Os Estados Unidos esperam que o presidente Jair Bolsonaro (PL) seja signatário de um documento em defesa da democracia, que prevê o apoio ao trabalho de observadores eleitorais. O tema é parte de uma das declarações de intenções que a Casa Branca pretende emplacar durante a Cúpula das Américas, da qual o líder brasileiro participará na próxima semana em Los Angeles. O Brasil dá indicações de que vai assinar o documento.
Os EUA têm emitido sinais ao governo brasileiro que demonstram a preocupação com as investidas de Bolsonaro contra o sistema eleitoral. O tema é caro ao presidente Joe Biden, que enfrentou a resistência de Donald Trump em fazer uma transição pacífica e que governa um país onde um terço da população acredita que houve fraude na eleição presidencial que o levou à Casa Branca.
"O Brasil está participando desde o início do processo negociador em espírito construtivo e aberto. Essa declaração (sobre democracia e direitos humanos) não coloca nenhum problema para o Brasil, porque o país cumpre com tudo o que lá está e participa ativamente e apoia as missões de observação eleitoral da Organização dos Estados Americanos (OEA)", afirmou o embaixador Pedro Miguel da Costa e Silva, secretário das Américas no Ministério das Relações Exteriores (MRE). "O Brasil não está na lista de países que têm problemas com missões eleitorais", acrescentou o diplomata.
Em abril deste ano, o Itamaraty se incomodou com a intenção do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de buscar apoio de observadores internacionais europeus nas eleições. Em nota, o Ministério das Relações Exterior disse que não é "da tradição do Brasil ser avaliado por organização eleitoral da qual não faz parte". A Cúpula das Américas, no entanto, é organizada no âmbito da OEA, da qual o Brasil é integrante.
"Os Estados Unidos sabem que todos temos trabalho a fazer para construir uma democracia forte e inclusiva no hemisfério, inclusive aqui em casa", afirmou Brian Nichols, secretário de Estado adjunto para Assuntos do Hemisfério Ocidental, em entrevista coletiva.
Para a base bolsonarista, Biden é visto como um representante da esquerda global. Por isso, o chefe do Planalto resistia em comparecer à cúpula.
A postura mudou quando os EUA asseguraram que ele terá um encontro bilateral com Biden e que poderá levantar temas de interesse do lado brasileiro. A ideia é provocar declarações que possam ajudá-lo na campanha.