Jornal Correio Braziliense

Combustíveis

Reajustes da Petrobrás reduzem efeito de teto de tributos do Congresso

Nova alta anunciada pela Petrobras frustra planos do governo de anunciar queda nos preços da gasolina e do óleo diesel a partir da diminuição de impostos como o ICMS. Pressão sobre a estatal deve aumentar

A vitória do governo no Congresso Nacional, na última quarta-feira (15/6), com a aprovação do Projeto de Lei Complementar que fixa um teto para o Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS, um tributo estadual) para vários bens e serviços, entre eles os combustíveis (PLP 18), tornou-se frustração após a Petrobras anunciar, na sexta-feira (18/6), reajustes de 14,26% nos preços do diesel e de 5,18% na gasolina, na venda para as distribuidoras.

Diante do reajuste, o governo federal possui outro projeto que visa cortar o imposto estadual para baratear o diesel, o gás natural e o gás de cozinha, a PEC dos Combustíveis (nº 16/2022). Em caso de aprovação no Congresso Nacional, a União irá reservar R$ 29,6 bilhões dos cofres do Tesouro para ressarcir, entre 1º de julho e 31 de dezembro de 2022, os entes federados que decidirem zerar o ICMS sobre esses produtos. Os estados, porém, não serão obrigados a adotar a medida.

Com o subsídio em troca de zerar o ICMS, o governo conseguiria uma margem maior no desconto do preço, principalmente do diesel, que impacta toda a cadeia produtiva brasileira, já que a maior parte da produção nacional é transportada por caminhões. No entanto, a depender da volatilidade do preço do barril de petróleo no mercado internacional, especialistas apontam que, até o fim do ano, os preços poderão estar em patamares semelhantes aos de hoje.

"Quando se mexe em tributo, é como se você tivesse um tiro. Se você não acertar, não conseguiu fazer nada. Mesmo que o governo zere os impostos estaduais e federais, o preço do petróleo continuará reagindo ao mercado internacional. Então, dependendo dessa oscilação, pode não resolver os combustíveis e, ainda, criar um problema fiscal", diz o professor de finanças do Instituto Brasileiro de Mercados e Capitais (Ibmec) William Baghdassarian.

Outra possibilidade via Congresso Nacional, ventilada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), é sobre a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar José Mauro Ferreira Coelho, presidente da Petrobras, diretores executivos e conselheiros da empresa.

Como não pode mais responsabilizar governadores, devido a aprovação do PLP 18, Bolsonaro e aliados, como o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), culpam a Petrobras pela alta da gasolina e do diesel. De forma bem explícita, pressionam José Mauro Coelho a pedir exoneração para agilizar a troca na presidência da petroleira.

"Não por vontade pessoal minha, mas porque não representa o acionista majoritário da empresa — o Brasil — e, pior, trabalha sistematicamente contra o povo brasileiro na pior crise do país. Ele só representa a si mesmo e o que faz deixará um legado de destruição para a empresa, para o país e para o povo. Saia!!! Pois sua gestão é um ato de terrorismo corporativo", disse o presidente da Câmara, em ataque a José Mauro Coelho.

O presidente da Petrobras, demitido por Bolsonaro após somente 40 dias à frente da empresa, segue no comando enquanto o nome de Caio Mário Paes de Andrade, ex-secretário de Desburocratização do Ministério da Economia, ainda passa por trâmites de avaliação e burocráticos antes de ser apreciado pela Assembleia Geral Ordinária (AGO), na qual será submetido à votação dos acionistas.

Somam-se ao novo reajuste fatores como a contínua volatilidade no preço do barril de petróleo e o dólar, que voltou a ocupar a casa dos R$ 5. Diante desse cenário, as advertências de governadores de que o projeto não surtiria efeito para frear a alta dos combustíveis, vêm se comprovando.

No dia da aprovação do PLP 18, um levantamento da Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) mostrava que o valor cobrado nas bombas pelo litro do diesel (18%) e gasolina (14%) estavam em defasagem em relação ao preço internacional. Mesmo após o reajuste, as defasagens continuam, em 9% e 5%, respectivamente.