PASTORES DO MEC

PGR aponta que Milton Ribeiro se encontrou 18 vezes com pastores-lobistas

Documento entregue ao Supremo Tribunal Federal (STF) cita encontros com religiosos e destaca encontro de ministro com pastores e prefeitos

Luana Patriolino
postado em 27/06/2022 19:44 / atualizado em 27/06/2022 19:45
Milton Ribeiro foi preso na semana passada em uma investigação da Polícia Feral que apura o envolvimento dele nos crimes de corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência -  (crédito:  Fabio Rodrigues Pozzebom/Agencia Brasil)
Milton Ribeiro foi preso na semana passada em uma investigação da Polícia Feral que apura o envolvimento dele nos crimes de corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência - (crédito: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agencia Brasil)

O ex-ministro da Educação Milton Ribeiro teria se reunido 18 vezes, em um período de 15 meses, com os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura, segundo relatório da Procuradoria-Geral da República (PGR) encaminhado ao Supremo Tribunal Federal (STF). O documento, ao qual o Correio teve acesso, cita ainda que os religiosos viajaram com o ex-chefe do MEC.

“Não bastante, conforme noticiado, os líderes religiosos Gilmar Silva dos Santos e Arilton Moura teriam se reunido com o Ministro da Educação por 18 vezes nos últimos quinze meses, além de haver menção de viagens domésticas na companhia do ministro, o que não foi esclarecido oficialmente”, diz o documento.

O material encaminhado ao Supremo possui 398 páginas e depoimentos dos principais personagens envolvidos no caso. Milton Ribeiro foi preso na semana passada em uma investigação da Polícia Feral que apura o envolvimento dele nos crimes de corrupção passiva, prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência em um suposto envolvimento em um esquema para liberação de verbas do MEC.

No documento, ainda é destacado o trecho do requerimento do PGR no qual são citados os prefeitos de Guarani D'Oeste (SP), Israelândia (GO), Jaupaci (GO) e Jandira (SP). Eles teriam afirmado a intercessão de Gilmar Santos e Arilton Moura junto ao Ministério da Educação.

“Menciona, ainda, que ‘o prefeito de Luis Dominges (MA) teria sido recebido pelo Ministro de Estado da Educação no próprio Ministério em abril de 2021, e, após a reunião, em um almoço em restaurante em Brasília, Gilmar Silva dos Santos cobrou-lhe uma soma em dinheiro para protocolar no MEC seus pedidos e que após a liberação dos recursos pelo Ministério deveria pagar-lhe ‘1 quilo de ouro'”, diz o documento.

“Cooptação de prefeitos”

Arilton Moura teria ficado em silêncio durante o depoimento. A PGR diz que o pastor tinha participação ativa junto aos representantes municipais sobre os assuntos relacionados ao Ministério da Educação. “Foi citado pelos prefeitos de Jaupaci-GO, Jandira-SP e Luis Gonzaga-MA, em algo que chamamos de ‘cooptação de prefeitos’ sendo uma de muitas outras participações dessa personagem no contexto dos crimes aqui investigados”, destacou.

Por outro lado, Gilmar Santos disse, em depoimento à PF, que mantinha relações com Milton Ribeiro apenas por questões religiosas.

“Que tem um relacionamento eclesiástico com Milton Ribeiro, ex-ministro da educação e com o Pastor Arilton Moura Correia; que, não atuou em nome do ex-ministro da educação Milton Ribeiro na tratativa com prefeitos municipais ou governadores ou qualquer outra autoridade; QUE, não atuou na arregimentação de prefeitos municipais ou governadores ou qualquer outra autoridade para favorecimento ou facilitação em processos de liberação de recursos públicos federais de atribuição do Ministério da Educação-MEC ou Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação-FNDE”, escreveu o órgão.

Moura é assessor de Assuntos Políticos da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil. Santos, conhecido e citado nas gravações de Ribeiro como “pastor Gilmar", comanda o Ministério Cristo Para Todos, uma das várias ramificações da igreja Assembleia de Deus, em Goiânia (GO).

O caso foi descoberto em março deste ano e ficou conhecido como “Escândalo dos Pastores do MEC”. Em áudios divulgados pela imprensa, Ribeiro afirmou priorizar pastores aliados na liberação de recursos e ainda citou que o favorecimento era um pedido expresso do presidente da República. O caso levou à demissão dele da pasta.

 

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