O presidente Jair Bolsonaro (PL) comparou, ontem, as eleições a um "self-service", pois a população escolhe para representá-la o candidato "menos ruim". Foi na abertura do 5º Fórum de Investimentos Brasil 2022, em São Paulo. O restante do discurso seguiu o roteiro habitual: ele criticou a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF), voltou a lançar desconfianças sobre o processo de votação e defendeu suas pautas tradicionais — como a posse e o uso de armas de fogo.
Para Bolsonaro, às vezes é necessário que se escolha o candidato "menos ruim". "Eleição para presidente, em especial, é um self-service, é o que tem na mesa. Não adianta pedir camarão se não tem camarão, quero um cordeiro se não tem cordeiro. É o que está na mesa", exemplificou.
Em seguida, disparou: "Vamos escolher o melhor ou o menos ruim. E assim foi feito em 2018. Eu ganhei no primeiro turno", voltou a dizer, apesar de jamais ter conseguido provar o que sempre afirmou.
Seguindo o roteiro de desacreditar permanentemente o processo eleitoral, voltou a questionar a lisura do sistema eletrônico de votação. Disse que não é obrigado a confiar no processo.
"Eu posso apresentar as falhas. Eu posso dizer como foi a eleição de 2014, que, no meu entendimento técnico, o Aécio (Neves, então candidato do PSDB ao Palácio do Planalto) ganhou. Eu, técnico, com a documentação que eu tenho do próprio Tribunal Superior Eleitoral (TSE), falar que eu ganhei no primeiro turno. Não posso falar isso? Vão cassar meu registro?", indagou o presidente. Vale ressaltar que, em 2014, o PSDB contestou a reeleição da ex-presidente Dilma Rousseff, mas jamais conseguiu provar que houve alguma fraude.
O presidente assegurou à audiência que não está com medo da eleição. Reconheceu que "não leva jeito" para ser presidente da República e que "não tinha nada para estar aqui". E voltou a dizer que cumpre uma espécie de missão divina, ao dizer que "a mão de Deus foi colocada sobre o Brasil" e, por isso, foi eleito.
"Não tinha nada para estar aqui, nem levo jeito. Nasci para ser militar. Fiquei 15 anos no Exército brasileiro. Entrei na política meio por acaso", observou.
Comissão
Ainda na sua campanha de desacreditar o processo eleitoral, Bolsonaro aproveitou para, novamente, comentar o convite feito pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) às Forças Armadas para que integrem uma comissão de transparência eleitoral montada pela Corte. Segundo o presidente, o "TSE não quer mais conversa".
"As Forças Armadas descobrem mais de 500 vulnerabilidades. Apresentam uma dezena de sugestões e, aí, o TSE não quer mais conversa. 'Eleições são para forças desarmadas'", disse, debochando da afirmação feita pelo ministro Edson Fachin, presidente do TSE.
Bolsonaro continuou atacando o sistema de urnas eletrônicas. "Quem vai contar esses votos? Quem garante que nós estamos tranquilos na questão eleitoral?", indagou.
Na última segunda-feira, em resposta ao ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira — que assinou ofício remetido à Corte afirmando que os militares se sentem "desprestigiados" em relação à participação no sistema eleitoral —, o TSE mais uma vez esclareceu que é possível realizar uma contagem simultânea de votos utilizando os boletins dos tribunais regionais eleitorais (TREs).