O pré-candidato do PSDB à Presidência da República, João Doria, retomou, ontem, a agenda de viagens em busca de aliados que o ajudem a sair do isolamento imposto pela cúpula do partido, que tenta tirá-lo da disputa eleitoral. O objetivo dos líderes tucanos é viabilizar a chapa da terceira via em consórcio com MDB e Cidadania em torno do nome da senadora Simone Tebet (MDB-MS).
Em Goiânia, Doria recebeu o apoio explícito do ex-governador de Goiás Marconi Perillo e de lideranças tucanas no estado. "Eu apoio o candidato do meu partido, defendo que o PSDB tenha nome nas eleições e não vou apoiar um candidato que não seja do PSDB", declarou o goiano.
Perillo, recuperado de uma arritmia cardíaca que o levou ao hospital três semanas atrás, elogiou o trabalho de Doria à frente dos governos da capital paulista e do estado e não economizou nas críticas aos dirigentes de seu partido que tentam minar a pré-candidatura aprovada nas prévias da sigla. "Do meu lado, não tem mais ou menos, não sou hipócrita nem mentiroso. Detesto quem não seja leal e correto. Não gosto de deslealdade e não gosto de quem não é grato", disparou ele contra a Comissão Executiva do PSDB e parlamentares que não aceitam Doria como nome da legenda na corrida presidencial.
Emparedado pelas negociações de cúpula dos três partidos da terceira via, Doria tenta reorganizar sua agenda de compromissos, mas a urgência dada pelos presidentes da tríplice aliança de centro o obriga a se dividir entre duas frentes de batalha. Na volta a São Paulo, terá de se preparar para uma reunião que promete ser tensa, caso insista em permanecer na disputa pelo Planalto.
Na segunda-feira, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, irá à capital paulista acompanhado dos líderes do partido no Senado, Izalci Lucas (DF), e na Câmara, Adolfo Viana (BA), para tentar convencer Doria a abrir mão da candidatura em nome da unidade da terceira via. No dia seguinte, em Brasília, as executivas das três siglas voltarão a se reunir para oficializar o apoio a Tebet.
Desafetos
O encontro em São Paulo colocará frente a frente dois desafetos. Araújo é um dos principais aliados do atual governador paulista, Rodrigo Garcia, que disputará a reeleição em outubro. Garcia, que já declarou preferir outro nome para a disputa da Presidência por causa do nível de rejeição de seu antecessor nas pesquisas, teme que Doria atrapalhe a montagem do palanque tucano em São Paulo.
Os movimentos de Garcia e Araújo foram duramente criticados pelo deputado mineiro Aécio Neves — outro opositor interno de Doria — por causa das articulações para esvaziar a influência dele no estado, após a desincompatibilização do cargo para disputar a Presidência. "Doria está conhecendo a face triste da política, que é a traição pelos seus próprios companheiros", disparou Aécio em uma entrevista à Folha de S.Paulo, na semana passada.
A cúpula do PSDB delegou a Araújo a missão de levar a Doria a posição das comissões executivas dos três partidos da terceira via, de fechar questão em torno de Tebet como cabeça de chapa do consórcio. A decisão foi tomada após a apresentação, na última quarta-feira, de uma pesquisa qualitativa interna sobre a viabilidade eleitoral dos dois pré-candidatos. Os dados do levantamento não foram divulgados, mas o Correio apurou, na ocasião, que os índices de rejeição foram o argumento decisivo para excluir Doria da cabeça de chapa, mesmo com o ex-governador ostentando melhor performance nas pesquisas de intenção de votos.
Para tirar o atual pré-candidato da disputa, Araújo vai oferecer alternativas, como a vaga de vice na chapa de Tebet ou um posto politicamente importante na estrutura do partido. Se aceitar ser vice, Doria não enfrentará oposição dos demais partidos do consórcio.
Em conversas privadas, o presidente do MDB, Baleia Rossi (SP), tem evitado declarar preferência por nomes e costuma repetir que Doria "é um problema que deve ser resolvido pelo PSDB". Um interlocutor de Rossi assegurou que a legenda "não vetará o nome apresentado pelo PSDB, qualquer que seja ele".
A declaração reflete o clima de divisão no ninho tucano, em que até a vaga para vice é alvo de disputa interna. A ala antiDoria — que já tentou emplacar o ex-governador gaúcho Eduardo Leite — articula, agora, lançar o nome do senador Tasso Jereissati (CE), uma liderança histórica do partido. O parlamentar evita comentar essa possibilidade, mas já declarou que apoia o diálogo com o atual pré-candidato, no sentido de oferecer a ele uma saída honrosa. (VD)