Graciela Nienov, ex-presidente do PTB, afirmou, em depoimento à Polícia Federal, que o ex-deputado Roberto Jefferson estaria usando as verbas públicas do fundo partidário para a disseminação de fake news e ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF). No relato, obtido pelo Correio, Nienov destaca que Jefferson também queria usar o dinheiro para patrocinar outdoors com mensagens defendendo sua condição de preso político.
“Quis utilizar recursos do fundo partidário para patrocinar outdoors com mensagens defendendo sua condição de preso político; QUE pessoas integrantes da executiva do PTB recebem ordens de ROBERTO JEFFERSON para promoverem ataques ao STF, por meio de redes sociais”, diz trecho do documento.
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A ex-dirigente do partido diz que receberam dinheiro para promover os ataques à Suprema Corte: Luiz Gustavo Pereira da Cunha, advogado do PTB; Mauro Rogério Gomes Pessanha, secretário de finanças do PTB; Norberto Martins, secretário de finanças da Fundação Ivete Vargas; Ana Lúcia Jefferson Novaes; Marisa Lobo, presidente do PTB do Paraná; Otavio Fakhoury, presidente do PTB de São Paulo; e Jean Prates, presidente do PTB da Bahia.
Nienov também acusa Jefferson de interferir nas decisões do partido, mesmo após a prisão. À PF, ela afirmou ser obrigada a informar, semanalmente, por meio de carta ou visita pessoal, o andamento de todos os assuntos relativos ao PTB como, por exemplo, a troca de diretórios regionais e quais grupos políticos fariam parte do partido.
Ela ainda afirma que todas as decisões partidárias ficavam a cargo do ex-deputado e que cerca de 80% dos integrantes do diretório nacional do PTB foram indicados por ele. Todos os novos membros também deveriam ser aprovados por Jefferson.
Nienov disse à Polícia Federal que chegou a encontrar Roberto Jefferson na Penitenciária de Bangu, no Rio de Janeiro, acompanhada da mulher do político, Ana Lúcia Jefferson Novaes, e que, nesta visita, recebeu a ordem de encomendar outdoors em defesa do ex-deputado com dinheiro do fundo partidário.
Ameças constantes
Graciela Nienov assumiu, em 2020, o cargo de vice-presidente do PTB e, em novembro de 2021, foi empossada como presidente da sigla, após o afastamento de Roberto Jefferson. Considerada pupila do político, ela foi retirada do cargo, pois, segundo ela, não concordava com os ataques antidemocráticos.
No depoimento, ela ainda acusa do advogado do partido de ameaçá-la de morte.
“QUE reafirma que as ameaças de morte foram proferidas pelo advogado LUIS GUSTAVO PEREIRA; QUE esclarece que não havia motivo para destituição da depoente do cargo de Presidente do PTB; QUE a destituição ocorreu apenas pelo fato de a depoente ter contrariado determinações de ROBERTO JEFFERSON no sentido de proferir ataques a instituições”, diz o depoimento.
Outro nome bastante citado no depoimento é o de Mauro Rogério Gomes Pessanha. Ele é considerado fiel escudeiro de Roberto Jefferson. Filiado ao PTB, atualmente, ocupa o cargo de secretário de finanças do partido, e já concorreu ao posto de deputado federal no Distrito Federal nos anos de 2010, 2014 e 2018, mas não venceu em nenhum pleito.
No depoimento do deputado Rodrigo Valadares (UB-SE), o parlamentar diz que Mauro Rogério ameaçou Graciela Nienov em um grupo WhatsApp do PTB afirmando que “nunca bateu em mulher, mas se fosse necessário o faria”.
Outro lado
Procurado pela reportagem, Mauro Rogério disse que nunca ameaçou nenhum membro do partido e que protocolou uma queixa-crime contra Graciela Nienov e Valadares pelas alegações,“para que eles respondam em juízo as alegações deles, visto que não há em absoluto nenhum resquício de nada que eles possam sustentar que eu teria ameaçado eles”.
“Eu nunca ameacei. Já teve uma primeira audiência e a senhora Graciela não compareceu. Ela está com dificuldade de ser escutada e a coisa tá correndo na Justiça”, disse. “Nunca fiz nenhuma ameaça ou qualquer gesto que caracterizasse isso”, reiterou.
Ao Correio, a defesa de Roberto Jefferson também se manifestou e negou qualquer tentativa de interferência do político no partido. “Jamais administrou, induziu direta ou indiretamente, financeiramente, politicamente, o Partido Trabalhista Brasileiro. É um sujeito que respeita às instituições e respeita as decisões judiciais”, disse Luiz Gustavo Pereira da Cunha, advogado do político e também secretário jurídico do PTB.
Roberto Jefferson teve a prisão preventiva (por tempo indeterminado) decretada em 13 de agosto. A autorização partiu de Moraes, no âmbito do chamado "inquérito da milícia digital" — continuidade do inquérito dos atos antidemocráticos. Ele chegou a cumprir prisão domiciliar em setembro por conta de problemas de saúde, mas voltou para a prisão por determinação do Supremo. Em agosto, a Procuradoria-Geral da República (PGR) também o denunciou por incitação ao crime, ameaça às instituições e homofobia.
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