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MDB e PSDB se ajustam por nome de Tebet, mas falta combinar com estados

A decisão do MDB de ceder a candidatura ao governo do Rio Grande do Sul para o tucano Eduardo Leite descortinou a divisão do partido no estado

Vinicius Doria
DENISE ROTHEMBURG
postado em 11/06/2022 06:00
 (crédito: Jefferson Rudy/Agência Senado)
(crédito: Jefferson Rudy/Agência Senado)

O acordo que viabilizou o apoio do PSDB à coligação com MDB e Cidadania em torno da candidatura da senadora Simone Tebet à Presidência da República está longe de representar uma solução pacífica para a relação entre os partidos. Nem bem terminou a reunião da Comissão Executiva tucana, na última quinta-feira, as reações ao acordo começaram a aflorar em vários pontos do país, por causa das dificuldades que uma coligação nacional provoca nos arranjos estaduais preestabelecidos.

O caso do Rio Grande do Sul é emblemático, mas não é o único. Também houve chiadeira em São Paulo, em estados do Nordeste e defecções assumidas no próprio domicílio eleitoral de Tebet, o Mato Grosso do Sul.

A decisão do MDB de ceder a candidatura ao governo do Rio Grande do Sul para o tucano Eduardo Leite descortinou a divisão do partido no estado. "Se o Gabriel quiser ser candidato a vice de Eduardo Leite, vamos à convenção com a candidatura de Cesar Schirmer", ameaçou o ex-ministro do Desenvolvimento Social e deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), referindo-se a Gabriel Souza, atual pré-candidato ao governo gaúcho pelo MDB, e ao vereador de Porto Alegre César Schirmer, ex-prefeito de Santa Maria.

Terra embarcou ontem mesmo para Porto Alegre, com o objetivo de tentar brecar o acordo entre Leite e o MDB gaúcho. "O MDB é quem tem maior estrutura. Se o PSDB quiser ter candidato, é um direito dele, mas isso não quer dizer que o MDB apoiará. Vamos à convenção", disse Terra.

O ex-ministro da Cidadania de Jair Bolsonaro (PL) é um dos principais entusiastas da reeleição do presidente e vê no acordo da terceira via um impedimento para atrair emedebistas aos palanques bolsonaristas já montados para a disputa pelo governo estadual — casos do ex-ministro do Trabalho Onyx Lorenzoni (PL) e do senador Luiz Carlos Heize (PP).

Na segunda-feira, os tucanos gaúchos vão anunciar formalmente a pré-candidatura de Leite ao governo do estado, chancelada pelo presidente nacional do MDB, Baleia Rossi (SP), e por representantes do partido no Rio Grande do Sul, como o ex-governador Germano Rigotto. Caso o acerto das cúpulas partidárias se confirme, os emedebistas indicarão o candidato a vice.

Só falta, porém, combinar com os protagonistas locais. Em visita ao balneário de Tramandaí, Gabriel Souza avisou que não está disposto a abrir mão da pré-candidatura. "O tempo tem mudado bastante, mas o que não mudou é a minha situação: sou pré-candidato a governador pelo MDB. Estamos trabalhando num plano para o Rio Grande entrar em um novo ciclo, o do desenvolvimento econômico, social e tecnológico", publicou numa rede social.

Acerto regional ainda prevalece

Se no Rio Grande do Sul há a dificuldade de se construir um palanque para a pré-candidata Simone Tebet (MDB-PSDB-Cidadania), em dois estados nordestinos a porteira está praticamente fechada. O primeiro é a Paraíba, onde os tucanos lançaram Pedro Cunha Lima, que ensaia uma aproximação com os aliados do presidente Jair Bolsonaro. Já o MDB aposta no senador Veneziano Vital do Rego, apoiador declarado da candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Palácio do Planalto.

O segundo é Alagoas, cujo pano de fundo é a briga entre dois pesos-pesados da política nacional. De um lado, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), que atua intensamente para inviabilizar a coligação entre MDB e PSDB.

Ele trabalha pela indicação da deputada estadual tucana Jó Pereira para compor chapa com o senador Rodrigo Cunha (União Brasil), candidato ao governo. A aliança era vista como estratégica para enfrentar o representante do grupo do senador Renan Calheiros, o governador Paulo Dantas (MDB).

Irritados com o acordo da terceira via, os presidentes do PP e do União Brasil — o ministro chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PI), e o deputado Luciano Bivar (PE), respectivamente — anunciaram que vão implodir outro acordo estratégico: o apoio ao governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, do PSDB.

Joia tucana

O PSDB tenta construir uma ampla aliança em torno da reeleição de Garcia e, assim, garantir a hegemonia no estado, que dura mais de duas décadas. Como União Brasil e PP fazem parte da base de apoio do governador, as declarações dos presidentes não foram bem recebidas pelas respectivas bases.

Garcia também agiu rapidamente para dar ares de blefe ao movimento dos presidentes de PP e União Brasil: no mesmo dia em que a Comissão Executiva do PSDB anunciou o apoio a Tebet, o governador nomeou para a Secretaria de Transportes Metropolitanos Marco Antônio Assalve, indicado pelo presidente do PP no estado, Guilherme Mussi. Garcia também trabalha para que o presidente da Câmara de Vereadores de São Paulo, Milton Leite, do União Brasil, mantenha o apoio a sua candidatura.

Nem no Mato Grosso do Sul, estado de Simone Tebet, há harmonia entre os dois principais sócios da terceira via. O MDB lançou André Puccinelli, líder das pesquisas de intenção de votos, ao governo local. Os tucanos apostam em Eduardo Riedel (PSDB), que montou um arco de alianças de centro-direita e promete dar palanque à reeleição de Bolsonaro. Nenhum dos dois admite deixar a disputa.

O PSDB comanda o estado com Reinaldo Azambuja, que tem como secretário de Governo o marido de Tebet, Eduardo Rocha. Ele disse que conta com o apoio dos dois partidos à candidatura da terceira via, mas reconhece que haverá defecções por causa da força do bolsonarismo no estado.

O próprio MDB, aliás, apoia a candidatura da ex-ministra da Agricultura Teresa Cristina (PP) ao Senado, favorita para ocupar a única vaga em disputa.

"Não vai ter divisão, as pessoas são livres para apoiar quem quiser", disse Azambuja, já prevendo que as questões locais estarão acima do acordo nacional entre MDB e PSDB.

Por sinal, para o dia 20 Bolsonaro agendou uma visita ao estado para anunciar o apoio dos dois partidos a sua reeleição. 

 


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