenes do Estado brasileiro", continua ainda o texto.
Ministério da Defesa tem atuação política, segundo Ciro
Por sua vez, Ciro defendeu-se hoje (24/6) dizendo que "em nenhum momento, disse que as Forças Armadas, enquanto instituições de estado, estariam envolvidas com essa holding criminosa. Afirmei – e reafirmo – que frente à desenvoltura com que um tipo de estado paralelo age na área, é impossível não imaginar que alguns membros das forças de segurança possam estar sendo coniventes por dolo ou omissão".
O ex-governador ressaltou ainda que não confunde a ação de alguns membros das Forças Armadas com as ações da instituição, e que disse, na mesma entrevista, que os militares são parte fundamental de seu Plano Nacional de Desenvolvimento.
"Não me surpreende que a iniciativa desta ação política contra mim – e contra a minha pré-candidatura – parta de um Ministro da Defesa que, possivelmente obedecendo ordens de seu comandante supremo, vem se notabilizando por tentativas de interferência no processo político", afirmou Ciro, citando ainda ofício enviado pelo ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na segunda (20/6) dizendo que encaminhará nomes de técnicos militares para representarem as Forças Armadas na fiscalização das urnas eletrônicas em outubro.
"Pergunto: qual competência constitucional ou legal dá autoridade a ele para indicar nomes para fiscalizar urnas eletrônicas? Indicação de militares para esta finalidade é típico desvio de função e finalidade. É caso, a meu ver, de improbidade administrativa por violação aos princípios da administração pública. Isto, sim, é claramente passível de punição legal", disse o ex-governador.