No final de 2020, o Banco de Brasília (BRB) realizou uma operação camarada com um personagem conhecido na capital federal: o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ). A instituição financeira aprovou um empréstimo de R$ 3,1 milhões ao parlamentar, interessado em adquirir um imóvel em Brasília. O financiamento imobiliário autorizado pelo BrB chama a atenção pelas condições excepcionais concedidas ao filho do presidente da República. A operação é alvo de processo no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios e é considerada atípica por especialistas ouvidos pelo Correio.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ainda não deu explicações suficientes sobre a compra de uma mansão, que fica em área nobre de Brasília, avaliada em R$ 5,97 milhões. Parte do financiamento foi garantido pelo BrB com os menores juros do mercado, parcelados em 360 meses. A mansão foi adquirida em março do ano passado.
Segundo especialistas do mercado ouvidos pelo Correio, o empréstimo nesse valor é atípico. "Quando um banco recebe o pedido de empréstimo, é analisado quanto a pessoa tem livre do salário e quanto pode ser a parcela do empréstimo. Neste caso, os juros ficaram muito baixos, o que significa que o banco confia no que foi apresentado a ele", analisou um economista ligado à grande entidade bancária. "Porém, eu diria que não é usual emprestar dinheiro desta forma", frisou.
Como senador, a remuneração líquida de Flávio Bolsonaro é de R$ 24.851,23. Em ação popular movida pela deputada federal Erika Kokay (PT-DF), em março de 2021, a parlamentar aponta que, na escritura de compra e venda do imóvel, não consta o valor do salário da esposa do parlamentar, Fernanda Bolsonaro. Ela atua como dentista em Brasília e no Rio de Janeiro, mas a renda do casal seria de R$ 36.957,68.
Chama a atenção, entretanto, um ponto mais grave. Para obter o financiamento do imóvel, o casal Bolsonaro teria de comprovar renda mínima de R$ 46.874,35 mensais.
Na petição de Kokay, ela solicita mais informações sobre o caso. Na época, o BrB alegou que não comenta casos específicos de clientes devido ao sigilo bancário. Em nota, a instituição bancária se limitou a dizer que as "operações de crédito imobiliário no banco são submetidas a avaliação de risco e de crédito".
Mesmo assim, o promotor de Justiça Eduardo Gazzinelli Veloso, do Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT), atendeu ao pedido da deputada. Ele notificou ao banco para esclarecer com "simples declaração de quitação (ou não) das parcelas já vencidas". Contudo, em abril deste ano, o juiz Issamu Shinozaki Filho, da 1ª Vara Cível do Tribunal de Justiça do DF, negou o pedido e desobrigou o BRB de abrir os dados.
Advogado
No começo do mês, o filho 01 do presidente Jair Bolsonaro afirmou que utilizou renda do próprio trabalho como advogado ao pedir os valores para o BrB. Segundo a defesa de Flávio, "a renda familiar dos réus (Flávio e Fernanda) não está adstrita somente à remuneração percebida pelo réu no exercício da atividade parlamentar, visto que o mesmo atua como advogado, além de empresário e empreendedor, por muitos anos".
Contudo, ainda que a inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil do Rio de Janeiro (OAB-RJ), organização onde o parlamentar está inscrito para atuar, não possui nenhum processo advogado por ele.
A outra parte dos valores pagos para a compra da mansão, cerca de R$ 2,9 milhões, teriam sido pagos com a venda de um imóvel da família: um apartamento na Barra da Tijuca (RJ), que foi vendido por R $2,3 milhões, que foi vendido em outubro de 2021.
Saiba Mais
- Política NYT diz que militares viraram aliados de Bolsonaro no questionamento das eleições
- Política Operação Lava-Jato não deve influenciar o eleitor nas próximas eleições
- Política Projeto para segurar o preço dos combustíveis será votado nesta segunda
- Política "Bolsonaro se empenha em vender um faz de conta", diz professor de Oklahoma
Notícias pelo celular
Receba direto no celular as notícias mais recentes publicadas pelo Correio Braziliense. É de graça. Clique aqui e participe da comunidade do Correio, uma das inovações lançadas pelo WhatsApp.
Dê a sua opinião
O Correio tem um espaço na edição impressa para publicar a opinião dos leitores. As mensagens devem ter, no máximo, 10 linhas e incluir nome, endereço e telefone para o e-mail sredat.df@dabr.com.br.