ELEIÇÕES 2022

Terceira via: você lembra quais candidatos ficaram pelo caminho?

Até agora, oito figuras públicas abandonaram o sonho de alcançar o Planalto e migraram para possibilidades mais modestas na política

No começo, era um sonho: o de ser eleito para liderar uma nação, colocar a faixa presidencial, acenar do parlatório em frente ao Palácio do Planalto para uma multidão em êxtase, desfilar no Rolls Royce conversível pela Esplanada dos Ministérios — e formar um governo que, por quatro anos, mudasse a face de um país extremamente desigual. Mas, aos poucos, a realidade se impôs. E o jeito foi desistir da ideia de se tornar uma grande liderança para voltar à planície da política e da sociedade.

O apresentador de tevê Luciano Huck, o ex-juiz Sergio Moro, o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta e outros acalentaram o desejo da Presidência da República. Só que a polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente Jair Bolsonaro foi mais forte. O jeito foi desistir ou adiar o projeto.

Até agora, oito figuras públicas migraram para possibilidades mais modestas na política. Depois de idas e vindas sobre a candidatura presidencial, Moro, agora, diz ser pré-candidato do União Brasil ao Senado por São Paulo. "Estou construindo o meu espaço. Claro que isso vai depender de tomar uma decisão definitiva. Mas, em princípio, a posição é essa", disse. A oficialização da candidatura deve ser amanhã, em Brasília.

O ex-governador João Doria (PSDB) jogou a toalha no dia 23 de maio, mas, por enquanto, faz mistério sobre seu futuro político. "O PSDB saberá tomar a melhor decisão", disse, enigmático. Por enquanto, o que se sabe é que é um dos interlocutores tucanos para a construção de um possível acordo com o PT.

O presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), também sonhou com o Palácio do Planalto. Chegou a ser saudado pelo prefeito Eduardo Paes, do Rio de Janeiro, no encontro do PSD, no ano passado, como "o meu candidato à Presidência". Já ali não disse sim nem não — e curtiu o momento. Os meses passaram e o senador continuava sem fazer gestos claros que o confirmasse pré-candidato à sucessão de Bolsonaro. Até que anunciou a desistência em discurso no plenário da Casa que preside.

O também senador Alessandro Vieira (PSDB-SE) viu sua popularidade ir às alturas na CPI da Covid. Eleito na corrente do bolsonarismo, em 2018, logo percebeu que embarcou na canoa errada — e rompeu com o presidente. Nas sessões da comissão parlamentar de inquérito, suas intervenções eram das mais aguardadas pela dureza com que se dirigia aos depoentes. Delegado da polícia civil em Sergipe — cujo governo, agora, pretende disputar, se destacou e não se furtou em entrar em confronto com a tropa de choque do Planalto. Mas logo viu que o sonho presidencial era só isso — sonho.

 

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Acabou?

A pergunta que se faz é: Doria foi o último a desistir da corrida presidencial? Ciro Gomes (PDT) vai até o final? — ele diz que sim. Simone Tebet (MDB) não será abandonada no caminho até as convenções partidárias, em agosto? E Luciano Bivar (União Brasil) conseguirá se fazer conhecido no país e galvanizar um projeto de centro-direita?

Para o professor de Ciência Política na IDP Rafael Cortez, as desistências vêm por causas do caminho estreito que é a corrida presidencial. "Esses nomes são menos uma avaliação de seus altos capitais políticos, e mais um projeto alternativo a Lula e a Bolsonaro. Boa parte da opinião pública enxerga a polarização como um deficit do sistema brasileiro", observa.

Cortez lembra que as candidaturas de terceira via que se mantêm podem estar olhando para além de outubro. "É muito mais pensando no longo prazo do que propriamente em 2022. Esse raciocínio é válido para a senadora Tebet, que pode usar essa eleição para aumentar o capital político para uma próxima", sugere Cortez.

Para a professora na Escola de Políticas Públicas e Governo da Fundação Getulio Vargas (FGV) Graziella Testa, há três objetivos para a terceira via. "Primeiramente, o candidato pode, sim, ser eleito. Em segundo, pode usar a campanha para projetar o nome no nível estadual e no nacional para o futuro. Em terceiro, nosso presidencialismo de coalizão precisa que vários partidos apoiem o governo na formulação de políticas públicas. Por mais que o candidato não ganhe no primeiro turno, no segundo pode apoiar alguém e conseguir um bom cargo ou ter participação no governo", observou.

 

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