A prisão preventiva do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro representa um duro golpe no discurso do presidente Jair Bolsonaro (PL) de que não há corrupção no seu governo. O ex-integrante do Executivo foi detido ontem, pela Polícia Federal, por supostos crimes de corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência envolvendo esquema de liberação de verbas da pasta. Também foram presos os pastores-lobistas Arilton Moura e Gilmar Santos, que atuavam no chamado "gabinete paralelo" instalado no ministério.
Questionado sobre a prisão de Ribeiro, Bolsonaro tentou se descolar do ex-integrante do governo. "Ele responda pelos atos dele. Se a PF prendeu, tem um motivo. Eu peço a Deus que não tenha problema nenhum. Mas, se tem algum problema, a PF está agindo, está investigando. É um sinal de que eu não interfiro na PF, porque isso aí vai respingar em mim, obviamente", ressaltou, em entrevista à Rádio Itatiaia. As declarações mostram uma mudança de postura do presidente. Em março, quando o escândalo do MEC veio à tona (leia Entenda o caso), o chefe do Executivo saiu em defesa do então ministro. "Ele não bota na agenda o nome do corruptor. Eu boto minha cara toda no fogo pelo Milton. O que estão fazendo é uma covardia com ele", ressaltou, na ocasião.
Na entrevista de ontem, Bolsonaro também deu outra versão sobre a saída de Ribeiro do ministério. "O caso do Milton, pelo que eu estou sabendo, é aquela questão que ele estaria com a conversa meio informal demais com algumas pessoas de confiança dele. E daí houve denúncia de que ele teria buscado prefeito, gente dele para negociar, para liberar recurso, isso e aquilo. E o que aconteceu? Nós afastamos ele", sustentou. O Diário Oficial da União, de março, atestou, porém, que houve "exoneração a pedido" do então ministro.
No Planalto, assessores de Bolsonaro tentaram minimizar o impacto da prisão. Segundo fontes ouvidas pelo Correio, a reação do presidente foi "a possível", diante da falta de informações sobre os motivos que levaram a Justiça Federal a decretar a detenção de Ribeiro.
Para um desses interlocutores, a prisão foi "arbitrária", por não cumprir requisitos legais, como abuso de poder, intimidação de testemunhas ou destruição de provas. Mas reconhece que não dá para sair em defesa do ex-ministro por causa das relações dele com os pastores investigados. "Não sabemos por que o juiz da 15ª Vara (da Justiça Federal) tomou essa decisão. Pode ser por ativismo político. Por isso, o presidente não atacou nem defendeu (o ex-ministro)", disse esse interlocutor.
Sobre o impacto que o caso pode provocar na campanha à reeleição, a conclusão é que não há nada que incrimine o chefe do Executivo e que a preocupação, no Planalto, é fechar o mais rapidamente possível o conjunto de medidas emergenciais para amenizar os impactos da crise econômica e da inflação na população mais pobre — incluindo o problema da alta dos combustíveis.
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Audiência
Milton Ribeiro foi preso pela PF em Santos (SP), na Operação Acesso Pago. A audiência de custódia está marcada para esta tarde. Inicialmente, o juiz Renato Borelli, da 15ª Vara Federal de Brasília, tinha determinado que a sessão ocorresse na capital federal. No entanto, acatou pedido da defesa para que o cliente permanecesse em São Paulo. O magistrado decidirá se mantém ou não o ex-ministro encarcerado enquanto durarem as investigações. Ao todo, a PF cumpriu, ontem, 13 mandados de busca e apreensão e cinco de prisões em Goiás, São Paulo, Pará e Distrito Federal.
Responsabilização
No MEC, os agentes realizaram buscas e apreensões. Eles foram recebidos pelo atual ministro, Victor Godoy. Em conversa com os jornalistas, o ex-braço direito de Ribeiro disse jamais ter presenciado nenhuma irregularidade na pasta.
"Nunca tive conhecimento de qualquer tipo de postura do ex-ministro, na minha frente, que pudesse levar a desconfiança", frisou. Segundo ele, "caso qualquer pessoa tenha praticado irregularidade e seja comprovada a sua culpa, isso tem de ser objeto de responsabilização".
Os cinco agentes descaracterizados deixaram o local levando apenas um malote pequeno. Mais cedo, em nota, a pasta afirmou que colabora com PF para os desdobramentos da apuração. "No sentido de esclarecer todas as questões, o MEC reforça que continua contribuindo com os órgãos de controle para que os fatos sejam esclarecidos com a maior brevidade possível", diz o comunicado oficial do ministério.