Preso na manhã desta quarta-feira (22/6), o ex-ministro Milton Ribeiro assumiu o comando do Ministério da Educação no dia 16 de julho de 2020, após uma série de crises na liderança da pasta. Desde o começo do governo Bolsonaro, o MEC vinha sendo alvo de disputas pelo seu comando, por ser o terceiro maior orçamento do governo federal, estimado em R$ 159 bilhões.
Milton Ribeiro se apresenta como pastor presbiteriano, teólogo, advogado e professor, mas sua entrada na pasta não acalmou os ânimos no setor. As polêmicas envolvendo o ex-chefe da Educação vão desde frases preconceituosas, até foto em Bíblia e interferência no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
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Novembro do ano passado, a menos de três semanas da aplicação do Enem, 37 servidores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão do MEC responsável pela prova, entregaram seus cargos. Eles mencionaram episódios de assédio moral e fragilidade do comando da entidade.
Antes, em abril daquele ano, outro caso revoltou o setor da educação. Cláudia Mansani Queda de Toledo foi nomeada para comandar a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), mas a decisão foi extremamente criticada, pois a reitora teve um curso de pós-graduação com recomendação de descredenciamento pelo próprio órgão por não ter atingido a nota mínima para continuar em funcionamento.
Frases polêmicas
Ribeiro também acumula polêmicas envolvendo frases preconceituosas. No mês de agosto, ele disse em entrevista à TV Brasil que a "universidade deveria, na verdade, ser para poucos, nesse sentido de ser útil à sociedade" e defendeu os institutos federais como capazes de mudar a educação no país.
"Tenho muito engenheiro ou advogado dirigindo Uber porque não consegue colocação devida. Se fosse um técnico de informática, conseguiria emprego, porque tem uma demanda muito grande", disse.
Na mesma gravação, o ex-ministro afirmou que, quando um aluno com deficiência é colocado em salas de aula comuns, ele não aprende e ainda "atrapalha" a aprendizagem dos outros colegas. Após repercussão negativa, ele tentou se justificar, mas acabou se complicando ainda mais:
“12% das crianças têm um grau de deficiência que é impossível a convivência. O que o nosso governo fez: em vez de simplesmente jogá-los dentro de uma sala de aula, pelo 'inclusivismo', nós estamos criando salas especiais para que essas crianças possam receber o tratamento que merecem e precisam”, afirmou.
Homofobia
O ex-ministro também foi denunciado por declarações homofóbicas. Durante uma entrevista em setembro de 2020, ele afirmou que adolescentes “optam” pelo “homossexualismo” [sic] por pertencerem a “famílias desajustadas”.
“Acho que o adolescente, que muitas vezes opta por andar no caminho do homossexualismo [sic], tem um contexto familiar muito próximo, basta fazer uma pesquisa. São famílias desajustadas, algumas. Falta atenção do pai, falta atenção da mãe. Vejo menino de 12, 13 anos optando por ser gay, nunca esteve com uma mulher de fato, com um homem de fato, e caminhar por aí. São questões de valores e princípios”, alegou Ribeiro na ocasião.
Pastores do MEC e prisão
No ápice da crise no Ministério da Educação, Milton Ribeiro afirmou priorizar pastores aliados na liberação de recursos do Fundo Nacional da Educação (FNDE). Na gravação, ele cita que o favorecimento é um pedido expresso do presidente Jair Bolsonaro (PL). "Minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar". O escândalo levou a demissão dele da pasta, em março deste ano.
No mesmo mês, Ribeiro afirmou que desautorizou a produção de Bíblias com a sua imagem e a distribuição gratuita delas em um evento religioso. Porém, de acordo com o jornal O Estado de S. Paulo, a distribuição, de fato, ocorreu em um encontro do MEC no Pará.
Ribeiro foi preso nesta manhã pela Polícia Federal, em Santos, litoral de São Paulo. A investigação apura o envolvimento dele nos crimes de corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência em um suposto envolvimento em um esquema para liberação de verbas do MEC.
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