O ex-governador paulista João Doria jogou a toalha e não será mais o candidato do PSDB à Presidência da República. A decisão foi acertada no domingo, em uma conversa reservada com o presidente do partido, Bruno Araújo, e o atual gestor de São Paulo, Rodrigo Garcia. Ontem, foi feito o anúncio, com a presença dos líderes na Câmara, Adolfo Viana (BA), e no Senado, Izalci Lucas (DF), na capital paulista.
O fim da novela em que se transformou a disputa entre o agora ex-pré-candidato e a cúpula do partido (leia reportagem na página ao lado) deveria desobstruir o acordo já firmado para confirmar a senadora Simone Tebet (MDB-MS) como candidata do autodenominado centro democrático, o consórcio entre tucanos, MDB e Cidadania. Mas, no fim da tarde, soou o sinal de alerta de que ainda há arestas a serem aparadas na terceira via.
O PSDB decidiu adiar a reunião da Comissão Executiva, marcada para hoje, que formalizaria a coligação. O partido convocou uma nova reunião para 2 de junho, com a presença das bancadas da sigla na Câmara e no Senado. O líder entre os deputados, Adolfo Viana, informou que o encontro de hoje seria inócuo. "Seria uma reunião com a presença do ex-governador João Doria, na qual trataríamos das deliberações do encontro que tivemos com o Cidadania e o MDB", declarou, por meio de nota.
Porém, o Correio apurou que o adiamento foi pedido por integrantes da própria bancada parlamentar tucana, que querem algum tempo para retomar a discussão sobre a possibilidade de não integrar a terceira via e lançar outro nome do partido à sucessão presidencial. Essa posição é defendida por uma ala da legenda que tem como porta-voz não oficial o deputado federal Aécio Neves (MG).
Partiu do mineiro a acusação de que Bruno Araújo e Rodrigo Garcia foram os artífices da "traição" que ajudou a inviabilizar o nome de Doria. Aécio não quer o PSDB a reboque do MDB em uma chapa unificada e continua defendendo candidatura própria, desde que não seja com o ex-governador.
"Não acho que uma aliança com outro partido, neste momento, seja o melhor caminho para o PSDB. Temos dúvidas da força que essa candidatura (de Tebet) possa ter dentro do MDB", declarou. "Defendi outra candidatura nas prévias e, agora, com a desistência do ex-governador de São Paulo, abre-se espaço, a meu ver, para que o PSDB defina outro nome."
O movimento de Aécio não é majoritário dentro da sigla, mas tem potencial para embaralhar ainda mais o xadrez político de montagem da terceira via.
Bruno Araújo usou o Twitter para reprovar a atitude da ala da legenda. "O PSDB tem um acordo político em torno de uma candidatura única (PSDB/Cidadania/MDB). Qualquer outra discussão é um desserviço à verdade dos fatos, desrespeito às reiteradas decisões coletivas e, mais grave, ao país", escreveu.
Para o senador Izalci Lucas (DF), a retomada da discussão em torno de uma candidatura própria "não faz sentido". Ele não tem dúvida de que o PSDB vai integrar a terceira via e que, agora, o esforço é para conquistar novos aliados. "Se houvesse uma candidatura única, seria a do Doria, que venceu as prévias. Esse assunto não faz sentido", disse ao Correio.
Saiba Mais
Vaga de vice
O MDB manteve para hoje a reunião da Comissão Executiva do partido para aprovar a pré-candidatura de Tebet, mas o Cidadania não confirmou se adiará o seu encontro, também agendada para esta terça-feira. A legenda está federada com o PSDB e, por força da legislação eleitoral, tem de seguir os passos do aliado.
"O que posso dizer é que nós vamos ter uma candidatura única da chamada terceira via", disse o presidente do Cidadania, Roberto Freire, na semana passada, sinalizando o apoio a Tebet, após receber os resultados da pesquisa interna que apontaram a senadora como o nome com mais condições de atrair votos do chamado eleitor nem-nem — o que não votam no presidente Jair Bolsonaro (PL) nem no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Paralelamente, ainda há a negociação em torno do nome que o PSDB poderá apresentar como vice na chapa encabeçada pelo MDB, caso a opção pela terceira via vingue. Doria não foi descartado, mas os caciques tucanos levarão em conta interesses locais, como os acordos para as eleições a governador, senador e deputados federais. Com isso, Tasso Jereissati e Eduardo Leite voltam ao palco e terão seus nomes submetidos à avaliação dos demais sócios da coligação da terceira via, caso os tucanos mantenham a decisão de integrar o consórcio.