O balão de ensaio lançado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) sobre a possibilidade de ter a deputada federal e ex-ministra da Agricultura Tereza Cristina (PP-MS) como companheira de chapa na campanha pela reeleição é reflexo de uma estratégia à qual os principais assessores palacianos já estão acostumados. O chefe do Executivo tem por hábito soltar teses antes de tomar decisões que afetem seu futuro político, sem abrir mão das próprias convicções.
Ao assumir publicamente a possibilidade de não bancar para a vaga o nome do general Braga Netto, atual assessor direto do presidente no Palácio do Planalto, Bolsonaro testa o conselho que tem recebido da ala política que o cerca: o de que Tereza Cristina poderia "arejar" a chapa, aproximando-o não só do eleitorado feminino quanto do eleitor não bolsonarista, mas conservador.
Ontem, Bolsonaro voltou a tocar no assunto, dando mostras de que pretende alimentar esse debate por mais algum tempo. Em entrevista à jornalista Leda Nagle, ele fez questão de frisar que o nome do general ainda é uma hipótese. "Eu nem falei que o Braga Netto é meu vice, como é que vou trocar? Vou trocar de esposa se nem me casei ainda? Braga Netto teve uma passagem marcante pelo Rio de Janeiro, na intervenção. Fez um trabalho excepcional comigo, aqui, um ministério difícil (da Defesa). É cotadíssimo (para vice)", disse.
Sobre Tereza Cristina, declarou ser um "excelente nome", com "poder de articulação". "Cotadíssima, excelente pessoa também. Querem fazer uma briga aí, homem e mulher. Vão querer falar que eu prefiro não uma mulher, mas um homem, ou então tumultuar", comentou.
Os dois deixaram seus respectivos cargos de ministro para disputar as eleições de outubro. Tereza Cristina está em pré-campanha por uma vaga ao Senado por Mato Grosso do Sul. Braga Netto aguarda a confirmação de seu nome como vice. "Tereza Cristina é um nome excepcional para o Senado, como é excepcional para ser vice também, pelo seu poder de articulação. Mas, não está batido o martelo sobre o nome dela nem sobre Braga Netto", reforçou o presidente.
O Correio conversou com fontes palacianas ligadas tanto à ala política quanto à militar e, em ambos os casos, nenhuma delas viu na notícia qualquer indício de "confronto" ou de "disputa" pela preferência do presidente. "Não existe disputa nenhuma, o que há são visões diferentes", disse um interlocutor, para quem "militar não faz política". O que o chefe do Executivo exige, segundo essa fonte, é confiança no seu futuro parceiro — ou parceira — de chapa. "Braga Netto tem 100% da confiança do presidente. Tereza Cristina, nem tanto", ressalvou.
O nome da ex-ministra não foi lançado de forma aleatória. O fato de Bolsonaro estar praticamente estacionado há meses nas pesquisas de intenção de votos exige, para a ala política do Planalto, um movimento mais vigoroso em direção ao eleitorado não bolsonarista, em especial, as mulheres, responsáveis pelos maiores índices de rejeição ao presidente. "Nós temos um problema sério com o voto feminino, e uma mulher arejaria a chapa", analisou esse interlocutor. Para ele, Tereza Cristina pode ser "a novidade" que falta para movimentar a pré-campanha. Pesam, também, a favor da deputada o traquejo político e a boa interlocução com o agronegócio, principal base de apoio do presidente no setor econômico.
O fato de a deputada ser do PP, legenda presidida pelo atual ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, pesa pouco na decisão do chefe do Executivo. Tereza é egressa do DEM, que fundiu-se com o PSL para dar origem ao União Brasil. Por divergências internas, a ex-ministra decidiu trocar de agremiação. As relações entre ela e Ciro Nogueira são institucionais. "Ciro mal conhece Tereza", confidenciou ao Correio um assessor da Casa Civil. Ele reconhece que a parlamentar fez "um ótimo trabalho" no Ministério da Agricultura e demonstrou lealdade a Bolsonaro. A fonte acredita que a deputada aceitará o convite, caso seja essa a decisão do presidente.
O gabinete de Tereza Cristina informou, por meio de nota, que ela está "concentrada no exercício do mandato parlamentar e, nos fins de semana, na pré-campanha ao Senado, viajando pelo estado e participando de encontros, eventos e reuniões". A assessores, tem dito que não recebeu nenhum convite do presidente. (Colaborou Cristiane Noberto)
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