O líder indígena Beto Marubo, integrante da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), denunciou ao ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), que deixou a região da Amazônia que faz fronteira com a Colômbia e o Peru por recomendação das autoridades de segurança locais, que apontaram riscos à vida dele. A reunião ocorreu em Brasília, nesta terça-feira (21/6), às vésperas do depoimento de Marubo na comissão do Senado que investiga dos crimes.
A Univaja é a instituição em que trabalhava o indigenista Bruno Pereira, assassinado na região juntamente com o jornalista britânico Dom Philips. Marubo afirmou que alguém anonimamente deixou um bilhete no escritório da área jurídica da Univaja, na sede em Tabatinga.
Marubo contou com a subprocuradora-geral da República Eliana Torelly, responsável pela câmara do Ministério Público Federal (MPF) que cuida de temas indígenas, no encontro do Barroso. O ministro mostrou interesse em conhecer a realidade local para eventuais providências na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF 709), da qual é relator. “Estamos perdendo a soberania da Amazônia para o crime organizado”, lamentou Barroso durante a conversa.
Ajuizada pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) em conjunto com seis partidos políticos de oposição (PSB, PSOL, PCdoB, Rede, PT e PDT), a ADPF nº 709 requer que sejam construídas barreiras sanitárias que impeçam a entrada de invasores em terras indígenas habitadas por povos isolados ou de recente contato, além da retirada dos invasores que atualmente se encontram nesses territórios. Ainda demanda que o atendimento do Subsistema de Saúde Indígena do SUS seja prestado a todos indígenas do país.
Ainda conforme Beto Marubo, há uma outra morte que pode estar associada ao crime envolvendo Bruno e Dom, a de Maxciel Pereira dos Santos — em 2019. Por cinco anos, ele chefiou o Serviço de Gestão Ambiental e Territorial da Coordenação Regional do Vale do Javari, e morreu com dois tiros na cabeça em Tabatinga.
Senado
As causas do aumento da criminalidade e de atentados na região Norte do Brasil serão discutidas em audiência pública da Comissão de Direitos Humanos (CDH) nesta quarta-feira (22/6), às 10h. O evento será realizado em conjunto com a Comissão Temporária sobre a Criminalidade na Região Norte, criada para investigar as mortes do indigenista Bruno Araújo e do jornalista britânico Dom Phillips.
Foram convidados para o debate um dos coordenadores da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Unijava), Beto Marubo, e representantes da Fundação Nacional do Índio (Funai) e da entidade Indigenistas Associados.
"A comissão não vai apurar somente o que levou às mortes de Dom e Bruno. Vai muito além! Vivemos num período de omissões na proteção de servidores que atuam na floresta, de ativistas ambientais e povos tradicionais. Há a precarização em fiscalizações e o estímulo à violência na Amazônia. Tudo isso será levado em conta para compreendermos o cenário instalado na região e quem deve ser responsabilizado. Buscamos respostas e, acima de tudo, o fim dessa realidade que favorece grupos criminosos e prejudica quem defende o desenvolvimento sustentável", disse o presidente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP).
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